sábado, 30 de novembro de 2013

10º Aniversário Do Álbum Que Mudou A Minha Vida

Uns fragmentos (com muita contextualização, pouco cuidados, não muito bem escritos) para comemorar o 10º aniversário do álbum homónimo dos blink-182, a obra de arte mais importante da minha existência...




















2006, os primeiros meses do meu 8º ano. Iniciava-se a minha adolescência, começava a entrar nos meandros mais pessoais da internet através do chungoso Hi5 e do saudoso MSN. Até esse ponto, a arte não figurava nos meus interesses, não estava sequer na minha esfera, era um mundo distante. No caso específico da música, podia ter um ouvido mais predisposto ao rock mainstream da viragem do milénio (nu metal) - Linkin Park, Korn, Papa Roach, etc - por influência do meu irmão mais velho (já que o que ele ouvia chegava a mim como se fosse um fumador passivo), mas era somente isso... Tudo superficial. Já conhecia um pouco dos blink-182 a partir desse fumo. Como eu engraçava com "The Rock Show" e o seu hilariante e metalinguístico teledisco enquanto criança...



É nesse contexto de miúdo a encarar o gigante chamado Internet (para lá de jogos ou sites de jornais desportivos) que começo a traçar um percurso de ouvinte musical (e o meu crescente domínio do inglês é um auxílio a relacionar-me com letra de músicas). Os blink assumem-se desde logo como o meu grupo preferido e para grande desgosto meu eram então uma banda inactiva... Os álbuns Enema Of The State (1999) e Take Off Your Pants And Jacket (2001), exemplos máximos da onda pop-punk estadunidense de 1999 a 2004 preenchiam os meus dias... Em retrospectiva, são trabalhos cuja minha apreciação decorre muito da nostalgia. Pelo âmbito reduzido, estando focados num lado mais superficial do que é ser adolescente em termos de letra e pela extrema simplicidade / convencionalidade sonora. 

blink-182 (2003) é diferente! Ainda que o álbum seja cada vez visto com melhores olhos e tomado como a magnum opus da banda pela crítica e pelos fãs, num espectro geral, infelizmente, não é a sua imagem de marca. A visão sobre os blink-182 é redutora, limitando-se ao humor de casa de banho, à imaturidade, à rebeldia... Esta obra cai no esquecimento como um membro estranho para os menos atentos, mais ainda num país periférico e insignificante no que diz respeito ao impacto dos blink (de Portugal, em sintonia, só tenho a cultura nos pés, o que é frustrante...). A minha opinião (longe de solitária) é que o 5º e auto-intitulado álbum de originais do trio justifica uma reavaliação dessa concepção.

Não é um Kid A, não é visionário, claro. Em relação à sua influência, talvez se possa ligar um pouco à ascendência comercial de uma vaga de artistas "emo-pop" como My Chemical Romance, Panic! At The Disco e Fall Out Boy  em meados dos anos 2000. Somente isso. 



Estranho que mesmo aos 13 considerasse este álbum o meu preferido da banda, muito menos que ao longo dos anos essa posição tenha sido reforçada. Em blink-182, Mark, Tom e Travis exploram o seu lado de fãs de The Cure (também eu sou) e o resultado é um álbum irrepreensível de rock alternativo. Soa ao que é, a uma banda de pop punk a desenvolver-se numa ambiência que mistura o post-punk / new wave dos anos 80 com o post-hardcore do princípio dos anos 90 (por exemplo Quicksand e Fugazi). No fim, há um álbum diverso, mas coesivo. Merecedor de um dos meus clichés preferidos em críticas musicais: é melhor que a soma das suas partes, cria um tom singular. Algo justificado por um processo de gravação minucioso, de experimentação, de laboratório musical. Sem dúvida que é um caso em que a audição por fones é preferível. Vários easter eggs e detalhes que tornam audições repetidas apetecíveis. 

