quarta-feira, 12 de novembro de 2014

"Quando As Palavras Falham, A Música Fala"

Enquanto as aulas (e o trabalho adjacente), conjugadas com aborrecidas e múltiplas actividades mundanas, me continuarem a entupir o tempo, fica este post. Este post relativo a acontecimentos celestiais cujo título talvez seja erróneo por, na verdade, ser a letra da música a falar sobre mim a falar sobre ti... <3


"I never felt like this with anyone before
You only have to smile and I'm dizzy
You make the world go round
A thousand times an hour
Just touch my head and send me spinning

I never felt like this with anyone before
You show me colors and I'm crying
You hold my eyes in yours
And open up the world
I can't believe all this
I can't believe all this

I want to keep this feeling
Deep inside of me
I want you always in my heart
You are everything
You are everything

I never felt like this with anyone before
You fill my head all full of rainbows
And all the rainbows is
Is every step you take
Is to be with you forever

I want to keep this feeling
Deep inside of me
I want you always in my heart
You are everything
You are everything
You are everything"

domingo, 12 de outubro de 2014

Festival Egocêntrico #5

De volta ao tipo de posts (agora com o título ideal) que está na razão de ser deste blog, aos recortes diários que me são quintessenciais. De volta porque recuperei nos últimos dias uma parte do "eu" ausente nos últimos meses: o querer. Um querer vítima do micro-atentado de 8 de Fevereiro de 2014, igualmente desconhecido como "Obrigado por teres sido o meu ego-vibrador em stand-by. Adeusinho.". A minha recém reencontrada motivação (rezo para que não fugaz) leva-me a revisitar aspectos a pender para o positivo de mais um monótono Verão há pouco findado. Mas, sobretudo, catapulta-me para expectativas de ser catapultado para cima da superfície do lago, para fora da cela em pedra de só viver por dentro. Sou, neste preciso instante, mais Narciso do que Sísifo. E, ainda que seja, como sempre, a frágil auto-imagem fundada no que julgo x, y ou z me julgarem, é bom recuperar vontade de mim - nos outros e no mundo. Pontos e interlúdios, aqui vou eu...

Interlúdio Z: Filmaço de David Fincher! Oops, pleonasmo. Belo jogo de ping pong entre a misoginia e a misandria. No fim ganha a fachada de inexistência das duas...



1. A primeira semana de aulas foi excruciante. Acabei o ano lectivo transacto completamente exausto do contexto em que estava, da presença de pessoas que só conseguia associar a mágoa, repulsa e às minha omnipresentes sensações de invisibilidade e inutilidade.  Eram um espelho do quão patético me sentia, mesmo que só uma delas - Miss Sinceridade - carregasse verdadeira responsabilidade... Tive de me atirar de cabeça para aquilo de que fugira a sete pés. Orgulho mais que ferido: trucidado. Cada dia uma fotografia presa na retina, cada entrada nos corredores da faculdade vexado em efeito phi. Na segunda semana pouco melhor estive, depois, com o auxílio de "potenciais cenas giras", a passadeira hedónica começou a impor-se. Neste momento, a imagem é mais vaga e o rancor adjacente suportável.

Interlúdio Y: Do que falo quando falo de uma coisa que me fez parte da coisa que sou hoje (a.k.a. obra-prima das obras-primas)...















"No dia 22 de Setembro de 2004 estreava na ABC um dos maiores fenómenos televisivos do novo milénio. O piloto de Lost era emitido com a distinção de ser o mais caro de sempre, um projecto arriscado do ponto de vista financeiro que tentava transpor Cast Away do cinema para o pequeno ecrã e "ordenhar" a premissa do bem-sucedido reality show Survivor. Contra as expectativas dos próprios criadores, Lost arrasou nas audiências e a crítica, unânime, estendeu a passadeira vermelha à sua temporada de estreia." (Artigo completo no Espalha-Factos.)

2. Quanto ao motivo externo que me ressuscitou a vontade... Bem, basta dizer que é um ser humano. Para já, é "engraçado" que o princípio (se é que há algum) tenha sido tão cinematográfico, tão próximo de um embate aleatório (múltiplos, aliás). A minha atitude perante o assunto tem passado do defensivo para o reactivo (quiçá entretanto passe para uma iniciativa tímida)... Estou a e vou agir com uma sobredose de prudência; não quero que se voltem a alimentar do meu ego para reforçarem o deles. Óbvio que começo a sentir borboletas pela pessoa em causa (ou não estaria a escrever este ponto 2), porém o que aconteceu há 8 meses marcou-me...

Tenho total noção que há pessoas sem princípios morais. Sei que elas existem, mas crio-lhes uma espécie de barreira mental. Do mesmo modo que não esperamos vir a padecer de certas doenças graves (pensamos que a nós não nos acontecem), eu parto muitas vezes da ideia ingénua que todos aqueles com que lido no dia-a-dia têm esses tais princípios. Ou partia. Agora, acho, estou um pouco no extremo oposto - ambos são maus. Em relações pessoais, a desonestidade é a minha mágoa suprema. Ser alvo de mentiras deixa-me estilhaçado, a precisar de um longo período para me recompor e voltar a tentar ser humano.

É bom (muito) que me tenha deslocado para outra pessoa, não pensei que pudesse ocorrer tão cedo. Talvez esta seja a minha chance de voltar a ser importante para alguém, talvez este lugar e estes anos possam ser mais que um rotundo zero... Desta vez, há atitudes e sinais físicos iniciados no interlocutor; eu apenas reagi. É uma situação diferente.

Mas não vale a pena detalhar. Para já, o receio de que não seja nada está na dianteira. O receio que daqui a uns dias tudo o que acabo de escrever seja patético. O receio que se quebre a expectativa. O receio que no horizonte volte a ver só o costume: a mim comigo. E depois lá direi para o meu interior, em palavras aos sentimentos falsas, "Que se lixe, a vida continua.", quando tudo o que continua é a minha derrotista ânsia de viver uma...

Interlúdio X: A menos que Sonic Highways dos Foo Fighters me toque profundamente, está, creio, encontrado o meu álbum do ano. Lift A Sail não é nem vai ser o meu preferido de Yellowcard, mas respeito imenso que tenham saído da sua zona de conforto. Distantes do habitual e veloz pop punk, próximos do rock alternativo da década de 90. Som massivo e infusão perfeita de floreios electrónicos; um álbum diverso e sinérgico. Destaques: "Fragile And Dear", "Illuminate" e "Lift A Sail".

