quinta-feira, 24 de julho de 2014

Update Pessoal #Sempiterno

Sou a puta de um génio... quando é para queimar pontes e ficar a arder. Afogado.

É um sinal do meu estado ter pouca motivação para escrever este post e saber o que nele expressar. Ainda assim, constato essa necessidade - de leveza via letras. Estou ok, estou ok em estar ko em tudo o que não me faz sentir bem estar ko.

Os lamentos de sempre evaporaram-se em smog e passaram para o ar que respiro. Tal como eu desapareci do mapa e me tornei um fantasma à procura de espelhos. Oh, a ironia... Como se me pudessem ver, quanto mais perceber e, acima de tudo, querer saber. Não há validação externa, como poderia haver interna quando preciso de alguém que não eu, mas como eu... Profundamente. Intimamente. Desde sempre.

O que me magoa passou para pano de fundo, um background omnipresente contaminante de todas as áreas da minha existência com idiossincrasias doentias. Se os tais lamentos já eram, salvo excepções, interiores na minha adolescência, agora são interiores ao meu interior. Quero, mas não quero exteriorizá-los, por isso fechei-os num cofre com uma password seleccionada no inconsciente. Exausto de me sentir magoado por seres humanos, isolo-me mais. Mais e mais. A falta de acção fixou-se como vontade involuntária. Pondero contactar os responsáveis pelos Guinness, talvez seja o ouriço com os maiores espinhos do planeta - mas nem sei se no meu há livros de recordes.

E podia continuar horas e horas a deambular entre metáforas, lugares-comuns meus, OVNIs teus... Quanto mais quero deixar claro o âmago, menos consigo. Desvio-me de ti, sempre, de tudo. Não posso ser humano se sou alien para todos os outros. Não na minha concepção do que o é ser.

Vou por pontos. Única forma de não me espalhar tanto. De qualquer modo não vou conseguir dizer tudo o que pretendo. Já não dá porque são demasiados aspectos com demasiados estratos. Ademais, sou uma aranha na teia, só sei circular na falta de soluções, tecendo uma perífrase monumental há meia década.

1. Dessincronia. Tenho a cognição adequada à minha idade presa num ego com 14 anos de inteligência e experiência sociais.

2. Sinto-me patético ao pé de criaturas da minha idade, que partilham os mesmos contextos. Basta ver proximidade, ouvi-los falar de tal, perceber que quase só eu não a tenho para me sentir mal, desajustado. Estabelecer relações interpessoais é o que mais quero e tem sido assim desde os 14 ou 15 anos. Paradoxalmente (estou a abarrotar de paradoxos), estar com outros acentua a minha solidão. Se bem que isto só dói a sério se considerar ser humano x interessante, se me identificar com ele a nível de interesses, opiniões, se tiver com ele uma relação de conhecidos...

Interlúdio A: O lead single do próximo álbum (a expectativa é que esteja no meu top 10 de 2014) dos The Gaslight Anthem é inusitadamente lento e uma das melhores canções da banda até à data. Chega a êxtases de emoção como "Handwritten" ou "The '59 Sound". A letra de Brian Fallon, como é norma, evidencia o o seu dom com palavras. Relaciono-me com o refrão sarcástico: "I came to get hurt, might as well do your worst to me".



3. O que mais me magoa: quando uma pessoa passa tempo comigo com regularidade (conversando sobre diversos assuntos) e entra em contacto, por sua iniciativa, para lá de um contexto partilhado (por exemplo, somos colegas de turma e decide falar comigo pela net ou convidar-me para algo de forma recorrente), sendo que no entanto não se pretende aproximar de mim, estabelecer uma relação verdadeiramente humana. Consequências: frustração transcendente, repulsa, humilhação interior, incompreensão. Deixam-me me criar expectativas, afeiçoar-me para nada. Sinto-me usado, gozado... Sei que não é essa a intenção, é somente o efeito de me tomarem como indiferente quando as suas atitudes não apontavam para tal. (Conto uns 5 casos destes na minha vida até agora.)

