quinta-feira, 16 de maio de 2013

Tudo: Eu (Ou Seja, Nada)

Um dos últimos posts do blog tem como título parcial "Desabafo Que Nem Precisava De Desabafar". O que estou prestes a postar sai de mim na condição contrária e é o resultado de um primeiro ano de ensino superior que está em vias de encerrar, das conclusões brotantes desde Dezembro de 2012. Preciso muito de me extrair de mim, dominante que está esta sensação que me subtraio de tudo e todos. Vejo-me preso ao que sou e nas muitas vezes em que reverto o relógio, compreendo cada vez mais a imutabilidade do "eu", como tudo, desde sempre, me tem encaminhado numa só direcção: uma solidão estrangeira em todo o lado. Como uma droga, esgoto-me no amor pelas suas premissas. Quero a fatalidade deste romantismo, partir dela para a quebrar mais tarde num final cinematográfico.

À diária corda na garganta de ser um fantasma, de só eu perceber a minha consciência, de só importar para o espelho, entro no quarto, escrevo as opressões e lanço-as por esta janela. Quando a única solução que sabes não resultar é a mesma em que insistes em círculos... História da minha vida! Então, tento pela liberdade da palavra ser algo mais belo e não o solo gélido que me percorre dos pés à cabeça. Colocar o ego no centro e fitar o lago é a minha fórmula única de comemorar a existência. Não sou sequer o apêndice de outra alma e só nas letras tenho este palco subterrâneo e silencioso de fazer soar um som. Distante da superfície, mas com uma despensa de esperança de um reflexo exterior me ouvir. Vivo na mesma página-questionário: poderá o meu eco entrelaçar-se ao grito de outro sem interesses corruptos, sem contextos facilitadores, sem tempos efémeros (como se não bastasse o pouco que temos)?

Vou tentar resumir os conflitos internos e coisas do momento por temas, ainda que todos se toquem e se unam no que sou, ou melhor, na minha ideia do que sou, no estado em que estou. De qualquer modo, sou a repressão disfarçada de pessoa. Há tanto para ser expulso e partilhado...

1. Música

Falando em formato sintético de música que me tem violado os sentidos... Uma banda sonora para o próprio post...

Beck - "Lost Cause". Sea Change é um álbum excepcional na discografia de Beck. Menos irónico e humorístico, mais sincero e carregado de tristeza do que é norma. Perfeito se estás miserável pelo fim de algum relacionamento (ou pelo acumular de absurdos, que é o meu caso), por exemplo. Esta música atinge-me tanto.

 

Paramore - "Ain't It Fun". Canção presente no novo álbum (incrivelmente eclético) da banda. Um olhar mordaz, sarcástico sobre o "rebentar da bolha" que é a vida adulta num registo energético de funk e com o uso de um coro gospel mais para o final. A letra é simples. Não obstante, mais importante é a paixão com que é vocalizada (a Hayley Williams é de longe a artista musical do sexo feminino que mais aprecio): "Ain't it fun / Living in the real world / Ain't it good / Being all alone / Ain't it good to be on your own / Ain't it fun you can't count on no one..." Também me questiono sobre o que fazer agora que "o mundo deixou de orbitar à minha volta"... Uma eventual razão para me mover é tão obscura...



Big Star - "Thirteen". Um sereno clássico dos anos 70 que captura a inocência perfeita do que é ser um adolescente apaixonado. Intrinsecamente nostálgica, não é um requerimento ter memórias associadas à sua audição. Os Big Star mereciam mais sucesso do que tiveram... A melhor canção apropriada para Freaks and Geeks que nunca marcou presença em Freaks and Geeks, já agora...

 

The National - "All The Wine". Os The National são a banda mais importante dos meus últimos 9 meses, uma paixão tardia que não resultou há anos atrás. Cresci e compreendo melhor a estética melancólica da banda. Matt Berninger é um "liricista" fantástico. Letras complexas, sombrias e todavia, de fácil relação para um jovem. A solidão citadina, a desilusão da idade adulta, ansiedade social, estados depressivos... Esta música ( do álbum Alligator) é invulgar já que é positiva, quase uma proclamação de poder megalómana ("I'm a festival, I'm a parade") e tem uma ambiência de rock de estádio reminiscente dos U2. Sair à rua com ela nos ouvidos corresponde a uma sensação de grandeza indescritível. O novo álbum (Trouble Will Find Me) arrisca-se a ser o meu favorito do ano.



Daft Punk - "Something About Us". O facto de esta canção me atingir fundamenta-se em dois grandes motivos: o crescente interesse por música electrónica (numa invasão liderada por M83) e a associação ao Lost In Translation (começo a dar por certo que é o filme da minha vida, inigualável). Minimalista na letra e no som, podia de facto integrar-na banda sonora sem dificuldade. Preciso de ouvir o novo álbum...

 

Goo Goo Dolls - "Slide". Não sou grande fã da banda para lá de Dizzy Up The Girl, um dos melhores álbuns de pop rock do final dos anos 90 (para mim um oceano de memórias de infância). "Slide" é tudo o que mais gosto encapsulado em 3m e 30s. Um som polido, energético e gritante de emoção. "What you feel is what you are / And what you are is beautiful" são versos que me causam arrepios. Tanta exaltação e entusiasmo... Apelam ao meu lado melhor de adolescente vivo e dinâmico.