  

3. Considerações sobre o Verão e os meus primeiros dois anos de licenciatura:

-Neste período estival, aprofundei-me numa organização pessoal que já vem do início de 2013. Sou um perfeccionista - a pender para a obsessão compulsiva - em termos de organização. "Limpei" o meu quarto e tenho feito o mesmo com os meus ficheiros digitais. O objectivo é concentrar, simetricamente, por tipo e sem falhas, todos os objectos que me interessam e separá-los de todos os que não me interessam, distinguir o que pretendo perene daquilo que pretendo efémero. Este processo "mói-me" o cérebro, está longe de estar concluído na parte digital e é importunado por procrastinação hardcore. Todavia é uma fantasia de controlo, uma de possível realização. Ao cumprir parte dela, fico *inserir percentagem abaixo dos 1%* mais realizado.
 
-Os últimos dois anos foram ruinosos a nível social, mas sei que ter ido para longe de casa foi a melhor decisão, não só pelo curso. Estou progressivamente mais solto, comecei a desenrascar-me com algumas burocracias e sou bem mais empático, consciente, tolerante e aberto do que era em Setembro de 2012. Tivesse permanecido em casa, na Beira Inferior (sim, com "f"), e este crescimento seria nuns aspectos nenhum e noutros demasiado lento. Ainda há vários pontos cegos por corrigir, espero corrigi-los antes de terminar de vez os estudos...

Interlúdio W: Tiravas-me as palavras da boca. Se eu falasse, claro está...
 

"I'm just a face without a choice
I trust you'd never like to guess
What I think above the shoulders
10 years old without a voice
I feel like nothing's really changed
Now I'm just a little older"


  

4. Considerações sobre a etapa final da licenciatura e o futuro:

-Estou especialmente apreensivo face a este terceiro e último ano de licenciatura. O regulamento de avaliação mudou e vou ter de fazer várias apresentações orais. Como a minha ansiedade social dispara nesse contexto, necessitarei de me esquivar com exposições assentes na leitura e esperar que nenhum professor indique, estupidamente, que não posso ler. Junte-se a isso uma carrada de trabalhos escritos. São tantos que não dá vontade de fazer nenhum. Sinto que não posso dar o meu melhor quando tenho de me focar em muitas coisas em simultâneo. É uma das tais coisas que me queima o cérebro. Com tudo isto, manter a média vai ser... Ugh... Pensar no assunto dá-me náuseas mentais... Se baixar um valor fico insatisfeito, mais do que isso ficarei fodido comigo mesmo. No ano em que tenho as melhores disciplinas, tinha de haver algo para estragar tudo. É que se, como é provável, estes três anos culminarem como um deserto de vivências, só uma classificação académica excelente pode atenuar essa ultra frustração.

-Incerteza imensa quanto ao mestrado a escolher. A ser no meu curso seria para me especializar em cinema, contudo parece-me que o plano curricular é desinteressante e oferece pouco de novo; a ideia que sempre tive, a do Jornalismo, causa-me hoje em dia alguma repulsa porque predomina um tipo circunstancial, de eventos, de lógica quase só comercial em que os pensamentos luminosos, a qualidade e o espírito crítico são secundários; de resto não encontro nada que faça o mínimo de sentido para o meu futuro profissional. Se optar por Jornalismo, também não sei onde... Coimbra ou Covilhã, suponho.

Interlúdio V: Se me perguntassem o que mais desejava que pudesse suceder em termos de séries televisivas ou a minha maior mágoa quanto a projectos cancelados no meio, responderia sempre que queria mais de Twin Peaks (criminoso ter terminado num auge que fazia antever outros auges). Adicionaria que não contava com isso.

Entretanto... Boom! 9 episódios novos anunciados para 2016 - obrigatório sobreviver até lá! David Lynch não é só um génio, é também o meu génio preferido em toda a humanidade. Aos pulos e com um par de lágrimas, logo que soube! :'D


5.1. Sobre desporto... Este Verão voltei a jogar "futebol" (futsal) "a não brincar" com regularidade. Claro que em torneios da treta, sem a motivação que uma competição federada acarretava quando eu estava bom da cabeça, mas o saldo foi surpreendentemente positivo. Estive mais vezes bem do que mal, senti-me reabilitado, consegui destacar-me. Muitos golos e provei a mim mesmo que consigo estar em óptima condição física nuns dois meses. Infelizmente com o retomar das aulas volto a perder andamento - correr não basta, estar em campo requer movimentos diversos, outra coordenação motora, etc.; aqui só tenho hipóteses de jogar uma vez por semana e num ritmo baixo.

No fundo, o que sabe melhor é ser importante para algo maior, para um colectivo. Com as minhas idiossincrasias mentais, só me é possível sê-lo se me derem protagonismo, se for dos que têm mais capacidades na minha equipa, se gostar de jogar com quem estou a jogar, se for sempre apoiado (mete-me nojo existirem pessoas que criticam colegas em campo por razões outras que individualismo ou indisciplina) e se não me fizerem sentar o cu no banco quase todo o tempo no caso do futsal... Tive tudo a meu favor este Verão, foi porreiro. Nunca mais me comprometo com ninguém não existindo esses pré-requisitos. Já aprendi a lição, a sua ausência aniquila-me a auto-estima.

De qualquer maneira, constato um vazio sem futebol a sério. Gostava de nunca ter deixado de jogar, mas, e para além de condicionantes pessoais/profissionais, a transição das camadas jovens para os seniores é complicada. Passa-se para um futebol de contacto físico, sem espaço (não sei jogar sem espaço), sufocante... Há quem não se adapte, como eu. Mais do que isso, não tinha/não tenho/não vou ter capacidades para ser titular só por me aplicar nos treinos. Visto que um campeonato distrital corresponde ao nível mais baixo, é difícil ter vontade de lutar por um lugar num onze inicial (acrescente-se que já perdi três épocas de provável evolução, algo irrecuperável). Pelo menos a minha perspectiva é esta: "Se os meus atributos não chegam para uma divisão distrital, ando a dedicar tempo à actividade errada". É pena (para mim), mas é assim a vida.

