domingo, 16 de dezembro de 2012

Transcorrer

Transcorrer
 
1998. 1999. 2000. 2001. 2002. Preocupações. Fugacidade. Momentos. Eternidade. Pequenos. Gigantes. Grandes. Pigmeus. Gravidade. Não. Leviandade. Sim. Hoje. Sempre. Amanhã. Tudo. Ontem. Nada. Horizonte. Universo. Retrovisor. Vácuo. Passeio. Mãe. Estrada. Pai. Natal. Magia. Televisão. Fantasia. Sonhos. Calor. Pesadelos. Frio. Dormir. Pior. Acordar. Melhor. Escuro. Temor. Luz. Amor. Perspectivas. Ela. Mãos. Expectativas. Eu. Dadas. Inocência. Perfeição. Consciência. Ilusão. Rebeldia. Mil. Consequências. Zero. Escola. (Lentidão.) Adrenalina. Férias. (Lentidão.) Descoberta. Verão. Estrelas. Noite. Olhos. Fascínio. Inverno. Neve. Dia. Corpo. Arrepios. Fé. (11.) Sentimento. (Agosto.) Ciência. (1999.) Intuição. (Eclipse.)

Fazer. (12.) Cama. (Julho.) Infância. (2003.) Morte. (Cinema.) Inevitável. Medo. Vida. Evitável. Medo. Paranóia. Fogo. Mudança. Água.

2004, 2005, 2006. Os muitos. Pontos finais começam. A ser poucos para. Tantas vírgulas escondidas na transição. Entre a poesia e a prosa. Destas portas decrescentes em que encerram existências.

Cedo (2007.) és (Céu.) um (2008.) teleférico (Inferno.) que deambula entre os dois extremos do purgatório (2009.) de estar vivo. Cada Setembro adolescente é um relógio de areia que separa (2010.) o (2011.) querer infinito (Sepultura.) do ser finito. (Aventura.)

19 anos de período orbital, círculo completo. Paredes apertadas, anos de ouro definidos. Um motivo, retraçar o sublime. Invadir cabines telefónicas à. Procura da voz. Que não. Ouvi. (2012.)

Viagem. Retrospectiva. Isto. Mente. Introspectiva. Isto. Constância.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Memento Mori

Memento Mori

É me o ar agreste neste travesseiro de varas moles. Sim, sei.
Fustiga-me o rosto, há navalhas mais suaves. Sei, sim.
Gélidas palavras para um EGO colossal!
Salva-se o lençol, as polainas, e este encosto.
Tudo quanto talvez tenha… e quero.
Ao termo o horizonte. Grite-se?
Estas espigas ressequidas, já as vi e conheci.
Quão tenebroso era esse meu olhar de outrora. Essa fera.
É preciso vontade para sentir saudade.
Vagueia (Corria!)… Descansa na memória de outros tempos.
Sobre mim, o céu. Sonhe-se? Essa tela de projecções? Só.
Só actos humanos imperecíveis.
Hoje esverdeia-se como um prado.
Réstias de azul. E verde? Um pouco por todo o lado.
Alguém consente e espera mais dessas vontades risíveis.
“A doce esperança que lhe acalenta o coração acompanha-o,
Qual ama da velhice – a esperança que governa,
Mais que tudo, os espíritos vacilantes dos mortais.”
Esta é já a única que ainda flui por estes campos.
Mas que outras? Porque o querer quando se tem casa?
Fontes de ódios e angústias vãs.
Sois ingénuos crentes no sentir e na bonança.
Este céu é vosso e não mais meu.


Floresta, bem-vindo abismo velado que toco em folhagens de sensação!
Corrente aberta em que cavo para mim os mundos que não inspiro!
Cada passo ruma ao exterior das rotineiras paredes brancas da função.
Fujo o regresso para os caminhos da aura em que vem e vai nosso retiro
E nas entrelinhas, o sonho bagageiro em coma na citadina monotonia
A consumir a inércia do banco traseiro a que me entrego em conformismo!


Os horizontes, ainda não avistados, oxigénio que me asfixia a agonia!
Vontade! O éter a correr-me nos pulsos expirantes de estoicismo!
Mil folhas por cair para um dobro por subir! O ar a vencer ao debaixo do mar!
Acelero para a respiração que quero capturar, instantes palpitantes no visor!
Sou o êxtase explosivo de ter o rasto mais curto que um terço da perna!
É a metade maior em que vou conhecer a que me liberta de qualquer dor!
Sou a natureza a milhões de ponteiros do cataclismo de não ser eterna!