Insensibilidade e indiferença! Do pior que existe... Ninguém tem de gostar de ninguém, mas é simplesmente nojento para mim que estejam/falem, se aproximem só para preencher espaço, porque não suportam estar sozinhos, quando, verdade seja dita, se estão a lixar para o interlocutor... Como disse, dão-me a entender que sou um ser humano prioritário nas suas existências sem que o seja de facto. Não suporto ser secundário, figurante quando o seu comportamento indica para que não o seja e quando eu, recíproco, já deixei claro que os tomo como importantes. Estou numa posição frágil, visto que é fácil alguém se tornar um peso pesado na minha microscópica existência - enquanto eu sou uma pluma na deles que têm contacto humano regular.

Isto não ocorre muitas vezes, até porque nunca me aproximei de muitas pessoas, porém quando acontece destrói-me emocionalmente. Perco motivação para ter qualquer iniciativa ou correspondência em me aproximar de alguém, pois até quando não tomo o primeiro passo isto se passa. Quase sempre.

4. Eu entendo que a minha postura, a minha expressão facial são pouco convidativas a diálogos. O meu exterior tende sempre para a apatia e compreendo que seja o que os outros captam. Contudo, se para uns ou em certas coisas imponho demasiado respeito, também sinto que para outros ou noutras o facto de ser solitário é repelente, motivo de desprezo e de me inferiorizarem. Podem considerar-me porreiro, boa pessoa, no entanto ninguém quer mesmo proximidade comigo. 

5. Estar só focado em mim e isolado torna-me pior pessoa. Sou egocêntrico em níveis exagerados, porque não tenho impacto positivo na vida de ninguém. Não me consigo preocupar com o que quase não existe no meu interior: pessoas próximas. 

Interlúdio B: Damon Lindelof, a principal mente criativa de Lost (aka obra-prima das obra-primas), regressou à televisão na fiável HBO (com a adaptação de uma obra literária). Como esperava, estou a adorar.

Quatro episódios in The Leftovers é um tour de force sobre a angústia, a confusão, a anomia de viver após um evento inexplicável: 2% da população mundial desaparece subitamente. A série não se funda na busca de uma resposta e, muito por isso, excepcionando um prólogo e fogachos de flashbacks, o que acompanhamos são as existências quebradas dos que ficaram, três anos depois do sucedido. Justin Theroux (Six Feet UnderMulholland Dr.) dá corpo ao protagonista Kevin Garvey. É um chefe da polícia inseguro e alcoólico (vários paralelos com o Jack de Lost) que tenta manter a normalidade numa sociedade (e numa família) fragmentada, agressiva, envolta em novos cultos ou perspectivas.

É uma série meditativa (com espasmos de violência extrema), repleta de simbolismos, opressivamente sombria e com um foco total no conflito interno de personagens que estão tão perdidas como as de Lost ou Six Feet Under. De certo modo, The Leftovers vem preencher o vazio televisivo de obras que colocam o existencialismo em primeiro plano. Distingue-se por uma atmosfera gélida e por uma estrutura narrativa incerta, deambulante – aspectos que também caracterizam os habitantes de Mapleton (Nova Iorque) retratados. Ver The Leftovers é trazer ao pensamento aqueles arrepios do ego derivados da migalha cósmica que é ser humano. Porque a nossa certeza é só uma: um dia vamos todos morrer.



6. Cresci, principalmente na adolescência, de uma forma invulgar. O isolamento deu origem a e aprofundou idiossincrasias. Acham-me estranho, inadequado, entediante e, do mesmo modo, eu acho muitas das convenções sociais desinteressantes, altamente aborrecidas. Festas, actividades, cerimónias, conversa fiada em que não há contacto humano, só um passatempo. Deve-se fazer tudo de determinada maneira e ao que parece ainda bem que é assim. Só consigo encontrar interesse em certas coisas se for para estar com pessoas de que goste, com amigos... Como só existe uma pessoa que possa considerar amiga e estou com ela fisicamente umas três vezes por ano, essa hipótese de interesse mal se coloca hoje em dia. Sou um permanente choque cultural andante.

7. Adoro conversar sobre ideias, pensamentos e sentimentos, mesmo que não sejam os meus. Gostava de falar nisso no dia-a-dia. Era algo muito fixe que tive a certo ponto no secundário... O que oiço e aquilo em que me é possibilitado participar são quase sempre conversas de treta sobre eventos, actividades, rumores, pessoas... (Nada contra não fosse o seu domínio absoluto.)