Interlúdio U: Um hino à adolescência, ao drama inerente. Gostava de viver no universo desta canção, na angústia acolhedora transmitida. A ambiência capturada por bandas pop rock dos anos 90 como os Third Eye Blind e os Gin Blossoms derrete-me os sentidos. Nostalgicamente apaixonado. <3



5.2. Noutro plano, há duas semanas, participei pela primeira vez numa maratona, mais precisamente na 1ª mini maratona de Coimbra. Terminei num modesto 65º lugar (acabaram a prova cerca de 400 pessoas). Procurava fazer os 10km em menos de 50 minutos e pelo menos isso cumpri: 46m e 47s. Com fôlego para menos uns 30 segundos/1 minuto, mas a gerir por pensar que teria uma subida longa no final (afinal não tinha)... Foi a terceira vez que corri semelhante distância e a primeira sem o "luxo" de quebras de ritmo a meio para recuperar. Fiquei minimamente satisfeito e, sobretudo, foi uma experiência agradável. Espero vir a participar noutras do género - acho que, com preparação, posso rondar os 45 minutos... Desde que iniciei o ensino superior, correr passou de actividade desportiva complementar/secundária (ao futebol) a principal. O que antes fazia somente para manter a forma, hoje faço também por prazer, pela libertação de stress, pelo "runner's high"...

Poslúdio: Nos últimos tempos dei por mim a pensar que a minha existência (e mais umas quantas) é definida pela frase/expressão mais ouvida e irritante do 5º ano de escolaridade: "A Reconquista foi um processo de avanços e recuos". :/

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Update Pessoal #Sempiterno

Sou a puta de um génio... quando é para queimar pontes e ficar a arder. Afogado.

É um sinal do meu estado ter pouca motivação para escrever este post e saber o que nele expressar. Ainda assim, constato essa necessidade - de leveza via letras. Estou ok, estou ok em estar ko em tudo o que não me faz sentir bem estar ko.

Os lamentos de sempre evaporaram-se em smog e passaram para o ar que respiro. Tal como eu desapareci do mapa e me tornei um fantasma à procura de espelhos. Oh, a ironia... Como se me pudessem ver, quanto mais perceber e, acima de tudo, querer saber. Não há validação externa, como poderia haver interna quando preciso de alguém que não eu, mas como eu... Profundamente. Intimamente. Desde sempre.

O que me magoa passou para pano de fundo, um background omnipresente contaminante de todas as áreas da minha existência com idiossincrasias doentias. Se os tais lamentos já eram, salvo excepções, interiores na minha adolescência, agora são interiores ao meu interior. Quero, mas não quero exteriorizá-los, por isso fechei-os num cofre com uma password seleccionada no inconsciente. Exausto de me sentir magoado por seres humanos, isolo-me mais. Mais e mais. A falta de acção fixou-se como vontade involuntária. Pondero contactar os responsáveis pelos Guinness, talvez seja o ouriço com os maiores espinhos do planeta - mas nem sei se no meu há livros de recordes.

E podia continuar horas e horas a deambular entre metáforas, lugares-comuns meus, OVNIs teus... Quanto mais quero deixar claro o âmago, menos consigo. Desvio-me de ti, sempre, de tudo. Não posso ser humano se sou alien para todos os outros. Não na minha concepção do que o é ser.

Vou por pontos. Única forma de não me espalhar tanto. De qualquer modo não vou conseguir dizer tudo o que pretendo. Já não dá porque são demasiados aspectos com demasiados estratos. Ademais, sou uma aranha na teia, só sei circular na falta de soluções, tecendo uma perífrase monumental há meia década.

1. Dessincronia. Tenho a cognição adequada à minha idade presa num ego com 14 anos de inteligência e experiência sociais.

2. Sinto-me patético ao pé de criaturas da minha idade, que partilham os mesmos contextos. Basta ver proximidade, ouvi-los falar de tal, perceber que quase só eu não a tenho para me sentir mal, desajustado. Estabelecer relações interpessoais é o que mais quero e tem sido assim desde os 14 ou 15 anos. Paradoxalmente (estou a abarrotar de paradoxos), estar com outros acentua a minha solidão. Se bem que isto só dói a sério se considerar ser humano x interessante, se me identificar com ele a nível de interesses, opiniões, se tiver com ele uma relação de conhecidos...

Interlúdio A: O lead single do próximo álbum (a expectativa é que esteja no meu top 10 de 2014) dos The Gaslight Anthem é inusitadamente lento e uma das melhores canções da banda até à data. Chega a êxtases de emoção como "Handwritten" ou "The '59 Sound". A letra de Brian Fallon, como é norma, evidencia o o seu dom com palavras. Relaciono-me com o refrão sarcástico: "I came to get hurt, might as well do your worst to me".



3. O que mais me magoa: quando uma pessoa passa tempo comigo com regularidade (conversando sobre diversos assuntos) e entra em contacto, por sua iniciativa, para lá de um contexto partilhado (por exemplo, somos colegas de turma e decide falar comigo pela net ou convidar-me para algo de forma recorrente), sendo que no entanto não se pretende aproximar de mim, estabelecer uma relação verdadeiramente humana. Consequências: frustração transcendente, repulsa, humilhação interior, incompreensão. Deixam-me me criar expectativas, afeiçoar-me para nada. Sinto-me usado, gozado... Sei que não é essa a intenção, é somente o efeito de me tomarem como indiferente quando as suas atitudes não apontavam para tal. (Conto uns 5 casos destes na minha vida até agora.)

Insensibilidade e indiferença! Do pior que existe... Ninguém tem de gostar de ninguém, mas é simplesmente nojento para mim que estejam/falem, se aproximem só para preencher espaço, porque não suportam estar sozinhos, quando, verdade seja dita, se estão a lixar para o interlocutor... Como disse, dão-me a entender que sou um ser humano prioritário nas suas existências sem que o seja de facto. Não suporto ser secundário, figurante quando o seu comportamento indica para que não o seja e quando eu, recíproco, já deixei claro que os tomo como importantes. Estou numa posição frágil, visto que é fácil alguém se tornar um peso pesado na minha microscópica existência - enquanto eu sou uma pluma na deles que têm contacto humano regular.

Isto não ocorre muitas vezes, até porque nunca me aproximei de muitas pessoas, porém quando acontece destrói-me emocionalmente. Perco motivação para ter qualquer iniciativa ou correspondência em me aproximar de alguém, pois até quando não tomo o primeiro passo isto se passa. Quase sempre.

4. Eu entendo que a minha postura, a minha expressão facial são pouco convidativas a diálogos. O meu exterior tende sempre para a apatia e compreendo que seja o que os outros captam. Contudo, se para uns ou em certas coisas imponho demasiado respeito, também sinto que para outros ou noutras o facto de ser solitário é repelente, motivo de desprezo e de me inferiorizarem. Podem considerar-me porreiro, boa pessoa, no entanto ninguém quer mesmo proximidade comigo. 

5. Estar só focado em mim e isolado torna-me pior pessoa. Sou egocêntrico em níveis exagerados, porque não tenho impacto positivo na vida de ninguém. Não me consigo preocupar com o que quase não existe no meu interior: pessoas próximas. 

