sábado, 21 de dezembro de 2013

Álbuns De 2013: Top 20 De Favoritos























1. The 1975 - The 1975
2. Jimmy Eat World - Damage
3. The National - Trouble Will Find Me
4. Paramore - Paramore
5. Arcade Fire - Reflektor
6. The Wonder Years - The Greatest Generation
7. Phoenix - Bankrupt!
8. Kanye West - Yeezus
9. Vampire Weekend - Modern Vampires Of The City
10. AFI - Burials
11. Tegan And Sara - Heartthrob
12. Daft Punk - Random Access Memories
13. Chvrches - The Bones Of What You Believe
14. Moving Mountains - Moving Mountains
15. Alkaline Trio - My Shame Is True
16. My Bloody Valentine - m b v
17. Haim - Days Are Gone
18. Sky Ferreira - Night Time, My Time
19. Fall Out Boy - Save Rock And Roll
20. John Mayer - Paradise Valley

domingo, 1 de dezembro de 2013

Sob O Efeito De Nada

Quando se criam circunstâncias exteriores (sou um fantoche delas, tenho somente a liberdade de as hiperbolizar - e como a vontade se lhe apega após uns tempos em que a sua existência foi de todo a sua ausência...) para eu me sentir melhor, também a sombra delas se aproxima proporcionalmente de mim...

Este semestre estou mais rotinado e menos distante de uma ou outra margem. Já é norma uma ascendência psicológica no meu segundo ano com um determinado grupo de pessoas: 9º > 8º; 11º > 10º. É o que demoro a ser o que os outros são logo num par de meses... Ao mesmo tempo, essas melhorias ligeiras que eu não tomo nunca como fim, mas como um meio para algo maior, um período feliz constante, são sempre anticlimáticas. É como se os meus desejos apagassem as velas e pedissem a falta deles. Nos restos, há só ânsias goradas de um clímax existencial.

Quando - à falta de termo à altura em português - a infatuation entra em jogo (julgava-me já imune), não posso não pensar que tudo se tornou um estúpido círculo vicioso.

Sei bem a razão: a plena falta dela. De existir... Causa o irracional mais lógico... E então olá anagnose. Cada passo maldito, bendito faço (cada dia é tão escasso)... Hey, dor de cabeça! Hey, obsessivo conflito interno como um esterno! Hey, potencial razão de existir!

Mas por fim, de novo, sem escuro idealista (estou cego pela essência da luz que vejo). Que morra essa merda!!! Desta vez o objecto sou eu, só eu, da falta...

Iniciar processo de inferiorização a tudo aquilo de que não sou nada digno, iniciar processo de divinização do nada que é tudo! Hiperbolizar auto-destruição pelo irracional tomado racional em cada sinal... Teu sinal meu. Raios, na mesma a objectificar!

De qualquer modo, honestamente, o rés-do-chão é o verdadeiro subterrâneo. Prefiro forçar o gume possível: tristeza. Prefiro um futuro em que o presente me habita vivo. Porque cada vidro que me corte hoje é uma tela de cinema amanhã... 

sábado, 30 de novembro de 2013

10º Aniversário Do Álbum Que Mudou A Minha Vida

Uns fragmentos (com muita contextualização, pouco cuidados, não muito bem escritos) para comemorar o 10º aniversário do álbum homónimo dos blink-182, a obra de arte mais importante da minha existência...




















2006, os primeiros meses do meu 8º ano. Iniciava-se a minha adolescência, começava a entrar nos meandros mais pessoais da internet através do chungoso Hi5 e do saudoso MSN. Até esse ponto, a arte não figurava nos meus interesses, não estava sequer na minha esfera, era um mundo distante. No caso específico da música, podia ter um ouvido mais predisposto ao rock mainstream da viragem do milénio (nu metal) - Linkin Park, Korn, Papa Roach, etc - por influência do meu irmão mais velho (já que o que ele ouvia chegava a mim como se fosse um fumador passivo), mas era somente isso... Tudo superficial. Já conhecia um pouco dos blink-182 a partir desse fumo. Como eu engraçava com "The Rock Show" e o seu hilariante e metalinguístico teledisco enquanto criança...