O que em mim ainda é jovem és já só tu, memória triste.
Reavivas outros tempos num só acto de indisciplina.
Enfeitas e projectas sem que te peça ou queira.
Percebo agora que foste a única que não tratei.
Foste aquela que jamais ousei sonhar! Como te haveria eu de sonhar?
Sempre te tive e com esse engenho.
Agora, és a fonte do meu conforto. Só minha. Um presente para este EGO.
Resguardo-me em ti, nesse fluir de divinos pictogramas.
És o meu Deus nesta terra de enganos.
És me o recoste, o coberto, o calçado.
Podia bem morrer agora… Morreria feliz.


E tropeço! Desabo na megalomania de ser eu o significado absoluto!
Observo no rio o fluxo do tempo de volta à montanha-mãe.
Em dois globos de emoção, a primeira árvore a desvanecer-se em luto,
Segundos analépticos de fotografias a descer a virgindade dos ramos.
Ah, tanto sentido nas penas tombadas que me trazem de novo à Terra…
A pele macia de ascendentes desmaiada na retaguarda destes anos…
E eu, já desguarnecido do cristalino sentimento de nem pensar em tal guerra…


Ferido mas vivo, remoto mas menos, apaixonado mas mais…
Uma lágrima para semear outra torre verde de proléptica melancolia.
Ergo nela e com ela as recordações inconscientes que verei no meu cais.
Vencibilidade, aceito. Neste bosque ouvirei mais espantos imortais de melodia.
Este simples reconhecimento, logo fruindo, daguerreótipo crescente.
Num relógio decrescente, a consolação matutina de idear por um melhor dia
E a autoproclamada autodestruição de ter esperança em ser descrente.


Mais do que a morte, relembra no que te tornarás.
Relembra o erro que é querer.


Para assim esquecer e à beira do termo ser teu não ser?
À fantasia brado, cama de óbito que me chamas à tua hora!


Mas quem te julgas, con-de-na-do?
Este vento que me arrefece é mais sábio que o teu ardor.


Madrugada dos teus versos, um sismo na pedra que te fixaste!
O escudo e espada atracados na adrenalina dos meus actos!


Ilusões de cego!
Prepotência de EGO!
Lunatismo do destino!
Poço de desejo luciferino!
Vereda sem futuro!
Trapo imaturo!


Aprende, meu jovem, o fatalismo do rumo.
ARDE, premonição reduzida a cinza e fumo!


(O suspiro do derrotado é grito de guerra para quem vence.
Mas como se vence quando o inimigo somos nós?
Quando o pergaminho destruído é a nossa construção?
Como se arquitecta um porvir soterrado em carpe diem?
Nunca mais, memórias! De ontem, hoje ou amanhã… Liberdade!)


(Fran Silveira e João Fazendeiro)

domingo, 28 de outubro de 2012

Rosa Em Azul

Rosa Em Azul

Meus olhos, bem fora das linhas do meu corpo
Eles sentem na íris o meu invisível sangue claro,
A frágil e doce verdade que repousa no colo do meu escopo,
A ferida bela que derrama nos escombros do oceano,
E o que todos vêem é o ego camuflado no vidro do meu copo,
A ilusória aparência transparente do céu em primeiro plano.


Amanheço e estou azul, sempre nunca o sendo.
Só respiro a fatídica distorção de não me ter em mim,
A dissonância de ser o pôr-do-sol num meio-dia de Verão
E por isso bebo o esquecer do vinho do qual estou a fim
Na esperança de adormecer silhueta simétrica da minha emoção.


Tão longe de estar perto por estar tão próximo da tua distância
É suficiente um ténue toque para saber onde jaz a minha rosa raiz.
Trespassas-me, serena flor de pigmento vivo que me traça em ânsia
E desespero na esfera da espera da tela em que circula o teu verniz
Enquanto flamejo o bafo gélido do engano divino de nascer discordância.


Recordar uma lenda, o desencontro fatal de um lobo e de um falcão,
A aliança do dia e da noite separada por género e tom de prosa.
Como em mim, o amor entre a física e a química num só alçapão,
No escuro difuso, os “meus” dedos azuis mergulhados num coração rosa,
Sobreposto a um eclipse, o impressionismo a despir-me de Platão.