Interlúdio B: Damon Lindelof, a principal mente criativa de Lost (aka obra-prima das obra-primas), regressou à televisão na fiável HBO (com a adaptação de uma obra literária). Como esperava, estou a adorar.

Quatro episódios in The Leftovers é um tour de force sobre a angústia, a confusão, a anomia de viver após um evento inexplicável: 2% da população mundial desaparece subitamente. A série não se funda na busca de uma resposta e, muito por isso, excepcionando um prólogo e fogachos de flashbacks, o que acompanhamos são as existências quebradas dos que ficaram, três anos depois do sucedido. Justin Theroux (Six Feet UnderMulholland Dr.) dá corpo ao protagonista Kevin Garvey. É um chefe da polícia inseguro e alcoólico (vários paralelos com o Jack de Lost) que tenta manter a normalidade numa sociedade (e numa família) fragmentada, agressiva, envolta em novos cultos ou perspectivas.

É uma série meditativa (com espasmos de violência extrema), repleta de simbolismos, opressivamente sombria e com um foco total no conflito interno de personagens que estão tão perdidas como as de Lost ou Six Feet Under. De certo modo, The Leftovers vem preencher o vazio televisivo de obras que colocam o existencialismo em primeiro plano. Distingue-se por uma atmosfera gélida e por uma estrutura narrativa incerta, deambulante – aspectos que também caracterizam os habitantes de Mapleton (Nova Iorque) retratados. Ver The Leftovers é trazer ao pensamento aqueles arrepios do ego derivados da migalha cósmica que é ser humano. Porque a nossa certeza é só uma: um dia vamos todos morrer.



6. Cresci, principalmente na adolescência, de uma forma invulgar. O isolamento deu origem a e aprofundou idiossincrasias. Acham-me estranho, inadequado, entediante e, do mesmo modo, eu acho muitas das convenções sociais desinteressantes, altamente aborrecidas. Festas, actividades, cerimónias, conversa fiada em que não há contacto humano, só um passatempo. Deve-se fazer tudo de determinada maneira e ao que parece ainda bem que é assim. Só consigo encontrar interesse em certas coisas se for para estar com pessoas de que goste, com amigos... Como só existe uma pessoa que possa considerar amiga e estou com ela fisicamente umas três vezes por ano, essa hipótese de interesse mal se coloca hoje em dia. Sou um permanente choque cultural andante.

7. Adoro conversar sobre ideias, pensamentos e sentimentos, mesmo que não sejam os meus. Gostava de falar nisso no dia-a-dia. Era algo muito fixe que tive a certo ponto no secundário... O que oiço e aquilo em que me é possibilitado participar são quase sempre conversas de treta sobre eventos, actividades, rumores, pessoas... (Nada contra não fosse o seu domínio absoluto.)

8. Não gosto que seja bom ocultar defeitos, fraquezas e que, em contrapartida, seja positivo alguém se gabar perante os outros. Contudo, vejo-me quase obrigado à parte de ocultação, porque todos o fazem e ao que parece é melhor ter sorrisos forçados na cara, ser muito alegre do que ser-se sincero, mostrar-se tristeza e emoções feias (como raiva) quando elas existem. Eu escondo o negativo com cara de quem não quer saber de nada... Na minha utopia mesmo o que está mal é exprimido, de forma consciente e sensível.

9. Só as poucas pessoas isoladas, invisíveis (mesmo que por outros motivos) me poderão aceitar, compreender e só elas me poderão vir a considerar importante na vida delas. Não aceito, nem tenho qualquer iniciativa com pessoas que eu perceba terem uma rede social extensa, pois convenci-me que também não me irão aceitar. Se já têm muitos seres humanos na sua vida, eu não vou servir para nada, vou ser uma formiga. São preconceitos que não consigo evitar, encontro fundamentos para os ter: experiências passadas.

10. Mais uma vez vou ter de adiar tudo. Até ao final da licenciatura já não posso fazer nada. Necessito de partir do zero com pessoas diferentes (o problema é que dificilmente encontrarei pessoas que estejam também num estado zero).

Interlúdio C: Há artistas musicais que vagueiam no teu radar durante anos. Porque o primeiro contacto não te instigou a aprofundares-te neles, acabas por ignorá-los. Os Silverchair contextualizam-se aí para mim. Pelo meu histórico de gosto estético, se tivesse ouvido "Miss You Love" há 2 ou 3 anos atrás, adorá-la-ia desde então. É sobre depressão e incapacidade de sentir. Belo vídeo! A ideia de visionar um filme romântico sozinho no cinema é ultra melancólica. A dicotomia estabelecida entre o escuro do lugar do espectador e a claridade da tela, o visionamento a solo em contraste com os demais ladeados por "gente querida", entre outros aspectos, cativa-me imenso. Cria-se uma micro-cidade, mas o escuro e o escapismo da arte potenciam uma tristeza feliz, sonhadora. É algo no qual quero pensar e sentir para então conceptualizar. Tenho a minha experiência com o Her, logo numa altura em que andava desolado e hipersensível, para ajudar.



11. Há tantas histórias, tantos exemplos de pessoas que se sentem mal, isoladas, em fase casulo no secundário e que depois, nos tempos de faculdade, superam isso... Parece ser assim com quase todas. Comigo não só não foi, como as coisas pioraram (apesar de sentir que cresci, melhorei, etc.). Os últimos dois anos correspondem ao período de maior solidão da minha vida. Nunca senti a mesma angústia, impotência que já senti durante este período em determinados momentos. Antes, bem no fundo, acreditava que era provável as coisas mudarem.

Muitas pessoas têm sempre aqueles sonhos/objectivos de dificílima realização. Para mim, algo tão simples, normal, natural como ser próximo, importante, permanente para outros seres humanos tornou-se, tristemente, num desses sonhos...

Quando se chega ao ensino superior praticamente a zeros em relações, estes tempos tornam-se quase uma questão definitiva de "ganhar ou perder". No meu caso em específico, existiu no início a hipótese de criar algo com pessoas sem vida estabelecida na cidade para onde fui estudar. Não aconteceu, independentemente das razões... Essa hipótese esgotou-se. Aproximei-me um pouco de 4 pessoas, mas só havia à-vontade e não conexão. Além de que já estavam enquadradas no lugar em causa, sem disponibilidade/interesse em outras. E duas delas tiveram comportamentos incorrectos comigo, sobretudo...