É nesse contexto de miúdo a encarar o gigante chamado Internet (para lá de jogos ou sites de jornais desportivos) que começo a traçar um percurso de ouvinte musical (e o meu crescente domínio do inglês é um auxílio a relacionar-me com letra de músicas). Os blink assumem-se desde logo como o meu grupo preferido e para grande desgosto meu eram então uma banda inactiva... Os álbuns Enema Of The State (1999) e Take Off Your Pants And Jacket (2001), exemplos máximos da onda pop-punk estadunidense de 1999 a 2004 preenchiam os meus dias... Em retrospectiva, são trabalhos cuja minha apreciação decorre muito da nostalgia. Pelo âmbito reduzido, estando focados num lado mais superficial do que é ser adolescente em termos de letra e pela extrema simplicidade / convencionalidade sonora. 

blink-182 (2003) é diferente! Ainda que o álbum seja cada vez visto com melhores olhos e tomado como a magnum opus da banda pela crítica e pelos fãs, num espectro geral, infelizmente, não é a sua imagem de marca. A visão sobre os blink-182 é redutora, limitando-se ao humor de casa de banho, à imaturidade, à rebeldia... Esta obra cai no esquecimento como um membro estranho para os menos atentos, mais ainda num país periférico e insignificante no que diz respeito ao impacto dos blink (de Portugal, em sintonia, só tenho a cultura nos pés, o que é frustrante...). A minha opinião (longe de solitária) é que o 5º e auto-intitulado álbum de originais do trio justifica uma reavaliação dessa concepção.

Não é um Kid A, não é visionário, claro. Em relação à sua influência, talvez se possa ligar um pouco à ascendência comercial de uma vaga de artistas "emo-pop" como My Chemical Romance, Panic! At The Disco e Fall Out Boy  em meados dos anos 2000. Somente isso. 



Estranho que mesmo aos 13 considerasse este álbum o meu preferido da banda, muito menos que ao longo dos anos essa posição tenha sido reforçada. Em blink-182, Mark, Tom e Travis exploram o seu lado de fãs de The Cure (também eu sou) e o resultado é um álbum irrepreensível de rock alternativo. Soa ao que é, a uma banda de pop punk a desenvolver-se numa ambiência que mistura o post-punk / new wave dos anos 80 com o post-hardcore do princípio dos anos 90 (por exemplo Quicksand e Fugazi). No fim, há um álbum diverso, mas coesivo. Merecedor de um dos meus clichés preferidos em críticas musicais: é melhor que a soma das suas partes, cria um tom singular. Algo justificado por um processo de gravação minucioso, de experimentação, de laboratório musical. Sem dúvida que é um caso em que a audição por fones é preferível. Vários easter eggs e detalhes que tornam audições repetidas apetecíveis. 

"Feeling This" é o exemplo exímio do que a banda se tornou neste álbum. O uso de flanging adiciona textura, dimensão aquando da introdução com a bateria, esta percorre um percurso irregular (à falta de conhecimento teórico musical, fico-me por aí) e revela mais que nunca o talento e inventividade de Travis Barker, as influências de hip-hop na sonoridade dos blink. Na mesma canção, o potente final harmónico em que as vozes de Mark Hoppus e Tom Delonge "combatem" e que culmina em a cappella é influenciado por Pet Sounds dos The Beach Boys... Para além disso, é interessante o contraste dialogado entre os dois lados do sexo, o romântico e o sensual/concupiscente...

"I Miss You" é uma rara balada acústica - e uma das faixas mais a la The Cure no álbum - em que um detalhe como o piano monótono ao longo do primeiro verso aumenta e muito o poder expressivo. A letra é sombria em sintonia com a música, sendo de destacar o momento belo da referência a The Nightmare Before Christmas com "We can live Jack and Sally if we want (...) And we'll have Halloween on Christmas". De resto, um exemplo de "liricismo" mais metafórico e ornamentado do que era habitual nos blink pré-2003. Basicamente e desde sempre, a minha canção número um.

Em "Violence", o uso atmosférico de sintetizador na ponte  e as vocais faladas/sussurradas de Mark em pano de fundo sublinham o clima de obsessão que a personagem inscrita na canção sente por uma mulher num bar...



"Stockholm Syndrome" é precedido das palavras de saudade e ânsia de uma mulher a enunciar uma carta até explodir na canção mais agressiva da discografia dos blink (após uns segundos de estática)... A urgência, o desespero, a paranóia como temas. Nunca o contraste entre as vocais graves e macias de Mark e as vocais agudas, desesperadas de dor de Tom foi tão efectivo." You're cold with disappointment / While I'm drowning in the next room / The last contagious victim of this plague between us / I'm sick with apprehension / I'm crippled from exhaustion / And I dread the moment when you finally come to kill me..." Estes versos seriam impensáveis na fase pop-punk do grupo.