E se somos duas marionetas de paradigmas que nós próprios criámos
Deixem-me ainda assim despertar na máscara da minha natureza.
Entrelaçados, o vermelho nos lençóis brancos em que nos fundámos,
Unhas da mesma árvore, glaciares ardentes num trecho mútuo de subtileza,
Não mais opostos iguais, um espelho recíproco da tez em que nos casámos.


Talvez seja uma planta de muitas lágrimas numa carne de poucas palavras,
A sensibilidade sublime que na física mente a química que deveras sente,
Ou o mero fingimento de um papel que à realidade congelada entreguei.
Vem, dilúculo supremo e faz perecer a heterocromia com que encaro o meu poente.
E no poslúdio, como musa, entrelaço os suaves fios de novelo em que me viciei
Até que vejo, sob o labirinto dos meus longos cabelos, um lago narcisista de outra cor.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Lanterna De Papel

Lanterna De Papel

Um dia morre o lento contar dos dias 
Tão rápido que é o ver passar dos anos,
Substituídos por uma nostalgia em pressa.
Pernas velozes que romantizam danos
Cujos de um rigor mortis eu fazia promessa.

O ar do costume torna-se estático demais para respirar
E os fósforos sem fôlego gastos demais para iluminar.
Permanece a luz ao fundo da noite, o passado ao cair da estrada,
Pois um lugar só dura o tempo que no vazio fazes procriar,
Até que a neve escale para cima da tinta e apague qualquer morada.

Juras, que o cenário muda e, com ele, a volúpia de conduzir para trás.
Devotado, crias, inconsciente, uma avenida de mosaicos de antologia.
Claquete, outra vez, paisagem diferente para servir um igual pathos.
Ah, minha válvula de escape de procrastinar o cumprir da cronologia!
Perco-me, eu, marasmo por não deglutir o estigma dos meus actos.
Sou um vaivém que hesita em vir e reverte a ordem da escadaria!

Na sobrelotada cidade do raciocínio, um puxar de cordas no hall de entrada.
Aí, dilema eterno: o vácuo de hoje versus o vácuo de ontem,
Porque o melhor simultâneo dos dois mundos é utopia nublada
E amar-te agora é odiar-te quando eras outro farol.
Então, (declamo que) arrisco, desistir de habitar esta terra de desperdício
E trepo heras até uma torre de marfim hóspede de um bifurcante Sol.
No cume, anseio, eu, arranha-céus que filtra estações e o errante solstício.

Um dia adiar o véu do que já foi é uma ampulheta de areia fixa
E sabes, que somente uma avalanche de desejo dinamita casas antigas
E que a paixão por Junho em Setembro é saída de emergência,
É uma Via Láctea que observas de telescópio estando parte dela em ti,
Um único planeta habitável, de nome Presente, só pedindo convivência.
Acorda alarme! Oscula os segundos no homónimo de estar aqui!

Um dia a distância não o é e sobes para lá de um edifício ambulante.
Tu, o teu próprio lar, nas tuas mãos mais que um abrir e fechar de portas.
És a vela fonte de vida e pronto-socorro do teu peito lanterna de papel!
O feixe luminoso que trava a força de atrito que fatalmente transportas.
Tu, câmara escura que aprisiona o retrovisor nas masmorras tétricas de um túnel,
Na tua batida, a harmonia de apagar incêndios, mantendo o arder da chama
E de travar inundações, garantindo o fluir do rio, tu, dínamo que gere o drama!
Descansa, conformismo, são paredes imaginárias que não destronam o teu anel...

Ouvi dizer, início do capítulo de uma geração e eu a brincar com rastos,
Um milhão de coisas e atributos para ser e, por penitência, tabula rasa!
Mas ficas, omnipotente ritual antagonista de escapismo a que dou claridade!
E ainda que pêndulo e contraditório, sei, as verdades que o instante traz na asa:
-Das mesmas perguntas, mesmas respostas, mesma identidade, mesma realidade;
-Um comboio levar-me-á ao local onde estou, se não alterar o meu curso primeiro;
-Em mim, uma síndrome de Peter Pan reside, um querer ter à inocência imortalidade;
-Em breve, ou o rapaz que abandona as origens ou o idoso que regressa, não inteiro...

“Um dia” é este e cinco dedos de doze meses o anúncio de um jogo irreversível.
Novos amigos, já velhos desconhecidos que permanecem em efeito phi!
Empatias a prazo que persistem no ruído do ruir dos antros da retina!
Fortalezas de outros reinos que fecham os portões do que com elas vivi!
E é o meu turno de escrever em giz preto num quadro negro tudo o que termina.
Escrever, só para acender em despedida o candeeiro de tudo o que jamais esqueci...