12. O "caso especial". Nunca gostei tanto de alguém a nível amoroso, logo quando menos esperava que pudesse sentir cenas tão giras. Avancei (nunca tive iniciativa antes; sempre tive medo de rejeições; raras vezes as minhas paixões passaram de projecções de ideais em mentes e corpos desconhecidos, também por isso a norma era ficar em silêncio) com muita cautela durante cerca de três meses, sem grandes esperanças, cada vez a gostar mais. Iam-se formando laços de conhecidos a pender para algo mais humano, a comunicação no dia-a-dia aumentava/naturalizava-se e os meus flirts não eram mal recebidos (só se fosse ultra estúpido é que insistia após negas)... Depois, num intervalo lectivo, a situação tem óptimos desenvolvimentos, conversas longas, de vertente pessoal, feedback inesperado, etc. Até concluir que...

Fui objectificado para vaidade e aumento do ego numa lógica de "Estou-me a cagar para ti, não pretendo sequer ser tua amiga e gosto de outra pessoa há imenso tempo (nota: dito pela própria no fim). Todavia, enquanto não se concretizar nada com ela, vou dar-te atenção, falar contigo via online (ou seja, procurar-te na tua ausência) por iniciativa minha (2/3 das vezes) quase todos os dias durante mais de uma semana, retribuir elogios aqui e acolá e fazer-me de surpreendida quando falares bem de mim. Tudo porque gosto da atenção que me dás. Que te possa magoar não me interessa, nem é algo que me passe pela cabeça... Quando a relação que eu quero se iniciar, faço-te saber disso e sirvo-me dela para te mandar ir dar uma volta com uma indirecta, porque já não me dás jeito". (A ironia de eu me colocar no lugar do "caso especial" deste modo é que eu nem a uma frase devo ter tido direito na consciência dele.)

Poderiam ser suposições minhas, deixam de o ser a partir do momento em que de um dia para o outro essa pessoa muda de "só muito recentemente percebi que gostas de mim" para "já tinha percebido há bastante tempo que gostas de mim". ORA FODA-SE!!! Mas deste-me bola... Não consigo, não consigo compreender certas atitudes de gente adulta, ainda para mais quando essa pessoa salientava o quanto gostava de estar sozinha e o quão ocupada era a sua vida. Aceitava que só me visse como potencial amigo e, a seguir ao que ocorreu, deixei mesmo bem claro que desejava que pudéssemos sê-lo (reagiu com indiferença e desprezo).

Aliás, sendo honesto, mais do que qualquer não correspondência amorosa (que ultrapassei e que podia estar em sintonia com atitudes que ela foi tomando), o que me "matou" foi mesmo perceber depois que nem era ao menos uma questão de amizade (o que consolidou a minha versão como mais que uma suposição; a sua atitude seria bem menos ranhosa nesse eventual contexto no fim de contas falso). É que, ainda por cima, numa conversa comigo, tinha-me incluído estranhamente num grupo de meia dúzia de pessoas que afirmou serem aquelas com que melhor se deu em toda a vida no que a colegas de turma diz respeito. Passado tudo isto, não se dignou sequer a uma justificação ou a um lamento sincero e empático pelo que fez... 

Lá segui eu, simpático até de mais, a pedir desculpa por coisas de que não tinha culpa (agora sinto-me embaraçado por ter sido subserviente e não lhe ter dito o que merecia ter ouvido), enquanto estava destroçado por dentro. A indiferença de que fui alvo não ultrapassei, reanimou outras ocorrências. Junte-se o facto de me ter tornado susceptível a ficar afectado com tudo, ainda mais hipersensível do que já sou durante uns meses. Hoje estou a escrever acerca do assunto - provavelmente não o faria se já não sentisse mágoa.

Enfim... Espero um dia "conseguir" gostar de alguém assim ou até mais... E que nessa altura seja alvo de outra consideração, tratado como um ser vivo. Um dado adquirido é que não me volto a expor tanto...

Interlúdio D: Em Abril/Maio aproximei-me de um subgénero musical que até aí só conhecia de nome: slowcore/sadcore (auge nos anos 90). Letras sombrias, tempos muito lentos e melodias sorumbáticas. Sintomático do meu estado de humor de então... American Music Club, Ida, Carissa's Wierd foram bandas com que me conectei. Dito isso, a grande descoberta foram os Red House Painters, a minha revelação musical de 2014. "Have You Forgotten" até é menos depressiva que boa parte da discografia em que encaixa ("24" é perfeita para chafurdar na lama). Trata-se de um olhar nostálgico, contemplativo sobre a infância, a adolescência, a grandeza das pequenas coisas. "The smell of grass in Spring / And October leaves cover everything." <3 



13. Realisticamente, não tenho outro lugar onde conhecer pessoas senão as aulas, não fossem elas e estaria sempre sozinho como acontece no Verão em que só estou com outros (sem contar com os meus pais) um par de vezes por semana para jogar futebol. E tenho interesses tão reduzidos, concretos, individuais... Agrada-me estar sozinho, mas a minha introversão tem limites, detesto sentir-me encarcerado (óbvio).

Neste momento visualizo uma só brecha nesta situação. Os 2 anos que tenho de mestrado (ainda não sei onde nem no quê)... Talvez aí possa conhecer alguém... A probabilidade sobe um pouco visto que em princípio não vou fazer mestrado no meu curso (logo vou estar com outras pessoas)... Ainda assim comigo é sempre mais provável não ocorrer do que ocorrer... Nem chego a conhecer indivíduos suficientes para me deparar com identificação mútua. Para além de que estou muito céptico de que haja grande interesse dos outros em formar relações com colegas de turma nesta fase tardia...

Depois disso, tudo leva a crer que o mercado de trabalho seja uma espécie de faculdade ao quadrado em termos de criar relações. Isto no sentido em que aquele factor de dificuldade de as pessoas já terem um círculo de pessoas próximas se acentua e de passarem a ser mais nessa situação. O tempo livre é menor, o ambiente é mais de profissionalismo e menos de convívio, informal... Isto contando que irei assegurar emprego na minha área de estudos. Não sendo assim, é ainda mais improvável existirem interesses semelhantes que possam promover uma conexão. 

As perspectivas de em Julho de 2017 eu ainda andar a ansiar por 2 ou 3 vínculos humanos são bastante boas (também sei ser positivo).

Não sei, não sei mesmo como vou encarar décadas de insignificância que hoje, fruto da idade e de ainda ser estudante, vou disfarçando de mim próprio com gotas de motivação derivadas de uma réstia de esperança no horizonte.