"Always" é uma ode à New Wave / New Romantic dos anos 80 com o uso proeminente de sintetizador. Mais uma vez destaque à voz de Mark em background, à dimensão que confere...

A transição de "Easy Target" para "All Of This" demonstra a vontade de unificar o álbum. O outro da primeira num ruído que se assemelha a uma qualquer transmissão alienígena transforma-se na frase musical de abertura, no staccato da segunda (há também uma aliança temática; em ambas encontramos a personagem Holly). "All Of This" conta com o próprio Robert Smith dos The Cure como vocalista principal. A percussão "pesada" numa melodia sorumbática aprofunda a angústia da canção.



"I'm Lost Without You" é uma faixa final ("Not Now" foi um bónus na versão UK do álbum) épica, com layers e mais layers. O primeiro minuto e meio com ambiências electrónicas é reminiscente de Pink Floyd ou Radiohead... O uso de um microfone rotativo faz com que a voz de Tom pareça surgir de debaixo de água, acentua a ambiência de transe e melancolia da canção. "Are you afraid of being alone / Cause I am, I'm lost without you / Are you afraid of leaving tonight / Cause I am, I'm lost without you" tornam-se palavras quase hipnóticas... Nos últimos 40 segundos Travis Barker viola a bateria num solo em ritmo reminiscente de marcha (há dois layers porém) e blink-182 fecha de um modo algo circular.

Articulando isso com a minha vida, acho que nunca me teria apaixonado com tamanha intensidade pelo mundo da arte sem este álbum. Foi ele que abriu as portas e, uma vez lá imerso, nunca mais me deixou sair. Ao mesmo tempo que expandia os meus horizontes musicais, era uma constante, a minha conexão com ele solidificava-se, pautando toda a minha adolescência. Por mais que seja fã de quase toda a discografia da banda, é por este trabalho que a vejo como eterna favorita. Se não me tivesse atingido, é dúbio que mais tarde entrasse no universo do cinema, das séries de TV, da literatura... Catalisador de tudo! Define-me, é um marco identitário. De modo distante foi ele que me levou a Lost e ao Lost In Translation (completam o meu pódio artístico, creio...), por exemplo...

blink-182 é um paraíso estético para mim. Dos telediscos, da capa do álbum até à música. A "catchiness" mantém-se como elemento nuclear do trio, a paisagem sonora é ampla como nunca foi. Não é um álbum só para adolescentes, mas sim algo até mais relacionável para alguém nos seus vinte (e poucos ou muitos, tanto faz). Uma ambiência urbana e moderna em que a paixão, a agressividade e a urgência dialogam com a melancolia, a angústia e a desilusão. Sem ele, eu seria outra coisa qualquer. Foi ele que me desobstruiu a sensibilidade artística, foi ele que me causou os primeiros arrepios... É um amigo e enquanto eu respirar e contar com a memória em pleno, esta obra vai sempre estar carimbada no meu interior. Sinto por ele o que gostava de poder sentir por pessoas, não fosse este mundo tão volátil para mim em relacionamentos interpessoais... Esteja deprimido ou eufórico, apaixonado ou alienado é a minha banda sonora, é um caleidoscópio e um amplificador nos sentidos!

sábado, 23 de novembro de 2013

(En)Canto Do Cisne Laranja


(En)Canto Do Cisne Laranja

Saída à francesa da dor doce de crescer
Tal como a vivi numa febre contida,
Um preto e branco a que falhei o exterior.
Deixa a Cinderela chegar a este bairro nenhum
E o gume que não amei nega-me em retrovisor.

Sou uma miúda trágica entre plátanos suburbanos
Com olhos a cortar cebola no arrebol secundário.
Algo digno, tudo o é na lava nostálgica dos danos.
Quantos que não conheci, tanto que não senti
No cenário emocional de beber ilusão de onde parti.

Melodrama, ou a melodia que invento na trama
De tempos de sonhos cujo mero sonhar era revigorar.
Já sete palmos de terra sobre sacos de plástico no ar,
Quando todos um procedural e daí cancela na chama.
Anomia, onde vou? Ao ser de ninguém a razão de parar...

