terça-feira, 14 de março de 2017

Super-Pouco (Dêem-me Um Pouco De Atenção, Por Favor, Se Faz Favor)

Super-Pouco (Dêem-me Um Pouco De Atenção, Por Favor, Se Faz Favor)

Sou sou, sou a puta de um génio capado
Quando é para queimar pontes e ficar a arder
Afogado nos cadernos do meu subterrâneo
Nada sem capa dura a esgotar d’escrever
O vosso herói já ok num ko de espontâneo

Chamas chamas, abram valas para o rapaz metáfora
Lástima andante com pernas de fazer de conta que o são
Qual crise desistencial, o meu querer querer em diáfora
Tão meta por cruzar a paixão por ter neste gelo diário
Ao me convencer delírio de desígnio divino em catáfora...

Porque ser não sei se sou, a hipocondria ou o visionário  
Nesta cidade de burros boémios mais burros do que eu
Quando bêbado na varanda que cai e o nariz mobiliário
Merda Parkinson merda, o Doutor Internet em apogeu
Sim setenta só se p'las costas, o dom a Geração deserda

Estereótipos pra sanidade, Lois Lane, a minha onde?
(Porra, o gás não sei se ligado na cozinha que explode)
Universo indiferente, concede-me a heroína defronte
(Melhor correr a casa ou a prisão negligente me fode
Mas dá-me a donzela em perigo do apartamento em redor)
Como juro, à espera só de um -herói e o meu super- eclode.

No bueno ser smoking vazio do amanhecer obrigatório
Desertar ao supersuperego na próxima cabine telefónica
Onde rasgo o fato e, BOLAS, estou com elas no observatório
De todos vidrados (Socorro!) na minha micro nudez cónica 
Bela bosta trancado e ninguém atende as chamadas que queria fazer
Se tivesse mãos para salvar o dia e reféns mijados para crescer...

A minha senhora pila medida à grandeza de depois libertar
O meu estado civil: patético no vosso suplicante couro inferior    
(Porque Francisco já sabes, a inveja temporal e a tua obra a voar
Pela Unicórniolândia, e olha tira-me deste poema, oh ESCRITOR!)
Desculpem retomando juro até... que bom senso já tentei
Apontar uma arma à cabeça donde nunca paladino sairei.

Tau tau...tologia e as veias correm-me no tédio do cu acima
Espancado em verborreia e quantos anos passam-me no prédio
Abaixo onde ruo cave que já não sai à rua daninha que rima
Comigo quanto mais velho mais como este mundo intermédio
De quem não sente a cinza metálica de sermos só o braille dos ricos
Porque ser escuso-me ser, alheio mérito nepotista de ultraje vestido.

Mafarricos dane-se, tenho os pulsos a saltar à corda no pescoço
Possuído por traças carcomendo-me o fígado pelo respiradouro
Da mansarda em que ficheiro secreto podia ser o ogre almoço
Vomitado só de me verem a acne dióptrica neste muito suadouro
A que chamo rosto putativo de tudo ao nem monologar vexado:
Coimbra, monstra-me até aos ossos inexistentes do meu ego quebrado!

E então chegamos a isto, sem chegar pra slogan de gente triste
Eu quando abominável homem do gelo já vítima de vida prolongada
A sonhar com clorofórmio pra dormir esta noite s'empatia em riste
Eu qual atropelamento duma ova pela ambulância não chamada,
Chacha teorética pra velhinha hipotética a definhar na sarjeta da estrada
Logo ao largo onde a importância me ergueu uma estátua de borracha.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Adoração

Adoração

Porque tu tinhas bilhetes, eram dois à cintura da vila
Perguntas-me se sexta vou, responde-te o rubor que estou
Cintila até à noite camaleão dos teus motivos e do meu futuro
Porque escuridão era a cor d’Agosto em fim chegar inseguro
À tua porta, deus, eras moldura e o mundano brotou...

Diferente com os pomares do teu vestido a desesperarem
Por abertos serem no tacto da máquina inversa de to fiar
Por colhidos serem na brisa demiurga da via em frente
Enquanto hesitavas as mãos dadas p’ra feira popular
E as tuas sabrinas me caminhavam nos olhos lentamente.
 
Oh forma das coisas por vir, não sabia díspar o nosso silêncio
Eu do caos ao cosmos entre as hortas dum bairro moderno
Tu do cosmos ao caos em tua mente algures fora de campo
Inverno nocturno estavas, vida do interior sem verde grampo 
Nos ramos dos pintores de casas vermelhas onde eu crescia externo.
 
Sorrias pouco na recta plana de m’encenares o centro do mundo
Só periferia tua nesse prado longo a desligar luzes escuras
Porque technicolor era o tom das tuas lojas de canela ao fundo 
Como grainhas por desvelar eram as sardas pedintes de partituras 
P’ra te tocar na face iluminada, ancas em requebro de violino fecundo.
 
Porque atracção já não eu, Ícaro do tamanho do lugar onde estás
Escapavas-te na terra menos pequena deste parque de diversões
E o teu abandono acho que fraco numa mera lágrima incapaz
D’existir fora nas órbitas sem monstros rotativos de estações
Polvos e carrosséis que espelhassem a cidade onde viverás
 
Catedral loira doutrem, escolhias-me as palavras da roda gigante
Proximidade eminente nas cabines verdes de arabescos beges 
A nossa achava eu quando as pernas se chegavam no alto instante 
De doce dizeres: “Desculpa, isto mudou, é daquilo que não reges...” 
Caía-me tudo adolescente pelo transe mais baixo mas flamante...
 
Porque segundos bastaram p’ro romance arder no firmamento
Vermelho fatiado, místico acesso de frutose me oferecias tu 
Como mercúrio para o inferno, havia explosões no céu do momento
Nosso deslindava eu, os pontos negros encantados do fim em baú
Aberto como sementes estelares do nosso Egipto em desvanecimento
 
Porque autopsiavas os adorados gumes nessa polpa do miradouro
Descascado túmulo nosso, vejo-te no restaurante de melancia aérea 
Para sempre quando voltar aqui, nós rei e rainha da idade d’ouro
Subterrânea como o sangue biográfico da tua silente Veneza venérea 
Porque eu jorrava e não falava, a cena preferida do Verão vindouro.