quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Reacção À Química

Reacção À Química

Sol nos olhos e a ironia de te encontrar onde me perdi
Eu, este banco e a incandescência do lugar onde te conheci.
Venero o dos teus longos ventosos cabelos loiros império
E a suavidade com que removes da face todo o mistério.

Aurora nos sentidos e sonho que sonho contigo
Eu, estas feromonas e a mais pura alegria de estar viva.
Admiro a tua plataforma sentimental de assaltar o perigo
E o gelo derretido em que combustas o frio da minha saliva.

Sol nos olhos e ela é o refrão com que beijo os meus versos,
O fim radiante que justifica a distante órbita dos meus meios.
Achamo-nos na ponte da canção em que dançamos imersos
E revelamo-nos turistas gravitantes no som de magnificentes anseios.
                                     
Aurora nos sentidos e ele é a melodia supersónica a ranger nos meus ossos,
A estrela do caos que ilumina a urgência do meu "agora" inconstante.
Conversamos de dentro para fora os segredos oceânicos que já são nossos
E giramos por turnos o suplicado furacão ao qual nos ajoelhamos diante.

Sol nos olhos e é meia-noite nos corredores dos subúrbios.
Aurora nos sentidos e na sombra da lua um eclipse eclode.
És uma borboleta coalescente a chorar-me nas veias chuvas de distúrbios.
És um eco da saudade a silenciar o adeus da única alma que ter me pode.

Sol nos sentidos, Aurora nos olhos e chegamos a vias de facto.
Entrelaçamos dedos existencialistas no combate do nosso tacto,
Formamos exércitos à volta de um romance que tomamos como intacto 
E matamos na mentira do último acto um amor na verdade putrefacto.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Enfado-me Deste Fado / Epopeia Do Fracasso

Enfado-me Deste Fado / Epopeia Do Fracasso
 
Estar cansado, estar enfadado...
Desço as escadas com a sina deste fado.
Pouco é pior que o meu triste fiel enleio,
Muito dado com o meu eclipsado desenfreio,
Quiçá dormente no pânico do Chiado.

Por cá, arrasto-me nas teias do tédio
Tal como Sísifo em correntes irrevogáveis.
Subo o elevador para a dupla fachada de um prédio,
Caio para debaixo do chão de joelhos inconsoláveis.

Acordo com náuseas que do isolamento respirei,
Entro no nojo da reiteração de um outro mesmo dia
E pergunto-me a multiplicidade mendiga de mediania
Ou quantas salas de aula análogas contei
E quantas luas de epifania ávida aí delirei.

Hoje são infinitas as folhas de caderno rasgadas
Como o são as palavras dos só meus papéis com asas
E as distantes quimeras que no "serei" deixo legadas,
Em que escrevo e vomito ares de repulsa à mediocridade,
Farto da homogeneidade com que me deparo nesta cidade,
Assolado pela blasfémia unida de afastar um quarto de identidade.

Dos seis e dezasseis da fragilidade emocional
Aos dezoito da consciência acidental,
Falham-me ainda os grandes pequenos horrores
(Essas balas rosas num sobejo que ainda duvida).
De mim se alimentam, cínicos, constantes inibidores
Tal como a morte a foder com a vida,
Uma morgue a ascender numa ferida.

Do tão antecipado primeiro dia de escola
Ao tão desolador último funeral nas suas grades,
Dentro do crime crónico de exagerar a própria dor,
Louvo a imensa ignorância e os sonhos de bola,
Lamento os apagados candeeiros de intimidades.

Não fosse a porta de saída a mesma pela qual entrei...
Tivessem as janelas a fuga de inércia que desesperei...
Existisse uma dimensão em que com o "se" dialoguei...