Mas vem-me Cinderela e sou porcelana sentimental.
Finco pé no corredor a mitigar o carro desvanecente
Com os sentidos no grande céu tangerina em bandeja
Quando o adeus é uma claque a servir serenamente
O infinito refugiado na despedida aberta que me beija.
 
Quero dançar com os subúrbios neste asfalto que transpira.
Sem memória ou expectativa à baila no instante defronte. 
Posso ser um veado em slow diante de faróis no horizonte,
Posso morrer um vestido vermelho na estrada que expira
Angústia minha à boleia bela de sorrir o frágil estendido.

Faz-me tu Cinderela, numa assim chamada adolescência.  
Sou tão princesa na rua ruiva de regressar quimera a casa
Da escola ao fim da tarde na luz melancólica em cedência.
Um décimo de segundo, a vida do eu no estado que estou,
Tristeza eufórica na empatia tardia de não ter tédio algum.

Rituais de passagem, por que nunca de paragem?
Pudesse ficar envolto nos braços do momento,
Enredar em culs-de-sac seres sempre em viagem,
Não voltar a ser abóbora num fundo cinzento.

Louco mover, se ao deixar ir sou vazio por inteiro.
Falta-me tanto, aprender a permanecer passageiro
Num mundo que se recusa a ficar enquanto é eterno,
Num modo motel de estilhaçar o corpo moderno.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

14



14

Braços-baloiço numa segunda-feira sépia
Em mãos-melisma no São de Novembro.
Assim começa, o sem fôlego de tanto o ter
Por ti, sabor de nada saber, todo o membro  
Ao arrepio no paraíso de querer e desconhecer.

Sala de sempre à socapa e beijo-tiro no escuro.
Em nome do tacto, o meu pescoço a fotografar
Os calafrios de um intervalo desde logo futuro.
Podes durar um búzio, blindada imagem infinita de arfar…
Aproximações como um grandeur metafísico a cada muro.

O teu-meu elástico rosa e o sabor de a tudo saber
Durante conversas de quarto num romance neo-epistolar;
As polaróides fragrantes em folhas de diário sem caducar
No Outono quase estático de ao teu tronco ascender.

Memória rainha na câmara lenta de Dezembro poente,
Aquele parque ao crepúsculo como iluminada balada
No qual me pulsas a gravidade para o chão crescente
Num uno de dígitos em que nascemos a era dourada.  

A tua persistência à minha resistência, comissura
Onde os avanços recuam a línguas estrangeiras.
Não perguntes, não digas, a defesa à mistura,
O meu senso incomum de socializar barreiras.
Mas até aí, souvenir de fundo ao fitar pela costura…

Para lá de ficar a pedra que (as fragilidades) me atiraram,
Mais que segundas chances e remorsos exagerados
Permanece o ar rarefeito e a quintessencial inquietude;
Mais que aulas de anatomia e aniversários decorados
Desaparece o rancor dramático e a demencial atitude.

Se a recordação é esse ser que nos vive em escalas
Posso alegar-lhe o discurso apologético do teu bem,
Fazer de um gramofone o aeroporto para falsas falas,
Um clássico apropriado para sobreviver ao meu desdém
A gratidão distante de te perenizar uma passagem doce:
“Querido motivo maior, vamos sempre ter os catorze.”

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Quimono Circunflexo


Quimono Circunflexo

Podia ver-te na roupa de um álbum preferido,
A estética Inventada antes de te conhecer.
Eras nua e cabelo negro por brotar corrido.
Metade minha, a tua silhueta à flor da porta,
Em vão, quando nasces secundária no eu te querer.
És oriente corpóreo onde o real nem te nota.

Chapéus fora pela rapariga que esperava
Ela esperava por eles, ela esperava por nós.
Por mim! Em devaneios meus abancados de voz.
Eram chances e innuendos em tudo o que não falava.

“Não ter de lutar por uma força maior
Porquanto ela mesmo lutará por ti.”
Disso lema, e fazer de invectiva o fluxo da cena
No enquanto insustentável de acentuar o pormenor
Conjugo leveza, e acontece se valer a pena.

Um brinde à rapariga que desesperava
Eu desesperava por eles, eu desesperava por mim.
Por ela! Num serão adolescente sem tacto no fim.
Eras multidão a solo que no escuro ateava.