"Feeling This" é o exemplo exímio do que a banda se tornou neste álbum. O uso de flanging adiciona textura, dimensão aquando da introdução com a bateria, esta percorre um percurso irregular (à falta de conhecimento teórico musical, fico-me por aí) e revela mais que nunca o talento e inventividade de Travis Barker, as influências de hip-hop na sonoridade dos blink. Na mesma canção, o potente final harmónico em que as vozes de Mark Hoppus e Tom Delonge "combatem" e que culmina em a cappella é influenciado por Pet Sounds dos The Beach Boys... Para além disso, é interessante o contraste dialogado entre os dois lados do sexo, o romântico e o sensual/concupiscente...

"I Miss You" é uma rara balada acústica - e uma das faixas mais a la The Cure no álbum - em que um detalhe como o piano monótono ao longo do primeiro verso aumenta e muito o poder expressivo. A letra é sombria em sintonia com a música, sendo de destacar o momento belo da referência a The Nightmare Before Christmas com "We can live Jack and Sally if we want (...) And we'll have Halloween on Christmas". De resto, um exemplo de "liricismo" mais metafórico e ornamentado do que era habitual nos blink pré-2003. Basicamente e desde sempre, a minha canção número um.

Em "Violence", o uso atmosférico de sintetizador na ponte  e as vocais faladas/sussurradas de Mark em pano de fundo sublinham o clima de obsessão que a personagem inscrita na canção sente por uma mulher num bar...



"Stockholm Syndrome" é precedido das palavras de saudade e ânsia de uma mulher a enunciar uma carta até explodir na canção mais agressiva da discografia dos blink (após uns segundos de estática)... A urgência, o desespero, a paranóia como temas. Nunca o contraste entre as vocais graves e macias de Mark e as vocais agudas, desesperadas de dor de Tom foi tão efectivo." You're cold with disappointment / While I'm drowning in the next room / The last contagious victim of this plague between us / I'm sick with apprehension / I'm crippled from exhaustion / And I dread the moment when you finally come to kill me..." Estes versos seriam impensáveis na fase pop-punk do grupo.

"Always" é uma ode à New Wave / New Romantic dos anos 80 com o uso proeminente de sintetizador. Mais uma vez destaque à voz de Mark em background, à dimensão que confere...

A transição de "Easy Target" para "All Of This" demonstra a vontade de unificar o álbum. O outro da primeira num ruído que se assemelha a uma qualquer transmissão alienígena transforma-se na frase musical de abertura, no staccato da segunda (há também uma aliança temática; em ambas encontramos a personagem Holly). "All Of This" conta com o próprio Robert Smith dos The Cure como vocalista principal. A percussão "pesada" numa melodia sorumbática aprofunda a angústia da canção.



"I'm Lost Without You" é uma faixa final ("Not Now" foi um bónus na versão UK do álbum) épica, com layers e mais layers. O primeiro minuto e meio com ambiências electrónicas é reminiscente de Pink Floyd ou Radiohead... O uso de um microfone rotativo faz com que a voz de Tom pareça surgir de debaixo de água, acentua a ambiência de transe e melancolia da canção. "Are you afraid of being alone / Cause I am, I'm lost without you / Are you afraid of leaving tonight / Cause I am, I'm lost without you" tornam-se palavras quase hipnóticas... Nos últimos 40 segundos Travis Barker viola a bateria num solo em ritmo reminiscente de marcha (há dois layers porém) e blink-182 fecha de um modo algo circular.

