quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Um Singular Autómato Colectivo


Um Singular Autómato Colectivo

Discorrer sobre a mediação digital será sempre reflectir sobre uma dualidade yin-yang. Creio que o lado sombrio predomina quando consideramos as relações humanas como mais que um meio para um fim ou uma mera ferramenta utilitária. Essa sombra alonga-se à medida que perdemos o controlo e distancia-nos de nós próprios.

Com a intensificação decursiva desde há vinte anos para cá, corremos o risco de nos metamorfosearmos no apêndice que transportamos, de adoptar o papel de objecto. O sujeito é o dispositivo que encarna a nossa ausência.

Nesse contexto há que ter em conta um conceito de literacia digital que peca por se limitar ao domínio da linguagem informática. O lapso reside no desvalorizar da consciência. Por conseguinte, usamos muitas vezes o universo virtual como um mecanismo de escapismo, de obstrução dos sentidos, visando desligar o interruptor crítico do espírito. Num mundo moderno acelerado pela tecnologia, a visão turva e a atitude de reflexo é fugir a um exacerbado temor da solidão. Assim, cada um ludibria a fachada do "eu" face a esse tormento. Na verdade, estamos somente a fomentar o seu âmago. Não só o medo é procrastinado, mas também uma conduta activa e de manejo das rédeas da vida perante questões maiores. Evitar o elefante no quarto é uma forma alternativa de carpe diem e evadimo-nos tanto diante do presente como do futuro.

Em oposição ao que apregoam, as redes sociais online, por exemplo, desconectam indivíduos. Plataformas como o Facebook fabricam uma determinada representação de uma pessoa e, como ente único, esta é coagida a adaptar-se. Contribuem também para uma progressiva banalização e deturpação do termo “amizade”, de tal modo que é precisamente o espaço cibernético quem mais se aproxima da sua acepção fidedigna: por lhe concedermos o título de prioridade, pela permanência ao longo do tempo e pela não dependência de um contexto semelhante para sobreviver (devido à sua ubiquidade). Se permitirmos que os média digitais regulem a nossa teia de contactos, se forem eles o souvenir da existência de pessoa x, o que seremos senão um espelho partido?

Daí irrompem duas alienações de aparência paradoxal: a ilusória das excepções que recusam a subjugação por teclados e uma outra, real, que afecta massivamente a sociedade e se disfarça pelo facto de ser partilhada por multidões. Na mesma senda de concebermos necessidades que não o são através da mecanização, é comum os primeiros acreditarem que a sua minoria é sinónimo de estarem errados e, então, resvalam num avassalador buraco negro. No fim, ninguém é ninguém e essa insanidade encara-se com normalidade.

As relações à distância não devem tomar o trono das presenciais. Tal será entrar numa espiral de erros comunicativos e cair no poço superficial da despersonalização. O tacto, os gestos, a permuta de palavras e a troca de olhares sem paredes são sustentáculos a que tendemos a renunciar no ponto final da infância. É da conectividade mental motivada pelo acto físico que se desenvolve a qualidade etérea das ligações interpessoais.

Claro, a era digital, inclusive no íntimo, não é um vilão absoluto. Somos nós a escrever o guião! Cabe à humanidade despertar, aprender a retorquir “não” à pressão social, resistir aos (enérgicos, porém breves) sintomas de privação e restringir o carácter anestesiante da tecnologia. Ela possui o potencial imenso de divulgar, integrar e até criar novas práticas artísticas. Pode ser arte! Inquietar e expandir horizontes! Originar introspecção e autoconhecimento! Um aperfeiçoamento individual como linha de partida para uma melhoria global cuja amplificação estará, em parte, a cargo dos novos média.

Lâmpada: é o pólo positivo do mal que leva à génese de uma antagonista ideia de bem. Se queremos voar mais alto, apenas temos de cavar mais fundo!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Bah. Bela Merda

Frustrante passar os dias a anos-luz mentais das pessoas com quem partilho um determinado contexto fisicamente. Mais quando não há qualquer perspectiva de mudança no horizonte. Se no início do secundário, havia o escape ilusório do "na universidade tudo melhora", agora o meu diabo de ombro começa a conquistar-me com o slogan "tarde demais".

Eu tentei, tenho tentado, é provável que continue a tentar ligar (sem nunca deixar de ser quem sou) o meu fio à corrente. Pouco importa. No fundo é tudo forçado e mesmo sendo ligeiro já me custa demasiado. Estou completamente desconectado do modo de abordar o mundo que observo nos outros. É complicado ser de um grupo sanguíneo com compatibilidade a roçar o zero quando necessitas de um dador para sair de suporte de vida. Em última análise, de mãos dadas só mesmo a simetria perfeita do meu desinteresse pelos outros e o seu por mim. As investidas culminam em finais frios, fixando o "eu" num pólo e o "eles" no oposto.

Quando não há termo de comparação, estando eu sozinho e por outros lugares, a solidão até é, por norma, residual. Atinge-me ao saber que reparto um dado sub-universo com quem, na essência, nada há a repartir. Não me mata, mas desmotiva-me, obstrui-me a paixão. Torna-se uma flecha contra-produtiva logo quando mais tempo tenho para ser produtivo. Obriga-me a escrever isto...

Também estou a chegar a um ponto em que ponho em causa o valor do ensino superior para mim. Sim, estou no curso que quero e há alguma informação interessante para ser digerida. Contudo, há sempre disciplinas que me passam ao lado e desprezo com convicção a ideia de avaliação... Porque não consigo subverter certas responsabilidades morais, não o faço na prática. A minha lista de combates interiores, tijolo por tijolo, vai-se assumindo como infindável. 

Neste momento tenho 3 grandes ambições na vida. O meu trabalho para as concretizar é de louvar pela sua dormência (e pelo facto de a duplicar com um post destes). São algo distintas entre si. Em condições normais, iria especificá-las. Como estou um bocado exausto de mim mesmo, não vou escrever mais nada agora.