Ao sopro e viciado na emoção mais rente,
Outra pluma lançada num sempiterno retorno.
Sakuras circunstanciais e livre-arbítrio embotado,
Todas enlevos efémeros num homem moderno.
És a doença evidente na absência que curas.

Uma vénia à rapariga que convidava
Ela convidava-os a eles, eu convidava-me a mim.
Por vida! Num torpor conivente que assentia com sim.
Era o anuário de liceu que o auge passional cessava.

Vertigens cruzadas, e "bom dia" em vez de tanto
Por extrair das pernas em escrutínio sentadas.
Eles eram o eco constante a subtrair-me do pranto,
“Nós” era adorno em que te perseguia o semblante.
Fosse tu naqueles fúteis sussurros, sibilar-me-ia:

"Apupos para o rapaz que expectava
Ele expectava por si na expectativa do mundo.
Por medo! Só num banco com o ego no fundo.
Era um estranho com nome que nem atentava:"

"O que é o idealismo senão a pena que perpetuo,
A falta de amor-próprio projectada no próximo...
Objecto criado de uma existência a que excluo
A liberdade de não me ser um peso sinónimo?"

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Update Pessoal

É altura de evacuar outra vez. Ainda que não precise de me dissecar como fiz em Maio (até porque o relatado no post continua actual), tenho de aceder aos pedidos da minha mente. De x em x tempo, o ego sente necessidade de se exteriorizar. Porque reclama (a eventualidade de) atenção e porque precisa de passar a escrito os checkpoints para poder seguir em frente com a vida (ou falta dela...). Em suma, enquanto não escrever este post, a minha consciência vai lançar pedras a qualquer actividade que eu pretenda realizar. E já ando a adiar esta sede de leveza há um mês...

Vou limitar-me a enunciar uma série de pensamentos (com alguns desvios pelo meio).

1. Foi um Verão decente. Muito bom no que explorei a nível de televisão, razoável em termos cinematográficos, de leitura ou de futebol/corrida. Satisfaz pouco para o pouco que escrevi, mas pelo menos editei quase tudo o que tinha a editar de textos/poemas antigos. Estou mais solto para criar, o contratempo é que tenho perdido muito tempo online. A partir da segunda metade de Agosto, o meu vazio existencial trespassou demasiado para a internet. Não tenho disciplina mental para fazer algo que não seja uma obrigação no devido tempo...

Interlúdio A: Uma triste e fria verdade... 













2. Ainda em relação ao período estival, foi bom voltar a sentir-me em casa. As constantes viagens e os tempos em comum limitados a alguns fins-de-semana faziam-me sentir ainda mais estrangeiro do que sempre fui. Por volta de meados de Julho, reenquadrei-me com as pessoas com que sempre vivi. Não no sentido de comunicar. Refiro-me a tomar a sua presença como normal, natural e agradável. De facto, depois de um ano de faculdade tão solitário, descubri o valor de algo tão simples como sentir ruído e vozes amigáveis nas redondezas. É como se me oferecessem um certificado de que estou realmente vivo.

Já estou avisado para uma provável repetição desse fenómeno, o que é bom.

3. Não sei se é um ponto comum com outros seres humanos existir um ano que marca uma fenda na percepção da passagem do tempo. Até aos 15, tudo se movia devagar. Talvez porque essa idade marcou o advento da nostalgia na minha vida, o slow motion findou. Um passado cada vez maior, os dias com cada vez menos peso individual no meu tempo total na Terra, o facto de já não corresponderem a um bombardeamento de novas experiências... Eventuais razões.

Era lento, estático, sempre criança... E agora universidade, 20 anos. É estranho, sinto-me desfasado da realidade e até o meu corpo me chega a ser estranho. 

Dentro de questões temporais, há águas passadas que ainda molham. A escassa intimidade ao longo da minha adolescência é uma mágoa...

Interlúdio B: Anos 90, nostálgicos anos 90. As vantagens de ter acompanhado My So Called Life este Verão... 


Uma outra é ter posto os olhos num dos planos mais belos que alguma vez vi... Autêntico orgasmo nos meus sentidos (sublinhado pela "Everybody Hurts" dos R.E.M.)! (Excerto.)
