8. Não gosto que seja bom ocultar defeitos, fraquezas e que, em contrapartida, seja positivo alguém se gabar perante os outros. Contudo, vejo-me quase obrigado à parte de ocultação, porque todos o fazem e ao que parece é melhor ter sorrisos forçados na cara, ser muito alegre do que ser-se sincero, mostrar-se tristeza e emoções feias (como raiva) quando elas existem. Eu escondo o negativo com cara de quem não quer saber de nada... Na minha utopia mesmo o que está mal é exprimido, de forma consciente e sensível.

9. Só as poucas pessoas isoladas, invisíveis (mesmo que por outros motivos) me poderão aceitar, compreender e só elas me poderão vir a considerar importante na vida delas. Não aceito, nem tenho qualquer iniciativa com pessoas que eu perceba terem uma rede social extensa, pois convenci-me que também não me irão aceitar. Se já têm muitos seres humanos na sua vida, eu não vou servir para nada, vou ser uma formiga. São preconceitos que não consigo evitar, encontro fundamentos para os ter: experiências passadas.

10. Mais uma vez vou ter de adiar tudo. Até ao final da licenciatura já não posso fazer nada. Necessito de partir do zero com pessoas diferentes (o problema é que dificilmente encontrarei pessoas que estejam também num estado zero).

Interlúdio C: Há artistas musicais que vagueiam no teu radar durante anos. Porque o primeiro contacto não te instigou a aprofundares-te neles, acabas por ignorá-los. Os Silverchair contextualizam-se aí para mim. Pelo meu histórico de gosto estético, se tivesse ouvido "Miss You Love" há 2 ou 3 anos atrás, adorá-la-ia desde então. É sobre depressão e incapacidade de sentir. Belo vídeo! A ideia de visionar um filme romântico sozinho no cinema é ultra melancólica. A dicotomia estabelecida entre o escuro do lugar do espectador e a claridade da tela, o visionamento a solo em contraste com os demais ladeados por "gente querida", entre outros aspectos, cativa-me imenso. Cria-se uma micro-cidade, mas o escuro e o escapismo da arte potenciam uma tristeza feliz, sonhadora. É algo no qual quero pensar e sentir para então conceptualizar. Tenho a minha experiência com o Her, logo numa altura em que andava desolado e hipersensível, para ajudar.



11. Há tantas histórias, tantos exemplos de pessoas que se sentem mal, isoladas, em fase casulo no secundário e que depois, nos tempos de faculdade, superam isso... Parece ser assim com quase todas. Comigo não só não foi, como as coisas pioraram (apesar de sentir que cresci, melhorei, etc.). Os últimos dois anos correspondem ao período de maior solidão da minha vida. Nunca senti a mesma angústia, impotência que já senti durante este período em determinados momentos. Antes, bem no fundo, acreditava que era provável as coisas mudarem.

Muitas pessoas têm sempre aqueles sonhos/objectivos de dificílima realização. Para mim, algo tão simples, normal, natural como ser próximo, importante, permanente para outros seres humanos tornou-se, tristemente, num desses sonhos...

Quando se chega ao ensino superior praticamente a zeros em relações, estes tempos tornam-se quase uma questão definitiva de "ganhar ou perder". No meu caso em específico, existiu no início a hipótese de criar algo com pessoas sem vida estabelecida na cidade para onde fui estudar. Não aconteceu, independentemente das razões... Essa hipótese esgotou-se. Aproximei-me um pouco de 4 pessoas, mas só havia à-vontade e não conexão. Além de que já estavam enquadradas no lugar em causa, sem disponibilidade/interesse em outras. E duas delas tiveram comportamentos incorrectos comigo, sobretudo...

12. O "caso especial". Nunca gostei tanto de alguém a nível amoroso, logo quando menos esperava que pudesse sentir cenas tão giras. Avancei (nunca tive iniciativa antes; sempre tive medo de rejeições; raras vezes as minhas paixões passaram de projecções de ideais em mentes e corpos desconhecidos, também por isso a norma era ficar em silêncio) com muita cautela durante cerca de três meses, sem grandes esperanças, cada vez a gostar mais. Iam-se formando laços de conhecidos a pender para algo mais humano, a comunicação no dia-a-dia aumentava/naturalizava-se e os meus flirts não eram mal recebidos (só se fosse ultra estúpido é que insistia após negas)... Depois, num intervalo lectivo, a situação tem óptimos desenvolvimentos, conversas longas, de vertente pessoal, feedback inesperado, etc. Até concluir que...