Articulando isso com a minha vida, acho que nunca me teria apaixonado com tamanha intensidade pelo mundo da arte sem este álbum. Foi ele que abriu as portas e, uma vez lá imerso, nunca mais me deixou sair. Ao mesmo tempo que expandia os meus horizontes musicais, era uma constante, a minha conexão com ele solidificava-se, pautando toda a minha adolescência. Por mais que seja fã de quase toda a discografia da banda, é por este trabalho que a vejo como eterna favorita. Se não me tivesse atingido, é dúbio que mais tarde entrasse no universo do cinema, das séries de TV, da literatura... Catalisador de tudo! Define-me, é um marco identitário. De modo distante foi ele que me levou a Lost e ao Lost In Translation (completam o meu pódio artístico, creio...), por exemplo...

blink-182 é um paraíso estético para mim. Dos telediscos, da capa do álbum até à música. A "catchiness" mantém-se como elemento nuclear do trio, a paisagem sonora é ampla como nunca foi. Não é um álbum só para adolescentes, mas sim algo até mais relacionável para alguém nos seus vinte (e poucos ou muitos, tanto faz). Uma ambiência urbana e moderna em que a paixão, a agressividade e a urgência dialogam com a melancolia, a angústia e a desilusão. Sem ele, eu seria outra coisa qualquer. Foi ele que me desobstruiu a sensibilidade artística, foi ele que me causou os primeiros arrepios... É um amigo e enquanto eu respirar e contar com a memória em pleno, esta obra vai sempre estar carimbada no meu interior. Sinto por ele o que gostava de poder sentir por pessoas, não fosse este mundo tão volátil para mim em relacionamentos interpessoais... Esteja deprimido ou eufórico, apaixonado ou alienado é a minha banda sonora, é um caleidoscópio e um amplificador nos sentidos!

sábado, 23 de novembro de 2013

(En)Canto Do Cisne Laranja


(En)Canto Do Cisne Laranja

Saída à francesa da dor doce de crescer
Tal como a vivi numa febre contida,
Um preto e branco a que falhei o exterior.
Deixa a Cinderela chegar a este bairro nenhum
E o gume que não amei nega-me em retrovisor.

Sou uma miúda trágica entre plátanos suburbanos
Com olhos a cortar cebola no arrebol secundário.
Algo digno, tudo o é na lava nostálgica dos danos.
Quantos que não conheci, tanto que não senti
No cenário emocional de beber ilusão de onde parti.

Melodrama, ou a melodia que invento na trama
De tempos de sonhos cujo mero sonhar era revigorar.
Já sete palmos de terra sobre sacos de plástico no ar,
Quando todos um procedural e daí cancela na chama.
Anomia, onde vou? Ao ser de ninguém a razão de parar...

Mas vem-me Cinderela e sou porcelana sentimental.
Finco pé no corredor a mitigar o carro desvanecente
Com os sentidos no grande céu tangerina em bandeja
Quando o adeus é uma claque a servir serenamente
O infinito refugiado na despedida aberta que me beija.
 
Quero dançar com os subúrbios neste asfalto que transpira.
Sem memória ou expectativa à baila no instante defronte. 
Posso ser um veado em slow diante de faróis no horizonte,
Posso morrer um vestido vermelho na estrada que expira
Angústia minha à boleia bela de sorrir o frágil estendido.

Faz-me tu Cinderela, numa assim chamada adolescência.  
Sou tão princesa na rua ruiva de regressar quimera a casa
Da escola ao fim da tarde na luz melancólica em cedência.
Um décimo de segundo, a vida do eu no estado que estou,
Tristeza eufórica na empatia tardia de não ter tédio algum.

Rituais de passagem, por que nunca de paragem?
Pudesse ficar envolto nos braços do momento,
Enredar em culs-de-sac seres sempre em viagem,
Não voltar a ser abóbora num fundo cinzento.

Louco mover, se ao deixar ir sou vazio por inteiro.
Falta-me tanto, aprender a permanecer passageiro
Num mundo que se recusa a ficar enquanto é eterno,
Num modo motel de estilhaçar o corpo moderno.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

14



14

Braços-baloiço numa segunda-feira sépia
Em mãos-melisma no São de Novembro.
Assim começa, o sem fôlego de tanto o ter
Por ti, sabor de nada saber, todo o membro  
Ao arrepio no paraíso de querer e desconhecer.