4. Numa perspectiva positiva, estes anos de vagabundo estão a ser muito importantes para crescer (mesmo que devagar; noto-me mais "livre" em contextos sociais; gosto da independência) num plano mental e a nível prático (que tanto detesto). Ando a dormir melhor (finalmente tenho um horário de aulas não esquizofrénico), a comer melhor (só agora vou começando a cozinhar...) e a praticar exercício físico regular. Estou mais enquadrado com este lugar, esta fase de faculdade e um pouco mais ciente de que esses aspectos são pontos de partida para me sentir bem. Estou a assentar! E como isso é fulcral para mim... A força do hábito confere-me alguma segurança e reduz a alienação com o espaço envolvente.

O mais importante é o curso em si, todavia ter ficado em casa durante este período seria um erro grave no meu desenvolvimento rumo à autonomia...

5. É um bocado óbvio que me sinto mais só quando há milhares de pessoas da mesma idade à minha volta, mas apercebi-me de algo que não compreendia. Quando sou uma ilha, ajuda não estar numa cidade. Uma sintonia entre o que vejo e o que "tenho" apazigua-me o espírito. Não fico tão agarrado a pensamentos fatalistas, porque penso mais em actividades do que em pessoas e relacionamentos. 

Interlúdio C: Tecnologia, amor, solidão. Fotografia polida e cenário urbano voltados para uma estética introspectiva, uma ambiência citadina de quietude na multidão (como idealizo). Bom realizador, cast sólido, trailer perfeito! Quero este filme já!



6. Objectivo "profissional" para este ano? Infelizmente, conseguir resultados acima dos esperados e procurados leva-me a aumentar a exigência. Passar a todas as disciplinas é ainda mais obrigatório e baixar a média mais de dois valores não é permitido. Neste momento, as notas têm, mais que nunca (pelo interesse na maior parte das disciplinas; pela falta de muitas outras coisas com que me preocupar), um poder incrível sobre o meu ego e a minha auto-estima. Só não vou estudar ao longo dos semestres. Enquanto o estudo circuncidado à véspera resultar (é uma bênção dar-se tão bem comigo), vou confinar as aulas no período das próprias aulas...

7. Detesto ser "obrigado" a participar em aulas para questões de nota e com isso conceptualizei onde a minha ansiedade social é mais intensa. Tenho tanto respeito por figuras de autoridade que perco o respeito por mim mesmo. Registos formais matam-me, bloqueiam-me. Quando a isso se acresce a pressão da avaliação... Boom!!!

Só mesmo quando há aquele/a raro/a professor(a) que cria um tom informal e amigável na sala de aula não sinto um peso na hora de soltar palavras. Já era assim no secundário; de qualquer modo, em primeiro lugar, prefiro estar calado, concentrado e confortável - sou introvertido. Se bem que por vezes seja difícil traçar a linha entre o "não falo porque não quero" e o "não falo porque tenho medo". Na mesma senda, estão questões de burocracia...

Já em registos informais, nomeadamente no próprio acto de conversar (desde que isso não implique iniciar conversação com alguém com qual não tenho confiança), estou solto! Sim, há sempre aquela barreira de ser demasiado cuidadoso / de ter medo de ofender... Quando esse obstáculo é superado, liberto-me de constrangimentos.

Interlúdio D: Em alta rotação na estação "Eu". Que beldade. Aposto que esta canção é condizente com o verso "the resolution of all the fruitless searches" quando pessoa x anda à procura de música para dedicar a pessoa y que tanto preza...


8. O que escrevi no último ponto é acentuado pela solidão e consequente hiper-sensibilidade. Quando estás numa etapa em que já te resignas a não conseguir manter relações para lá de 2/3 anos, quando tens 20 anos e começa a desvanecer o deus ex machina mental de acreditar que um dia tudo vai mudar, quando estás na faculdade e nada passa de interacção superficial e casual com alguns colegas... Enfim. É como já afirmei, para lá da família próxima, eu não existo. Neste aspecto, estou mais no fundo (logo agora que tenho maior projecção intelectual e me sinto muito bem fisicamente) do que alguma vez estive no passado. Não quero passar uma existência inteira em que o que sou e o que faço são somente para mim...

Conclusão: sobrevalorizo qualquer pessoa, os seus passos, as conversas, etc. O que para mim é um mundo, para eles é um segundo. Estou numa posição de enorme fragilidade. Qualquer pessoa com que simpatize é automaticamente uma das mais importantes na minha vida (visto que não há mais ninguém nela...) 