Fui objectificado para vaidade e aumento do ego numa lógica de "Estou-me a cagar para ti, não pretendo sequer ser tua amiga e gosto de outra pessoa há imenso tempo (nota: dito pela própria no fim). Todavia, enquanto não se concretizar nada com ela, vou dar-te atenção, falar contigo via online (ou seja, procurar-te na tua ausência) por iniciativa minha (2/3 das vezes) quase todos os dias durante mais de uma semana, retribuir elogios aqui e acolá e fazer-me de surpreendida quando falares bem de mim. Tudo porque gosto da atenção que me dás. Que te possa magoar não me interessa, nem é algo que me passe pela cabeça... Quando a relação que eu quero se iniciar, faço-te saber disso e sirvo-me dela para te mandar ir dar uma volta com uma indirecta, porque já não me dás jeito". (A ironia de eu me colocar no lugar do "caso especial" deste modo é que eu nem a uma frase devo ter tido direito na consciência dele.)

Poderiam ser suposições minhas, deixam de o ser a partir do momento em que de um dia para o outro essa pessoa muda de "só muito recentemente percebi que gostas de mim" para "já tinha percebido há bastante tempo que gostas de mim". ORA FODA-SE!!! Mas deste-me bola... Não consigo, não consigo compreender certas atitudes de gente adulta, ainda para mais quando essa pessoa salientava o quanto gostava de estar sozinha e o quão ocupada era a sua vida. Aceitava que só me visse como potencial amigo e, a seguir ao que ocorreu, deixei mesmo bem claro que desejava que pudéssemos sê-lo (reagiu com indiferença e desprezo).

Aliás, sendo honesto, mais do que qualquer não correspondência amorosa (que ultrapassei e que podia estar em sintonia com atitudes que ela foi tomando), o que me "matou" foi mesmo perceber depois que nem era ao menos uma questão de amizade (o que consolidou a minha versão como mais que uma suposição; a sua atitude seria bem menos ranhosa nesse eventual contexto no fim de contas falso). É que, ainda por cima, numa conversa comigo, tinha-me incluído estranhamente num grupo de meia dúzia de pessoas que afirmou serem aquelas com que melhor se deu em toda a vida no que a colegas de turma diz respeito. Passado tudo isto, não se dignou sequer a uma justificação ou a um lamento sincero e empático pelo que fez... 

Lá segui eu, simpático até de mais, a pedir desculpa por coisas de que não tinha culpa (agora sinto-me embaraçado por ter sido subserviente e não lhe ter dito o que merecia ter ouvido), enquanto estava destroçado por dentro. A indiferença de que fui alvo não ultrapassei, reanimou outras ocorrências. Junte-se o facto de me ter tornado susceptível a ficar afectado com tudo, ainda mais hipersensível do que já sou durante uns meses. Hoje estou a escrever acerca do assunto - provavelmente não o faria se já não sentisse mágoa.

Enfim... Espero um dia "conseguir" gostar de alguém assim ou até mais... E que nessa altura seja alvo de outra consideração, tratado como um ser vivo. Um dado adquirido é que não me volto a expor tanto...

Interlúdio D: Em Abril/Maio aproximei-me de um subgénero musical que até aí só conhecia de nome: slowcore/sadcore (auge nos anos 90). Letras sombrias, tempos muito lentos e melodias sorumbáticas. Sintomático do meu estado de humor de então... American Music Club, Ida, Carissa's Wierd foram bandas com que me conectei. Dito isso, a grande descoberta foram os Red House Painters, a minha revelação musical de 2014. "Have You Forgotten" até é menos depressiva que boa parte da discografia em que encaixa ("24" é perfeita para chafurdar na lama). Trata-se de um olhar nostálgico, contemplativo sobre a infância, a adolescência, a grandeza das pequenas coisas. "The smell of grass in Spring / And October leaves cover everything." <3 



13. Realisticamente, não tenho outro lugar onde conhecer pessoas senão as aulas, não fossem elas e estaria sempre sozinho como acontece no Verão em que só estou com outros (sem contar com os meus pais) um par de vezes por semana para jogar futebol. E tenho interesses tão reduzidos, concretos, individuais... Agrada-me estar sozinho, mas a minha introversão tem limites, detesto sentir-me encarcerado (óbvio).