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Escolhas, escolhas, escolhas...

Há uns tempos dei por mim a pensar que estamos condenados a fazer escolhas. Uma bênção para alguns, um autêntico pesadelo para outros (eu). Pensava deixar tudo nas mãos da sorte, num mero jogo de cara ou coroa. Entretanto apercebi-me que já estava a fazer uma escolha, não só ao entregar o futuro à sorte, mas também ao associar diferentes resultados às duas faces da moeda. Mesmo que aprofundasse o jogo, iniciando a estupidez por um outro que decidisse a associação dos resultados A ou B para cara ou coroa, teria de escolher. Entrava numa interminável espiral de decisões. E no fim, no princípio, no meio, escolhia. Escolhia sempre. Escolhia as escolhas. Escolhia as escolhas que levavam a outras escolhas. Então, descartei totalmente essa hipótese e DECIDI-ME por uma outra: ir pelo risco, não seguir atalhos, ir pelo caminho mais difícil. Não é isso que nos ensinam mil e um contos que nos lêem / lemos quando somos crianças?
 

sábado, 9 de junho de 2012

Adeus, Tempos De Escola



Que semana mais estranha, em particular o último dia... É tão difícil expressar a balbúrdia de emoções que anda a deambular dentro de mim. Custa a acreditar que 13 anos de escola já são somente passado, mais ainda como voaram os últimos três e o que implicaram. Estou incrivelmente nostálgico, avassaladoramente vulnerável a nível emocional. Apetece-me chorar um oceano (de agradecimento, não de tristeza) e limitar-me a sentir este estado que nem compreendo, sem ter que pensar, como uma simples criança. Nada é mais belo que sentir, só sentir, ser o alvo mais fácil e ter o caos do universo no coração.


Engraçado como tudo começa num infinito de possibilidades e termina num capítulo fechado e irreversível. Os sonhos morrem, são adiados ou substituídos. Fica a saudade de os ter, a memória de tanto os querer... Mas tudo fica bem quando rolam os créditos finais. Acabamos por aceitar o que foi e esquecer o que nunca foi. Apenas a intermitência mental da realidade "se" causa alguma dor... 


Há três anos, estava no fundo, num estado miserável, perdido no tempo, no espaço e nos constantes sismos do meu ego de cristal. Viciado num hábito de auto-destruição, num estado inconsciente de convidar a depressão. O percurso foi sinuoso, com muitos passos em falso. Agora, estou melhor que nunca. Tudo feito e dito e concretizei aquilo que para mim é o propósito global do secundário: descobri-me! É apropriado o facto de só depois de chegar a essa meta, no 3º período do 12º ano, perceber que era esse o derradeiro sentido e que muito do resto era acessório... Hoje, sei quem sou, sei o que pretendo e o que não pretendo. Finalmente, sou "EU" e no futuro serei bem mais, cada vez melhor, acredito. Dos 16 aos 18, a minha personagem teve um desenvolvimento incrível. Nos dias que correm, encaixo nela e é simples interpretar a sua complexidade.


Em retrospectiva, estou grato acima de tudo. Grato pelo que vivi, com quem vivi, pelos momentos sérios, pelos momento estúpidos, pelos amigos que fiz (escassos, mas amigos na verdadeira acepção do termo), pelos meros conhecidos (que persistindo a lógica do meu passado, nada serão no meu futuro - salvo algumas excepções), pelos professores marcantes... Não consigo sequer dar relevância ao negativo. Felizmente, esmorece na força envolvente do positivo.


O que detesto é ter de dizer adeus. Não suporto despedidas e o seu carácter repentino! Gostava de poder seguir em frente sem deixar nada, ninguém para trás. Sim, carregamos as recordações, mas elas têm sempre um sabor doce amargo, uma eterna dualidade: a felicidade de as ter vivido num gládio incessante com a melancolia de não as poder viver outra vez. A saudade é o sentimento que coroa a palavra "frustração". Não há nada pior que perder pessoas importantes para qualquer uma das três grandes distâncias do cosmos: temporal, espacial e dimensional.


E no fim, o cliché é sempre o mesmo, é sempre o único que está condenado a fazer sentido: "A vida continua..." E a saudade também, corrijo eu... Mais ainda quando a nostalgia lhe concede o seu poder ilusório. Aí, vem a saudade do que nunca vivemos, das pessoas que nunca conhecemos, dos sentimentos que nunca sentimos...