quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Lanterna De Papel

Lanterna De Papel

Um dia morre o lento contar dos dias 
Tão rápido que é o ver passar dos anos,
Substituídos por uma nostalgia em pressa.
Pernas velozes que romantizam danos
Cujos de um rigor mortis eu fazia promessa.

O ar do costume torna-se estático demais para respirar
E os fósforos sem fôlego gastos demais para iluminar.
Permanece a luz ao fundo da noite, o passado ao cair da estrada,
Pois um lugar só dura o tempo que no vazio fazes procriar,
Até que a neve escale para cima da tinta e apague qualquer morada.

Juras, que o cenário muda e, com ele, a volúpia de conduzir para trás.
Devotado, crias, inconsciente, uma avenida de mosaicos de antologia.
Claquete, outra vez, paisagem diferente para servir um igual pathos.
Ah, minha válvula de escape de procrastinar o cumprir da cronologia!
Perco-me, eu, marasmo por não deglutir o estigma dos meus actos.
Sou um vaivém que hesita em vir e reverte a ordem da escadaria!

Na sobrelotada cidade do raciocínio, um puxar de cordas no hall de entrada.
Aí, dilema eterno: o vácuo de hoje versus o vácuo de ontem,
Porque o melhor simultâneo dos dois mundos é utopia nublada
E amar-te agora é odiar-te quando eras outro farol.
Então, (declamo que) arrisco, desistir de habitar esta terra de desperdício
E trepo heras até uma torre de marfim hóspede de um bifurcante Sol.
No cume, anseio, eu, arranha-céus que filtra estações e o errante solstício.

Um dia adiar o véu do que já foi é uma ampulheta de areia fixa
E sabes, que somente uma avalanche de desejo dinamita casas antigas
E que a paixão por Junho em Setembro é saída de emergência,
É uma Via Láctea que observas de telescópio estando parte dela em ti,
Um único planeta habitável, de nome Presente, só pedindo convivência.
Acorda alarme! Oscula os segundos no homónimo de estar aqui!

Um dia a distância não o é e sobes para lá de um edifício ambulante.
Tu, o teu próprio lar, nas tuas mãos mais que um abrir e fechar de portas.
És a vela fonte de vida e pronto-socorro do teu peito lanterna de papel!
O feixe luminoso que trava a força de atrito que fatalmente transportas.
Tu, câmara escura que aprisiona o retrovisor nas masmorras tétricas de um túnel,
Na tua batida, a harmonia de apagar incêndios, mantendo o arder da chama
E de travar inundações, garantindo o fluir do rio, tu, dínamo que gere o drama!
Descansa, conformismo, são paredes imaginárias que não destronam o teu anel...

Ouvi dizer, início do capítulo de uma geração e eu a brincar com rastos,
Um milhão de coisas e atributos para ser e, por penitência, tabula rasa!
Mas ficas, omnipotente ritual antagonista de escapismo a que dou claridade!
E ainda que pêndulo e contraditório, sei, as verdades que o instante traz na asa:
-Das mesmas perguntas, mesmas respostas, mesma identidade, mesma realidade;
-Um comboio levar-me-á ao local onde estou, se não alterar o meu curso primeiro;
-Em mim, uma síndrome de Peter Pan reside, um querer ter à inocência imortalidade;
-Em breve, ou o rapaz que abandona as origens ou o idoso que regressa, não inteiro...

“Um dia” é este e cinco dedos de doze meses o anúncio de um jogo irreversível.
Novos amigos, já velhos desconhecidos que permanecem em efeito phi!
Empatias a prazo que persistem no ruído do ruir dos antros da retina!
Fortalezas de outros reinos que fecham os portões do que com elas vivi!
E é o meu turno de escrever em giz preto num quadro negro tudo o que termina.
Escrever, só para acender em despedida o candeeiro de tudo o que jamais esqueci...