Interlúdio E: O trailer é fraquinho e a quantidade de palavras nele contidas vai contra a natureza do filme. 3-Iron é um romance progressivamente surrealista em que os planos de mood - característicos do cinema asiático - são aplicados com excelência. Os protagonistas não dialogam. Expressões faciais, gestos, posturas e atitudes dizem o que há para dizer. É um trabalho que lida com o conservadorismo, a misoginia e o anseio de libertação, quer corporal quer espiritual. Ou até mais com a confiança, a fusão de hábitos/personalidades e com a impermanência - o filme não é japonês, ainda assim transpira uma visão wabi-sabi do mundo. Vejo-me obrigado a destacar as camadas de significado conferidas a uma bola de golfe. Admirável. A Ásia fascina-me...



14. Em jeito de conclusão... Não quero amizade e amor por pressão social (claro que ela está impregnada em mim como em todos, só que neste aspecto é secundária). Durante a adolescência, descobri/experienciei durante alguns meses (em retrospectiva são só fogachos de paraíso) o que é ter amigos - o conforto, o humor, a diversão, a pertença, a confiança - e o que é estar com alguém de que se gosta - a intimidade a dois, a paz, o bem-estar como cenário mental mais habitado, fazer feliz a pessoa que mais se quer fazer feliz, uma vida que parece ir um pouco mais além dos limites corporais, de consciência e a energia expansiva inerente... Deduzo que toda a minha audiência imaginária saiba melhor dessas coisas "engraçadas" do que eu...

Eu anseio por conexão porque nada se lhe compara. É um clímax existencial. Estar sozinho é o dobro da dor e metade do prazer. Porque não há partilha do positivo e do negativo. Tudo perde sentido, tudo é insignificante. Como eu tenho sido quase sempre...

Só ser excepcionalmente bom em algo (hipérbole, bastava ser relevante a uma escala regional, sempre bastou...) poderia atenuar a angústia da solidão, mas sou apenas acima da média num par de actividades e isso não chega para ter impacto positivo noutras vidas ou num colectivo. Quanto mais só fico, mais crescem perfeccionismos, materialismos/quantificações psicológicas e digitais, obsessões compulsivas, de organização, que me levam a procrastinar e a fazer pouco de relevante no dia-a-dia.

Não sou um desígnio divino, nem tenho estrutura mental ou talento para me aproximar de um. Sou dolorosamente mediano (ou perto disso), sem que me seja concedido ser humano como quase todos são...

quinta-feira, 13 de março de 2014

Empatia / Simpatia

Daqui. Um dos meus sites favoritos e este artigo é excelente...

"A verdade é, raramente pode uma resposta tornar algo melhor - o que torna algo melhor é conexão". Como concordo com isto... Fantástico quando conseguimos estar com alguém em silêncio, quando falamos sem ter de falar, quando em vez de julgarmos compreendemos e aceitamos... É como uma ponte entre consciências... E acho que poderia ser um fenómeno um pouco mais presente, se a maior parte das pessoas não preferissem conversas banais a conversas sobre ideias, pensamentos, sentimentos (ou então a explicação advém da tal deprimente construção social de que falar sobre essas coisas é uma demonstração de fraqueza). Na minha experiência, são, quase sempre, essas conversas que possibilitam a tal conexão no silêncio, porque partilhámo-nos com determinado ser humano de antemão.

O vídeo a seguir foca-se na diferença entre simpatia e empatia. Em relação a isso, só queria expressar que considero a simpatia sobrevalorizada. É, muitas vezes, superficial e enganadora. Quantas vezes não passa de uma atitude conforme as regras de etiqueta, de gentilezas, de tentar ocultar defeitos (que num mundo melhor seriam assumidos e exteriorizados) e de passar a ideia que está tudo perfeito... Também já me aconteceu aproximar-me de pessoas altamente simpáticas para vir a perceber que num registo mais íntimo estas são frias, indiferentes e sem qualquer preocupação em não magoar interlocutor x, sem empatia... Com pessoas não exageradamente simpáticas, este problema não se coloca, pois não permitem que se construam expectativas e por tenderem a ser mais honestas (parto da minha experiência).

Na simpatia há apenas um reconhecimento do estado da outra pessoa. Não há disponibilidade para encontrar dentro de nós a emoção, a dor, a alegria dela. Aí há empatia, é um pouco como identificarmo-nos com a personagem de um filme, por exemplo. Claro, a intenção de se ser simpático pode até ser boa (será assim na maior parte dos casos). Só que no fundo revela distanciamento e quando a emoção dessa outra pessoa é negativa, a tendência é apenas para a tentar negar e não para a compreender...

De destacar isto, por último: "A vulnerabilidade não é boa nem má. Não é uma emoção sombria, nem é sempre uma experiência positiva, luminosa. A vulnerabilidade é o núcleo de todas as emoções e sentimentos. Sentir é ser vulnerável. Acreditar que a vulnerabilidade é uma fraqueza é acreditar que sentir é uma fraqueza."


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Her

Her é um filme situado num futuro próximo que reflecte a contemporaneidade em espaços urbanos de países desenvolvidos. Nessa senda, se por um lado acompanha o retrato citadino moderno de Lost In Translation com uma fotografia polida e saturada, há por outro quase uma oposição na exploração dos mesmos temas de vazio existencial e ânsia de conexão. O início do século XXI de Tokyo em que as relações interpessoais aleatórias eram ainda uma possibilidade forte transforma-se na L.A. do futuro próximo de Spike Jonze em que o mundo digital, completamente impregnado nos diversos ramos da sociedade, as limita a um carácter secundário, de chances frágeis. Não o afirma em julgamento, mas sim em contemplação.



A noção de solidão em conjunto é explorada, tanto no caso específico de Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) como nos sucessivos planos de indíviduos em contacto, via auricular, com os seus sistemas operativos, em espaços públicos lotados. Porém, ao remeter para a era da singularidade, o conceito do que é uma relação verdadeira é problematizado. Samantha (voz de Scarlett Johansson) é um de múltiplos exemplares de tecnologia artificial, é moldada a partir do seu portador Theodore, mas a verdade é que acaba por se assumir em definitivo como uma consciência, por ganhar uma voz livre. Não será a relação entre os dois mais real, honesta per se do que no momento em que Samantha propõe anular a sua descorporização através de um avatar humano?  

O filme nunca se toma a si mesmo num registo de total dramatismo e isso contribui para a transmissão de melancolia. Essa alegria de estar triste está no humor relativo às cenas dos videojogos, no minimalismo da banda sonora dos Arcade Fire ou mesmo no conforto, no apelo que a predominância de vermelhos gera.


















Theodore é um paradigma estranho da sociedade em que se insere. Tem como emprego a escrita de cartas para a relação de outras pessoas e fá-lo com competência, contudo também ele é entorpecido, revela semelhante incapacidade de expressão, provavelmente decorrente do hábito de que a tecnologia aja em nome do indivíduo. As suas constantes hesitações ao falar são disso sintomáticas. A insistência em grandes planos e no íntimo do apartamento do protagonista facilitam a empatia. 



















