domingo, 12 de outubro de 2014

Festival Egocêntrico #5

De volta ao tipo de posts (agora com o título ideal) que está na razão de ser deste blog, aos recortes diários que me são quintessenciais. De volta porque recuperei nos últimos dias uma parte do "eu" ausente nos últimos meses: o querer. Um querer vítima do micro-atentado de 8 de Fevereiro de 2014, igualmente desconhecido como "Obrigado por teres sido o meu ego-vibrador em stand-by. Adeusinho.". A minha recém reencontrada motivação (rezo para que não fugaz) leva-me a revisitar aspectos a pender para o positivo de mais um monótono Verão há pouco findado. Mas, sobretudo, catapulta-me para expectativas de ser catapultado para cima da superfície do lago, para fora da cela em pedra de só viver por dentro. Sou, neste preciso instante, mais Narciso do que Sísifo. E, ainda que seja, como sempre, a frágil auto-imagem fundada no que julgo x, y ou z me julgarem, é bom recuperar vontade de mim - nos outros e no mundo. Pontos e interlúdios, aqui vou eu...

Interlúdio Z: Filmaço de David Fincher! Oops, pleonasmo. Belo jogo de ping pong entre a misoginia e a misandria. No fim ganha a fachada de inexistência das duas...



1. A primeira semana de aulas foi excruciante. Acabei o ano lectivo transacto completamente exausto do contexto em que estava, da presença de pessoas que só conseguia associar a mágoa, repulsa e às minha omnipresentes sensações de invisibilidade e inutilidade.  Eram um espelho do quão patético me sentia, mesmo que só uma delas - Miss Sinceridade - carregasse verdadeira responsabilidade... Tive de me atirar de cabeça para aquilo de que fugira a sete pés. Orgulho mais que ferido: trucidado. Cada dia uma fotografia presa na retina, cada entrada nos corredores da faculdade vexado em efeito phi. Na segunda semana pouco melhor estive, depois, com o auxílio de "potenciais cenas giras", a passadeira hedónica começou a impor-se. Neste momento, a imagem é mais vaga e o rancor adjacente suportável.

Interlúdio Y: Do que falo quando falo de uma coisa que me fez parte da coisa que sou hoje (a.k.a. obra-prima das obras-primas)...















"No dia 22 de Setembro de 2004 estreava na ABC um dos maiores fenómenos televisivos do novo milénio. O piloto de Lost era emitido com a distinção de ser o mais caro de sempre, um projecto arriscado do ponto de vista financeiro que tentava transpor Cast Away do cinema para o pequeno ecrã e "ordenhar" a premissa do bem-sucedido reality show Survivor. Contra as expectativas dos próprios criadores, Lost arrasou nas audiências e a crítica, unânime, estendeu a passadeira vermelha à sua temporada de estreia." (Artigo completo no Espalha-Factos.)

2. Quanto ao motivo externo que me ressuscitou a vontade... Bem, basta dizer que é um ser humano. Para já, é "engraçado" que o princípio (se é que há algum) tenha sido tão cinematográfico, tão próximo de um embate aleatório (múltiplos, aliás). A minha atitude perante o assunto tem passado do defensivo para o reactivo (quiçá entretanto passe para uma iniciativa tímida)... Estou a e vou agir com uma sobredose de prudência; não quero que se voltem a alimentar do meu ego para reforçarem o deles. Óbvio que começo a sentir borboletas pela pessoa em causa (ou não estaria a escrever este ponto 2), porém o que aconteceu há 8 meses marcou-me...

Tenho total noção que há pessoas sem princípios morais. Sei que elas existem, mas crio-lhes uma espécie de barreira mental. Do mesmo modo que não esperamos vir a padecer de certas doenças graves (pensamos que a nós não nos acontecem), eu parto muitas vezes da ideia ingénua que todos aqueles com que lido no dia-a-dia têm esses tais princípios. Ou partia. Agora, acho, estou um pouco no extremo oposto - ambos são maus. Em relações pessoais, a desonestidade é a minha mágoa suprema. Ser alvo de mentiras deixa-me estilhaçado, a precisar de um longo período para me recompor e voltar a tentar ser humano.

É bom (muito) que me tenha deslocado para outra pessoa, não pensei que pudesse ocorrer tão cedo. Talvez esta seja a minha chance de voltar a ser importante para alguém, talvez este lugar e estes anos possam ser mais que um rotundo zero... Desta vez, há atitudes e sinais físicos iniciados no interlocutor; eu apenas reagi. É uma situação diferente.