Catch 22: como se precisasse de amigos para fazer amigos... Tenho a protecção de, por norma, demorar muito tempo a gostar de alguém. Quando chego a esse ponto, agarro-me a nível mental (tendo o cuidado de ocultar isso e de dar espaço no mundo prático). Mais cedo ou mais tarde, percebo que estou a dar um papel de protagonista a alguém que me tem como uma personagem secundária. Acabo magoado e a remoer na minha insignificância. A ansiedade social e a hiper-sensibilidade caminham de mão dada, catalisadas pelo total arredio...

Esperava que a universidade tornasse tudo mais fácil, porém ter interesses semelhantes (além de que para uns 50% o curso nem é inseparável da sua identidade) não significa nada quando as pessoas vivem realidades tão distintas e há um oblívio quanto ao passado de cada um (cuja partilha poderia ser um factor de união...). No seguimento disso, não ter ninguém com quem partilhei uma história por perto, um espelho construtor, faz-me sentir um fantasma.

Interlúdio E: Já tinha visto esta obra-prima em Janeiro (na altura a minha opinião sobre o filme foi irresoluta), mas a ressonância foi tanta que a ela regressei. Fixou-se como um favorito. Impressionista, poético! As cores quentes que não me saem da cabeça! O espaço tão só que uma alma ocupa logo onde elas mais abundam...



9. É engraçado que os jantares de curso, uma ou outra saída à noite e o que aí se faz consistam para mim num constante método de me reassegurar que dizer "sim" não melhora a minha situação, que não estou a perder nada (gostava que fosse esse o caso). Para além disso, de seguida, e durante alguns dias, é me mais fácil manter um estado de solitude e abafar a solidão (pois percebo que é improvável conectar-me com alguém nos contextos a que até posso ter acesso).

10. Sempre que converso com alguém, ascende este doce-amargo posterior de que não comuniquei tudo o que devia comunicar. E há uma sensação de que tudo o que profiro é distorcido por uma parede de vidro. Há tanto isolado dentro de mim...
 
11. Ter consciência (até excessiva) dos meus defeitos é inútil no que toca a ultrapassá-los. É tudo sistémico, anos e anos a raciocinar de uma determinada forma. Está imbuído em mim. Suponho que terapia ajudaria em alguns aspectos, o pior é que nesta altura (tardia) o mundo exterior já é uma fonte de espinhos equiparável. Não tenho por onde começar, porque não tenho nada a que me possa agarrar...  

Interlúdio F: Soberba faixa de abertura do novo álbum de Jimmy Eat World. Aguardo pelo dia em que "there's something I feel that I haven't felt since I was a kid" se materializa para que a minha relação com a letra desta música seja ainda mais vincada.  



12. Não estou numa posição para tomar certas escolhas. Quando apaguei o Facebook em Dezembro de 2012 guiei-me em grande parte por esta lógica: se o próprio espaço cibernético tem o poder de regular a minha teia de contactos, se ele é maior que as próprias relações, se é ele o souvenir da minha existência para pessoa x, a relação é com ele e os verdadeiros mediadores são as pessoas. Isto quando há muitos outros meios de comunicação à distância e sem custos, seja pela internet ou por telemóvel... Estou a ser um fantoche e isto é uma mentira.

A decisão fez todo o sentido na altura, deu-me uma saudável perspectiva experior (cresci com as redes sociais a terem uma forte presença no meu caminho - uma constante entre os 13 e os 19 anos). No entanto, fez me reavaliar o ponto de vista sobre esta dúvida.

A verdade é que priorizar valores morais neste assunto é um luxo para alguém como eu. Há mentiras que tenho de aceitar, há jogos que tenho de jogar, pelo bem-estar que originam, pelo ego frágil que reforçam. Entram numa lista de mil e uma pequenas coisas que em conjunto criam condições para eu ser mais produtivo.

Estar alheio a todas as pessoas conhecidas foi um choque nas primeiras 2 semanas. Depois habituei-me, mas o meu mundo afunilou-se, eu encolhi. Insecto total! Acabei por voltar em Maio para aceder a apontamentos/informações para o meu estudo. Como não gosto de adicionar (por minha iniciativa; foi raríssimo fazê-lo no passado) pessoas, é possível que permaneça sozinho e no meu canto.

De qualquer modo, só tenho de assimilar que o Facebook com "amigos" é uma ferramenta para melhorar o meu estado mental, um aroma de mundo exterior... Ah, e que não vale a pena escrever certas coisas! 