Her poderia estar sujeito à crítica de ser o exercício de um fetiche machista de um homem apático, auto-indulgente e deprimido. Essa crítica seria apenas um juízo moral e nunca qualitativo, a meu ver, no entanto o desenvolvimento narrativo elimina essa hipótese. Theodore reconhece a sua objectificação da ex-mulher Catherine (Rooney Mara), face à qual, com o tempo, passou a amar mais a ideia de estar casado do que a própria pessoa. É a transcendência em liberdade de Samantha que o consciencializa dos permanentes idealismos, que o torna capaz de transpor para o seu próprio relacionamento com Catherine a habilidade para a escrita de sentimentos, de reconhecer erros e elevar a gratidão por um passado em que cresceram juntos.

Os últimos momentos da obra são poderosos, culminando com um plano em que a amiga Amy (Amy Adams) pousa a cabeça no ombro de Theodore perante a paisagem urbana nocturna a partir do topo de um prédio. É um gesto de conexão, de dois seres humanos esfolados, cuja cabeça faz escala em situações existenciais simétricas e que evoca a mesma melancolia sublime de Wong Kar-Wai ou Sofia Coppola.

















Um aparte: entrou no meu top 10 de todos os tempos e motivou-me uma ideia interessante que conceptualizo como simbiose estética.

Já tinha falado de Her antes, de quanto expectava este trabalho pelos temas analisados e pela estética adoptada. Agora, em avaliação, confirma-se aquilo de que estava à espera: adorei, achei soberbo.

Cada vez me identifico mais com esta união temático-estética (semelhante à de Chungking Express e Lost In Translation, por exemplo). Deduzo que existiram, em primeiro lugar, elementos nestes filmes em que me revi e, em simultâneo, rever-me neles tornou-me num ser mais próximo (ficaram tatuados nos meus sentidos). Moldaram-me os ideais, os valores, a noção de beleza e romance (entre outras) e, por conseguinte, a minha predisposição é cada vez mais para me apaixonar por obras assim... São versões artísticas do ser que sou (e elas criam muito desse "sou"), são um espelho que me confere validação externa, conexão humana. Apresentam-me o máximo a que posso - sendo realista - almejar na minha existência...

Update Pessoal #3

1. A menos que algo forte que motive expressão ocorra, vou entrar em blackout do "eu" (de posts deste tipo) nos próximos tempos. Estou cansado, exausto de mim, dos meus festivais de egocentrismo. Claro que eles acontecem por ter poucas pessoas com que me preocupar e por elas não estarem presentes fisicamente. Nada me daria mais prazer que poder focar-me, atentar em alguém que não eu. Acredito com convicção que tenho algo a oferecer a colegas de espécie. Frustra-me que males invisíveis, obstáculos interiores sejam a minha cruz a suportar, que nunca me faça ver...  

2. O que é que uma rejeição que foi, face aos desenvolvimentos recentes, inesperada significou para além da dor imediata e aguda que acarretou (ainda bem que esqueço estas coisas com facilidade)? Primeiro, a perda da expectativa foi uma artéria perfurada, um maremoto do subconsciente para o consciente de uma hemorragia interna que estava estanque. Essa hemorragia é o meu isolamento opressivo... É fodido. Tento sempre construir-me à volta de outras pessoas e nunca gostei de alguém assim... Neste caso, depois da desilusão inicial, custou mais compreender que ser humano x se está a lixar para mim a todos os níveis... 

Mas houve uma segunda consequência, uma luz. Falta encontrar o túnel que me leva a ela... Sofri uma injecção de niilismo, estou mais solto. Em relações, pior do que me aconteceu é improvável. Também reflecti a fundo sobre todas as vezes em que fui incorrecto ou não me expressei como devia com outros. Estou a fazer certas pessoas saber... Sinto que me tenho tornado melhor nos últimos meses. Mais flexível, empático, tolerante. Isto veio acentuar essa evolução. Noutro plano, se quiser ser positivo, há um número substancial de atitudes/acções/iniciativas tomadas nos últimos tempos (desde Dezembro e ainda mais depois do que aconteceu...) a que sempre fugi no passado. Só receio que aos 20 seja um pouco tarde...

Interlúdio: Isto x1000!!!

"I'm not saying that I'm giving up
I'm just trying not to think as much as I used to
Cause "never" is a lonely little messed up word
Maybe I'll get it right some day
For the first time in a long time I can say
That I want to try
I feel helpless for the most part
But I'm learning to open my eyes
And the sad truth of the matter is
I'll never get over it
But I'm gonna try
To get better and overcome each moment
In my own way"




3. Devia-me ter "vestido de palhaço" em permanência (não só de vez em quando) no início do ano lectivo transacto e devia ter anuído "sim" a mais coisas. Nunca me foi muito difícil actuar e era por aí que ia criar possibilidades. As pessoas simpatizam com quem baixa as defesas, demonstra as imperfeições e é activo, empático, cómico... Deixa de ser um concurso de ocultação de defeitos... Tive as minhas razões (para lá de transtornos psicológicos), mas nem as vou enunciar, pois eram erradas... Infelizmente, segui o meu retrato de adolescência: um tipo só sentado num banco. À espera. À espera de nada como se isso pudesse num tiro de sorte levar a tudo... Agora é complicado. É complicadíssimo fugir a ideias que se cimentam sobre algo ou alguém. E não visualizo nenhuma actividade ou lugar em que me possa recriar. Sempre isto...

4. Um amigo propôs-me uma determinada ideia e não podia concordar mais. Espero, portanto, que o que vou afirmar seja um pouco menos absurdo (para lá da parte de ser uma generalização). Se por um lado a interacção profunda com pessoal somente hedonista, que não tem anseios de instrução, é quase impossível (desde logo porque estes a desprezam), por outro há nos mais academizados, nos intelectuais algo que me é incrivelmente repulsivo: a colocação da razão num pedestal e, em alteridade, o julgamento de que a sensibilidade, a emoção é algo inferior, rasca... Aplaudo sempre esta citação: "O miserável receio de ser sentimental é o mais vil de todos os receios modernos." Eu estou a meio caminho dessas duas generalizações, o que é chato... Quero aprender, mas quero sentir com violência...