Mas não vale a pena detalhar. Para já, o receio de que não seja nada está na dianteira. O receio que daqui a uns dias tudo o que acabo de escrever seja patético. O receio que se quebre a expectativa. O receio que no horizonte volte a ver só o costume: a mim comigo. E depois lá direi para o meu interior, em palavras aos sentimentos falsas, "Que se lixe, a vida continua.", quando tudo o que continua é a minha derrotista ânsia de viver uma...

Interlúdio X: A menos que Sonic Highways dos Foo Fighters me toque profundamente, está, creio, encontrado o meu álbum do ano. Lift A Sail não é nem vai ser o meu preferido de Yellowcard, mas respeito imenso que tenham saído da sua zona de conforto. Distantes do habitual e veloz pop punk, próximos do rock alternativo da década de 90. Som massivo e infusão perfeita de floreios electrónicos; um álbum diverso e sinérgico. Destaques: "Fragile And Dear", "Illuminate" e "Lift A Sail".

  

3. Considerações sobre o Verão e os meus primeiros dois anos de licenciatura:

-Neste período estival, aprofundei-me numa organização pessoal que já vem do início de 2013. Sou um perfeccionista - a pender para a obsessão compulsiva - em termos de organização. "Limpei" o meu quarto e tenho feito o mesmo com os meus ficheiros digitais. O objectivo é concentrar, simetricamente, por tipo e sem falhas, todos os objectos que me interessam e separá-los de todos os que não me interessam, distinguir o que pretendo perene daquilo que pretendo efémero. Este processo "mói-me" o cérebro, está longe de estar concluído na parte digital e é importunado por procrastinação hardcore. Todavia é uma fantasia de controlo, uma de possível realização. Ao cumprir parte dela, fico *inserir percentagem abaixo dos 1%* mais realizado.
 
-Os últimos dois anos foram ruinosos a nível social, mas sei que ter ido para longe de casa foi a melhor decisão, não só pelo curso. Estou progressivamente mais solto, comecei a desenrascar-me com algumas burocracias e sou bem mais empático, consciente, tolerante e aberto do que era em Setembro de 2012. Tivesse permanecido em casa, na Beira Inferior (sim, com "f"), e este crescimento seria nuns aspectos nenhum e noutros demasiado lento. Ainda há vários pontos cegos por corrigir, espero corrigi-los antes de terminar de vez os estudos...

Interlúdio W: Tiravas-me as palavras da boca. Se eu falasse, claro está...
 

"I'm just a face without a choice
I trust you'd never like to guess
What I think above the shoulders
10 years old without a voice
I feel like nothing's really changed
Now I'm just a little older"


  

4. Considerações sobre a etapa final da licenciatura e o futuro:

-Estou especialmente apreensivo face a este terceiro e último ano de licenciatura. O regulamento de avaliação mudou e vou ter de fazer várias apresentações orais. Como a minha ansiedade social dispara nesse contexto, necessitarei de me esquivar com exposições assentes na leitura e esperar que nenhum professor indique, estupidamente, que não posso ler. Junte-se a isso uma carrada de trabalhos escritos. São tantos que não dá vontade de fazer nenhum. Sinto que não posso dar o meu melhor quando tenho de me focar em muitas coisas em simultâneo. É uma das tais coisas que me queima o cérebro. Com tudo isto, manter a média vai ser... Ugh... Pensar no assunto dá-me náuseas mentais... Se baixar um valor fico insatisfeito, mais do que isso ficarei fodido comigo mesmo. No ano em que tenho as melhores disciplinas, tinha de haver algo para estragar tudo. É que se, como é provável, estes três anos culminarem como um deserto de vivências, só uma classificação académica excelente pode atenuar essa ultra frustração.

-Incerteza imensa quanto ao mestrado a escolher. A ser no meu curso seria para me especializar em cinema, contudo parece-me que o plano curricular é desinteressante e oferece pouco de novo; a ideia que sempre tive, a do Jornalismo, causa-me hoje em dia alguma repulsa porque predomina um tipo circunstancial, de eventos, de lógica quase só comercial em que os pensamentos luminosos, a qualidade e o espírito crítico são secundários; de resto não encontro nada que faça o mínimo de sentido para o meu futuro profissional. Se optar por Jornalismo, também não sei onde... Coimbra ou Covilhã, suponho.