Interlúdio G:  "I'm scared to get close and I hate being alone / I long for that feeling to not feel at all / The higher I get, the lower I'll sink / I can't drown my demons, they know how to swim". É a letra citada que me cola a esta canção, mas não posso deixar de referir o crescimento musical da banda. Bem longe do metalcore genérico e aborrecido com a infusão certeira de elementos electrónicos e de música ambiente.



13. Preciso e muito de actividades extracurriculares. Num mundo perfeito era futebol de competição e algo de escrita (num projecto em conjunto e sobre arte). O físico e o mental. Os dois! Não me sinto valorizado como ser humano (não vale a pena culpar os outros, até porque o elo em comum nos relacionamentos falhados sou eu). Se algo que eu fizesse recebesse atenção positiva (acho que sempre fui viciado nessa necessidade), estaria melhor face ao que sou. Só que há pouco que eu possa fazer, quando limito o que quero fazer ao pouco que sei fazer...

14. Em retrospectiva, identifico os dois momentos-chave em que "perdi" a carruagem. Ganhei um trauma a "dramas sociais" nos meus 14/15 anos. Enclausurei-me em mim, em remorsos exagerados e em odiar o mundo. Foi nessa fase que os demais começaram a ser incompreensíveis, uma língua estrangeira para mim (talvez pelo isolamento - induziu a proximidade com uma voz interior de decibéis crescentes - ou pelas meras especificidades dessa idade caótica).

Quando tive uma segunda oportunidade, já pelos 17 e acreditava que ia ser um de tantos casos felizes de "entrar no secundário como larva/casulo e sair como borboleta", os últimos meses do 12º trouxeram um twist. 

A progressiva tomada de consciência que era um tipo qualquer para pessoas que (lenta e fundamentadamente) se tornaram importantes reactivou mágoas passadas. De início, um plano "fake it till you make it" de me fazer crer que tinha, por fim, uma grande auto-estima (passar a gostar de mim não implica estar satisfeito comigo, apenas me acerca de uma figura auto-paternal) ocultou um pouco esse reaparecimento (que por sua vez intensificou de novo a minha apatia e inércia). Até o exterior, o meu círculo social se voltarem tão inexistentes, ao longo do meu 1º ano de faculdade, que ser narcisista só mesmo num qualquer acto teatral.

De momento, já não desejo tanto a eternidade dos relacionamentos como desejo a sua simples ocorrência e intensidade. Intimidade, nem que por segundos... 

Interlúdio H: Sendo um fã de Lynch há uns 3 anos era inconcebível que ainda não tivesse visto Eraserhead. Clama mesmo por excelentes meios audiovisuais e um horário nocturno para intensificar uma experiência imersiva. Para mim é difícil ficar indiferente, aborrecido perante algo que opera segundo a lógica dos sonhos e a obra de Lynch tem a particularidade de associar isso a narrativas claustrofóbicas, misteriosas, sombrias e íntimas. Vai muito de acordo com as minhas sensibilidades. Por este filme só, seria sempre um génio!



15. Por agora não importa, mas como convém ir pensando nisso... Já estive bem mais direccionado para o mestrado em Jornalismo. O meu "desacordo" é que o que se encontra por aí são apenas jornais regionais. Ou seja, mesmo quando há espaço para a cultura é quase sempre para ser abordada em termos de meros acontecimentos num dado local. Há demasiado provincianismo. O que me agrada é um formato mais visível em revistas (para o meu mal não há muitas), a pender para o global (e para as ideias em detrimento de eventos).

Certo é que mestrado em Estudos Artísticos não faz qualquer sentido para mim (diz o eu actual). Estou a gostar muito do curso, da educação cultural que me está a oferecer, da variedade... Só que o 2º ciclo não traz nada para além de um aprofundamento em cinema, música ou teatro...

Seguindo de facto Jornalismo (não visualizo alternativas, infelizmente), é provável que seja na UBI (sobretudo se quando chegar a altura de optar não tiver ligações com seres humanos destes lados)...

16. Às vezes sinto que devia estar mais (e sempre) preocupado, frustrado com grande parte do que escrevi aqui, que não tenho o direito de estar feliz em fogachos de tempo... É uma lógica perigosa e masoquista...

Poslúdio: O título. Será que algum dia não?