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Update Pessoal #2

De volta a uma determinada espécie de post... Mas é bom sinal que desta vez não tenha muito que reportar e que a sensação de fatalismo se tenha desvanecido. Sei que viver implica altos e baixos, só não quero desistir de realizações, de bem-estar emocional, de agarrar com agrado e perspectiva positiva a estrada em que estou. Tenho angústia que chegue (para impelir movimento) quando estou mais ou menos bem. Como agora...

1. Janeiro é me invariavelmente um mês tão opressivo, de desânimo avassalador, como a ressaca de uma antecipação de um clímax que não chega a acontecer e resulta em reset... Sabe bem poder emitir que em 2014 fugi à regra. As notas satisfatórias, por si só, não justificam este twist. O que mudou é que, através de tímidas iniciativas, sinto que estou a criar mecanismos que me permitem ter uma noção de possibilidade exterior (isto foi bué meta). Com isso quero dizer que parece possível desenvolver determinadas relações ou situações com outros seres humanos. Não estou num poço de alienação. Desde o final do secundário que não podia afirmar tal coisa. Tenho estado só sem ficar só, tenho alcançado solitude sem a necessidade de métodos de escapismo ou de entorpecimento como ocorre no Verão. Não posso voltar a isso, por mais que uma reacção anestesiante a que se conhece os cantos seja apetecível pelo conforto.

Interlúdio A: Estou numa fase doentia de The Cure. Adoro estas pancas que me aproximam de determinado artista musical, que me fazem escavar discografias. Já gostava bastante da banda em causa, agora esse gosto está a ascender a algo como um top 10 de todos os tempos, onde figuram bandas com que cresci, em que me moldei, melhores amigos. É ridículo que os The Cure sejam caricaturados como nada mais que uma banda gótica (numa acepção simplória) e melodramática... Disintegration é um dos melhores álbuns que alguma vez experienciei! Uma das canções que mais tenho ouvido (intitular "Untitled" um trabalho sobre incapacidade de expressão é tão inteligente):


 2. O que referi no ponto 1 tem também que ver com o facto de estar a sentir o que estou a sentir por ser humano x. Muito longe de idealismos estúpidos. Passou um milhão de anos desde que passei por um estado semelhante. É possível aliás que nunca tenha passado por isto desta forma. Não com esta certeza e prolongadamente. Quanto mais conheço, menos dúvidas tenho. Tomo-me como uma pessoa melhor ao empatizar com alguém em tamanho grau...

Além disso, não me tenho pautado pelo silêncio. Porque isto é real para mim. Tenho mostrado, tenho dito o que se passa de inúmeras maneiras sem, de verdade, o dizer... Não estou à espera... à espera de nada. Estou a iniciar, a lembrar x que eu existo, a lembrar-lhe que lembro a sua existência. Consequência: de súbito estou mais próximo do que parecia realístico há um mês atrás. As palavras saem tão leves, tão fáceis, sobre os mais diversos assuntos. Essa simples receptividade, sintonia tem me levado a segundos de melancolia transcendente, de êxtase emocional a que por norma só acedo pela arte e num nível mais ténue.

Se pessoa y demonstrasse interesse mais que "amigável" em mim sem que eu o reciprocasse, nunca permitiria qualquer aproximação. Ando a ser tão indirectamente óbvio (acho)... Porém o meu "óbvio" pode não o ser para o interlocutor e posso estar a ser visto como potencial amigo.

Esta ilusão, fundada em factos, faz-me bem, mas convém estar preparado para uma desilusão. É impossível deixar de ter expectativas quando não quero deixar de as ter... Logo se vê. Se for preciso chafurdar na lama, vou agir para que seja algo breve. Vou tentar não me oferecer, não voltar a sobrevalorizar pessoas que se estão a lixar para mim. Estou cansado de me fazerem sentir anedótico, inútil, etc.

Interlúdio B: Se em música tenho estado em mood para The Cure, em cinema tem sido o film noir a empolgar-me. Sempre simpatizei com a fotografia de alto contraste, com os cenários urbanos e nocturnos conjugados com personagens de moral ambígua, com tormentos psicológicos e com diálogo inteligente e cínico. No passado nada me encheu as medidas. Até que esta semana Out Of The Past me arrebatou. Aqui fica um trailer (ranhoso):



3. Metade da minha licenciatura está completa. Felizmente os mínimos que estabeleci no início do meu percurso no ensino superior deixaram de o ser após um único semestre. Aumentaram e mesmo assim tenho margem de manobra de cerca de 1,25 valores. Se acabasse com a média actual seria fantástico, mas não quero incutir em mim um acrescento a uma auto-pressão já exagerada. Num plano prático, para além de estar a adorar, agrada-me a sensação de estar a aprender, a melhorar, a descobrir em áreas que correspondem aos meus grandes interesses. Nomeadamente em cinema sinto-me hoje muito mais capaz de análise e portador de maior conhecimento histórico do que antes de começar o curso. Só continuo anómico face à escolha futura de um mestrado...

Poslúdio: Não acompanho Family Guy. Não sou grande fã, diga-se. De qualquer modo, esta cena é digna de um qualquer hall of fame:

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Short Term 12

Longo longo tempo se passou desde que um filme me afectou emocionalmente com tamanha intensidade. Desde já um favorito! Quando se trata de uma pérola indie, sinto-me na responsabilidade de tentar cooperar o pouco que for para a sua divulgação (se um ser humano vir a obra em causa pelo meu post já estou a contribuir para um mundo melhor). 



















Short Term 12 remete para um centro de acolhimento de adolescentes cujo staff é constituído por vários jovens nos seus vinte e tal anos, dois deles namorados (grande actuação de Brie Larson, num registo comedido em que deixa o silêncio e a angústia "falarem" por ela) e também com um passado conturbado. Em termos narrativos, o foco é na sua relação e no seu envolvimento com dois adolescentes em particular (destaque para a excelência do desabafo metafórico através do rap no caso do rapaz e do conto/narrativa no caso da rapariga).

 













Ritmo retraído e extremamente envolvente, câmara irrequieta e intimista. Sabe a poesia... Os acontecimentos dramáticos nunca parecem forçados ou manipuladores. Com o auxílio de um minimalismo sonoro e de performances convincentes, o equilíbrio entre tristeza e humor é pleno, genuíno. O circular final em slow motion é perfeito, capturando o ambiente etéreo proveniente das conexões interpessoais no centro de acolhimento, um lugar onde a dor não é só almofadada. Aí, essa dor aprende a ser adulta, a partilhar-se com os outros, com a dos outros. 

O rato acolhedor pariu uma montanha comovente... Os meus olhos estão em sofrimento. Entre as horas que não durmo nas vésperas de exames e beldades como esta... Conhecendo-me, de 2013 só Her me poderá causar maior impacto.