Neste momento visualizo uma só brecha nesta situação. Os 2 anos que tenho de mestrado (ainda não sei onde nem no quê)... Talvez aí possa conhecer alguém... A probabilidade sobe um pouco visto que em princípio não vou fazer mestrado no meu curso (logo vou estar com outras pessoas)... Ainda assim comigo é sempre mais provável não ocorrer do que ocorrer... Nem chego a conhecer indivíduos suficientes para me deparar com identificação mútua. Para além de que estou muito céptico de que haja grande interesse dos outros em formar relações com colegas de turma nesta fase tardia...

Depois disso, tudo leva a crer que o mercado de trabalho seja uma espécie de faculdade ao quadrado em termos de criar relações. Isto no sentido em que aquele factor de dificuldade de as pessoas já terem um círculo de pessoas próximas se acentua e de passarem a ser mais nessa situação. O tempo livre é menor, o ambiente é mais de profissionalismo e menos de convívio, informal... Isto contando que irei assegurar emprego na minha área de estudos. Não sendo assim, é ainda mais improvável existirem interesses semelhantes que possam promover uma conexão. 

As perspectivas de em Julho de 2017 eu ainda andar a ansiar por 2 ou 3 vínculos humanos são bastante boas (também sei ser positivo).

Não sei, não sei mesmo como vou encarar décadas de insignificância que hoje, fruto da idade e de ainda ser estudante, vou disfarçando de mim próprio com gotas de motivação derivadas de uma réstia de esperança no horizonte.

Interlúdio E: O trailer é fraquinho e a quantidade de palavras nele contidas vai contra a natureza do filme. 3-Iron é um romance progressivamente surrealista em que os planos de mood - característicos do cinema asiático - são aplicados com excelência. Os protagonistas não dialogam. Expressões faciais, gestos, posturas e atitudes dizem o que há para dizer. É um trabalho que lida com o conservadorismo, a misoginia e o anseio de libertação, quer corporal quer espiritual. Ou até mais com a confiança, a fusão de hábitos/personalidades e com a impermanência - o filme não é japonês, ainda assim transpira uma visão wabi-sabi do mundo. Vejo-me obrigado a destacar as camadas de significado conferidas a uma bola de golfe. Admirável. A Ásia fascina-me...



14. Em jeito de conclusão... Não quero amizade e amor por pressão social (claro que ela está impregnada em mim como em todos, só que neste aspecto é secundária). Durante a adolescência, descobri/experienciei durante alguns meses (em retrospectiva são só fogachos de paraíso) o que é ter amigos - o conforto, o humor, a diversão, a pertença, a confiança - e o que é estar com alguém de que se gosta - a intimidade a dois, a paz, o bem-estar como cenário mental mais habitado, fazer feliz a pessoa que mais se quer fazer feliz, uma vida que parece ir um pouco mais além dos limites corporais, de consciência e a energia expansiva inerente... Deduzo que toda a minha audiência imaginária saiba melhor dessas coisas "engraçadas" do que eu...

Eu anseio por conexão porque nada se lhe compara. É um clímax existencial. Estar sozinho é o dobro da dor e metade do prazer. Porque não há partilha do positivo e do negativo. Tudo perde sentido, tudo é insignificante. Como eu tenho sido quase sempre...

Só ser excepcionalmente bom em algo (hipérbole, bastava ser relevante a uma escala regional, sempre bastou...) poderia atenuar a angústia da solidão, mas sou apenas acima da média num par de actividades e isso não chega para ter impacto positivo noutras vidas ou num colectivo. Quanto mais só fico, mais crescem perfeccionismos, materialismos/quantificações psicológicas e digitais, obsessões compulsivas, de organização, que me levam a procrastinar e a fazer pouco de relevante no dia-a-dia.

Não sou um desígnio divino, nem tenho estrutura mental ou talento para me aproximar de um. Sou dolorosamente mediano (ou perto disso), sem que me seja concedido ser humano como quase todos são...