Sala de sempre à socapa e beijo-tiro no escuro.
Em nome do tacto, o meu pescoço a fotografar
Os calafrios de um intervalo desde logo futuro.
Podes durar um búzio, blindada imagem infinita de arfar…
Aproximações como um grandeur metafísico a cada muro.

O teu-meu elástico rosa e o sabor de a tudo saber
Durante conversas de quarto num romance neo-epistolar;
As polaróides fragrantes em folhas de diário sem caducar
No Outono quase estático de ao teu tronco ascender.

Memória rainha na câmara lenta de Dezembro poente,
Aquele parque ao crepúsculo como iluminada balada
No qual me pulsas a gravidade para o chão crescente
Num uno de dígitos em que nascemos a era dourada.  

A tua persistência à minha resistência, comissura
Onde os avanços recuam a línguas estrangeiras.
Não perguntes, não digas, a defesa à mistura,
O meu senso incomum de socializar barreiras.
Mas até aí, souvenir de fundo ao fitar pela costura…

Para lá de ficar a pedra que (as fragilidades) me atiraram,
Mais que segundas chances e remorsos exagerados
Permanece o ar rarefeito e a quintessencial inquietude;
Mais que aulas de anatomia e aniversários decorados
Desaparece o rancor dramático e a demencial atitude.

Se a recordação é esse ser que nos vive em escalas
Posso alegar-lhe o discurso apologético do teu bem,
Fazer de um gramofone o aeroporto para falsas falas,
Um clássico apropriado para sobreviver ao meu desdém
A gratidão distante de te perenizar uma passagem doce:
“Querido motivo maior, vamos sempre ter os catorze.”

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Quimono Circunflexo


Quimono Circunflexo

Podia ver-te na roupa de um álbum preferido,
A estética Inventada antes de te conhecer.
Eras nua e cabelo negro por brotar corrido.
Metade minha, a tua silhueta à flor da porta,
Em vão, quando nasces secundária no eu te querer.
És oriente corpóreo onde o real nem te nota.

Chapéus fora pela rapariga que esperava
Ela esperava por eles, ela esperava por nós.
Por mim! Em devaneios meus abancados de voz.
Eram chances e innuendos em tudo o que não falava.

“Não ter de lutar por uma força maior
Porquanto ela mesmo lutará por ti.”
Disso lema, e fazer de invectiva o fluxo da cena
No enquanto insustentável de acentuar o pormenor
Conjugo leveza, e acontece se valer a pena.

Um brinde à rapariga que desesperava
Eu desesperava por eles, eu desesperava por mim.
Por ela! Num serão adolescente sem tacto no fim.
Eras multidão a solo que no escuro ateava.

Ao sopro e viciado na emoção mais rente,
Outra pluma lançada num sempiterno retorno.
Sakuras circunstanciais e livre-arbítrio embotado,
Todas enlevos efémeros num homem moderno.
És a doença evidente na absência que curas.

Uma vénia à rapariga que convidava
Ela convidava-os a eles, eu convidava-me a mim.
Por vida! Num torpor conivente que assentia com sim.
Era o anuário de liceu que o auge passional cessava.

Vertigens cruzadas, e "bom dia" em vez de tanto
Por extrair das pernas em escrutínio sentadas.
Eles eram o eco constante a subtrair-me do pranto,
“Nós” era adorno em que te perseguia o semblante.
Fosse tu naqueles fúteis sussurros, sibilar-me-ia:

"Apupos para o rapaz que expectava
Ele expectava por si na expectativa do mundo.
Por medo! Só num banco com o ego no fundo.
Era um estranho com nome que nem atentava:"

"O que é o idealismo senão a pena que perpetuo,
A falta de amor-próprio projectada no próximo...
Objecto criado de uma existência a que excluo
A liberdade de não me ser um peso sinónimo?"