Interlúdio V: Se me perguntassem o que mais desejava que pudesse suceder em termos de séries televisivas ou a minha maior mágoa quanto a projectos cancelados no meio, responderia sempre que queria mais de Twin Peaks (criminoso ter terminado num auge que fazia antever outros auges). Adicionaria que não contava com isso.

Entretanto... Boom! 9 episódios novos anunciados para 2016 - obrigatório sobreviver até lá! David Lynch não é só um génio, é também o meu génio preferido em toda a humanidade. Aos pulos e com um par de lágrimas, logo que soube! :'D


5.1. Sobre desporto... Este Verão voltei a jogar "futebol" (futsal) "a não brincar" com regularidade. Claro que em torneios da treta, sem a motivação que uma competição federada acarretava quando eu estava bom da cabeça, mas o saldo foi surpreendentemente positivo. Estive mais vezes bem do que mal, senti-me reabilitado, consegui destacar-me. Muitos golos e provei a mim mesmo que consigo estar em óptima condição física nuns dois meses. Infelizmente com o retomar das aulas volto a perder andamento - correr não basta, estar em campo requer movimentos diversos, outra coordenação motora, etc.; aqui só tenho hipóteses de jogar uma vez por semana e num ritmo baixo.

No fundo, o que sabe melhor é ser importante para algo maior, para um colectivo. Com as minhas idiossincrasias mentais, só me é possível sê-lo se me derem protagonismo, se for dos que têm mais capacidades na minha equipa, se gostar de jogar com quem estou a jogar, se for sempre apoiado (mete-me nojo existirem pessoas que criticam colegas em campo por razões outras que individualismo ou indisciplina) e se não me fizerem sentar o cu no banco quase todo o tempo no caso do futsal... Tive tudo a meu favor este Verão, foi porreiro. Nunca mais me comprometo com ninguém não existindo esses pré-requisitos. Já aprendi a lição, a sua ausência aniquila-me a auto-estima.

De qualquer maneira, constato um vazio sem futebol a sério. Gostava de nunca ter deixado de jogar, mas, e para além de condicionantes pessoais/profissionais, a transição das camadas jovens para os seniores é complicada. Passa-se para um futebol de contacto físico, sem espaço (não sei jogar sem espaço), sufocante... Há quem não se adapte, como eu. Mais do que isso, não tinha/não tenho/não vou ter capacidades para ser titular só por me aplicar nos treinos. Visto que um campeonato distrital corresponde ao nível mais baixo, é difícil ter vontade de lutar por um lugar num onze inicial (acrescente-se que já perdi três épocas de provável evolução, algo irrecuperável). Pelo menos a minha perspectiva é esta: "Se os meus atributos não chegam para uma divisão distrital, ando a dedicar tempo à actividade errada". É pena (para mim), mas é assim a vida.

Interlúdio U: Um hino à adolescência, ao drama inerente. Gostava de viver no universo desta canção, na angústia acolhedora transmitida. A ambiência capturada por bandas pop rock dos anos 90 como os Third Eye Blind e os Gin Blossoms derrete-me os sentidos. Nostalgicamente apaixonado. <3



5.2. Noutro plano, há duas semanas, participei pela primeira vez numa maratona, mais precisamente na 1ª mini maratona de Coimbra. Terminei num modesto 65º lugar (acabaram a prova cerca de 400 pessoas). Procurava fazer os 10km em menos de 50 minutos e pelo menos isso cumpri: 46m e 47s. Com fôlego para menos uns 30 segundos/1 minuto, mas a gerir por pensar que teria uma subida longa no final (afinal não tinha)... Foi a terceira vez que corri semelhante distância e a primeira sem o "luxo" de quebras de ritmo a meio para recuperar. Fiquei minimamente satisfeito e, sobretudo, foi uma experiência agradável. Espero vir a participar noutras do género - acho que, com preparação, posso rondar os 45 minutos... Desde que iniciei o ensino superior, correr passou de actividade desportiva complementar/secundária (ao futebol) a principal. O que antes fazia somente para manter a forma, hoje faço também por prazer, pela libertação de stress, pelo "runner's high"...

Poslúdio: Nos últimos tempos dei por mim a pensar que a minha existência (e mais umas quantas) é definida pela frase/expressão mais ouvida e irritante do 5º ano de escolaridade: "A Reconquista foi um processo de avanços e recuos". :/