quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

(Turquesa '98)

(Turquesa '98)

(Diante do canal d’água e iço à TV a vela
Matinal como a minha vida de dinossauro
Marinho entre ilhas lácteas de mel e canela)
Restauro era demanda, meu império do fim-de-semana
Quando os dias epopeicos se ancoravam na tigela

(Aqui voo eu, papel alado deste barco de noz
Em minhas mãos invisíveis pelo oceano a sós
Serei o último da espécie n’azul margem dali?)
Salvador, memória nenhuma nessa pura aragem
Quando o mapa era território sem relógio feroz

(Para meteoros futuros, o meu capacete-panela
Tiro o curso descobridor numa caixa de cereais
E telecomando aventuras com olhos-aguarela)
Turquesa perfeita do porvir, tal me era a cor do cais
Quando o pequeno-almoço não ficava sono e represa

(Banheira até ao infinito e sempre nunca aquém
Porque remo a colher ao sofá pastel de carreira
Sim sou capitão mim a consolar a sala ocarina)
Do tempo perdido à frente do que ficou pra trás
Quando ganhava aos versus o emprego da retina

(Oh mãe, estou bela aborrecida, “há mundo lá fora”)
Quando o tédio da tarde descansava o não me extinguir
FORMIGA, mas funeral lotado pelo que criei outrora
(Hmm, nada para fazer, ruas lhes azulo no enquanto)
Quando dEUscobridor diluviava os insectos que é agora
E a Expo era dourada por (eu) não o saber distinguir

(Oh mãe, o escuro quer ir para a cama comigo
Quero a tua voz xilofone e a hortelã de presença
Claro escolho-te a ti, olha a bruxa no postigo)
Quando monstros só roupa nua na noite imensa
Tu varrias as vassouras em (sempiterno) amparo

(Amanheço Neptuno à vista e mudo o canal
Sou navio ouvi dizer há safira sempre a norte
Tenho bolachas e coragem para lá do meu quintal
Oh ninguém, desemboco na ideia chamada) MORTE
(Repentes raios catódicos trovejam-me o engenho
E o meu bote náufrago a perder afogado o sinal!)

(BLOFT!)

As únicas bolhas rebentadas as que saíam dos lábios,
Respirávamos o mesmo céu às que as lançávamos...
(Quando éramos cada(um)falsos sempiternos
Dentro de uma (                               ) maior...)

(BLOFT!)

Prezada estática desses anos escumados, ainda hoje...
Cedo vamos ser a primeira visão dos nossos pais,
Quantos-queres arrastados da idade de nos verem crescer,
Trintas em fade-out por televendas adentro, já amanhã...
Mera pastilha elástica no chão escolar dos nossos filhos a ter.

Estimada bolha transatlântica de chamar aos sonhos concreto
Moradia, adeus estarei até aos noventa doutro lado do mar
Tão longe do pior ser Lavender Town que é melhor o tecto
Perto das coisas sem rugas que só nós podemos amar,
(Coberto pela safira com fundo a que o meu fóssil tendia.)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Avelãs & Libélulas

Avelãs & Libélulas

Yomi, voltava larva da escola e as tuas patas
Expectantes faziam-me confetti no chegar do quarto
Pangeia quando as duas crescíamos mundos acrobatas
No alto truísmo de subir a cama e te purpurear o harto
Céu saltado por libélulas a cartão e feltro em cascatas
De atacadores que borrifavam terra ao nosso sonho léu.

Yomi, continuava casulo da escola e as tuas patas
Vacilantes doavam-me dó na caixa fetal de abrir a porta
Para minguar o adolescer no monstro dos teus ossos restantes
E adoecer a solidão na imagem aninhada de mil memórias gratas
Enquanto a água me arrancava aos olhos que já nem te importa
O cereal preferido pelo qual me alçavas pantufas às omoplatas.

Yomi, acabavam os fins da escola e as tuas patas
“Instantes debaixo do chão, segundos verdes ao largo da casa
Para morar leve sob a copa das imensas aveleiras falantes”
Palavras pais, furtar-me filha... do adeus em fatos e gravatas.
Mas logo, a tua campa a ser todo o lugar onde passavas antes
E o tamanho da humilhação a baixar-me veloz às ditas matas.

Dezoito horas! O arrebol marrom e violeta da tarde da morte!
Perdição, já só era um bonsai disto no Julho d’ouvir miar
O tronco da aveleira nesgado numa quase ogiva templária
Entrar, já só era vontade disto nos lábios roxos de norte
Até, Yomi!, aconteceres telúrica dentro da tela diária...

De me ronronares labaredas lilás no eterno poente crescente
Rumo à enésima potência de aumentar o meu corpo no teu
E juntas amansarmos o tempo no chocolate de avelã persistente
Onde a chuva era lenta demais para saber o voar ou cair do sumo
Quando cada dia veranil de ir a ti me durava um milénio em museu

Querido crepúsculo ao colo, abrandavas-me no teu exílico anel
De Saturno plural num Vesúvio pairante de avelãs nimbadas
Com libélulas helicópteros púrpura a orbitarem-lhes o mel
Borrifando-me fotografias felinas nas árvores enganchadas
E eu saltava planetas até que as garras provassem o som...

De me contares à boca a essência do teu cosmos morfema:
“Porque todos giramos na obstinação sépia da nossa caída,
Porque fazemos festas ao lenhador por vir de qualquer dilema”
Raptavas-me os poros abertos até saber pulsar o fluir da vida
Yomi, saía borboleta para a faculdade e as tuas patas incessantes
Sempre comigo, souvenir que a minha altura é ser destemida.