Dream Theater - "Solitary Shell". Não estou muito familiarizado com os Dream Theater nem com música progressiva no geral. Sei que se destacam pelo virtuosismo técnico e pela criatividade, à semelhança do género no geral... Ficam para explorar no Verão... Dito isso, a "Solitary Shell" faz parte de um álbum conceptual (Six Degrees Of Inner Turbulence) que lida com vários tipos de contenda humana. O segundo disco resume-se a uma canção de 42 minutos sobre transtornos mentais dividida em várias partes. Esta é uma delas... É a letra que me atrai, podia ser sobre mim. Acompanha a vida de uma pessoa isolada e alienada da infância à idade adulta: "As a boy he was considered somewhat odd / Kept to himself most of the time / He would daydream in and out of his own world / But in every other way he was fine"; "As a man he was a danger to himself / Fearful and sad most of the time / He was drifting in and out of sanity / But in every other way he was fine".

 


2. Inutilidade / Amizade
Os meus pais não concordarão, só eles. Nem devia ser de outra forma. Uma excepção por ligação familiar, a única pela qual nem se precisa de fazer nada. Haverá quem nem nisso se pode sustentar, o que é ainda pior, claro. No entanto, não há qualquer contacto interior, nem me perturba que não haja, pois não tem de ser uma relação de amizade. Não advém de conexão, de partilha de intimidade, problemas, anseios, felicidades, sonhos, gostos, etc. Também são os únicos cujo mal me afecta emocionalmente (uma preocupação que pela vivência em dimensões diferentes não é regular nem explícita). Funciono muito numa onda de me preocupar com quem dá sinais fortes de se preocupar comigo... Nesta fase, prefiro um ambiente de total independência, contudo. Estou melhor longe de casa e de uma localidade pequena, desprovida de oportunidades e movimento.
 
É um combate diário este sentimento de não servir para nada. Há quem tenha a sorte de não precisar de outros para conferir sentido à vida, não é o meu caso (eu por mim sou uma beata). É frustrante porque este pathos está a tornar-se no tamanho do meu tempo. Posso escapar quando me envolvo em algo, quando me empolgo com ideias que me vêm à cabeça... Somente isso. Todos os dias acabo por remoer o assunto. Todos os meus maiores sonhos envolvem contacto profundo, honesto e permanente com outras pessoas. Seja pelo relacionamento (algo que devia ser atingível e comigo nunca é) ou por uma segunda via (um plano B que advém do flutuar que são as relações na minha experiência): a escrita, ou seja, mais pelo que crio do que por mim intrinsecamente. Se estou condenado a ser um deserto, a única coisa que me pode revigorar é a criação de algo que não o seja. A afirmação do "eu" por via indirecta. De resto, quase todo o tipo de acção se resume à (f)utilidade, a trabalho de formiga (por mais importante que seja), de servir os interesses de privados ou da sociedade. Não num nível de intimidade, que é tudo o que me diz alguma coisa... Sou alérgico à negação da primeira pessoa do singular.

Por breves momentos no 12º (1º período) acreditei que tinha encontrado pessoas que me tomavam como uma parte do seu universo. Havia motivos para o pensar, tendo em conta que estavam mais comigo do que com outros ou que os encontros passavam por vezes do contexto comum chamado escola. Aos poucos tudo foi ruindo. Pensava eu, ingénuo, ser alguma prioridade, ainda para mais quando num caso o relacionamento ia ao âmago do ser... Até foi excepcional no sentido de perdurar até há pouco tempo, mas quando uma pessoa é capaz de te convidar para uma conversa e nela mesma afirma precisamente que se está a lixar para ti... Meu Deus! Expliquem-me o ser humano! 

Hoje sinto repulsa (e só pretendo distância) dos poucos a que pude chamar "amigos" em 19 anos de vida. Estiveram sempre entre aspas. No sentido contrário, tenho em boa nota muitos daqueles com que me fui cruzando, sem grande proximidade, ao longo dos anos. Colegas de turma, professores, pessoas que conheci no futebol...
Para mim, amizade ou é eterna ou o termo nunca foi o adequado. Nem sou "agarrado", no sentido que passo bastante tempo sozinho e aprecio a solitude. Só espero que exista sinceridade, prioridade recíproca, comunicação que não se resuma a conversa fiada (como eu a detesto!)... Um contacto constante que surge por naturalidade. Não vejo como é que pessoas que não comunicam durante várias semanas podem ser amigas... A não ser pelo contentamento que parece existir por vulgarizações...

É muito por isto que estou cansado da humanidade. Não espero perfeição, não peço mais do que aquilo que referi. Se, com frequência, passo tempo com alguém é porque gosto da pessoa, se gosto dela só lhe peço o que escrevi... Quero ser um dos protagonistas de alguém, tal como quero fazer de alguém meu protagonista. Antes de se chegar a esse ponto, percebo a fase do conhecimento, do contexto (e adoro conversar, pode ser algo tão enriquecedor). Se nunca passa disso e se dá motivos para pensar o oposto, é uma relação podre, feia. Pelo menos eu não tenho por hábito ser presença habitual na vida de alguém que me é indiferente por dentro. Mas há quem consiga ser "monstro" o suficiente para estar com outros de forma constante só para evitar a companhia a solo da própria consciência...

Para baixo da amizade, só retiro lógica do relacionamento assente na troca de ideias. Impressões sobre a condição humana, política, arte, aulas ou mesmo algo menos importante... Sempre odiei rumores, o bater na mesma tecla da bebedeira de ontem à noite (epítome da conversa fiada)...

Este tema é um clássico aqui no blog, mas também não tenho a ilusão de ser o único que quer algo sincero e se sente incompreendido. A diferença é que a maior parte das pessoas aceita os problemas que assinalei e prefere ter uma sombra de amizade, a mim esses obstáculos repugnam-me e acabo por me isolar. Prefiro a dormência do nada à frustração do mais ou menos.

Exausto e preso a uma réstia de esperança indissociável ao ser humano. Não acredito que isto se vá resolver e, em concomitância, uma parte de mim, no canto de um quarto vazio, contradiz-me. Dói estar agarrado a um fio tão ténue. Acomodava-me não ter qualquer expectativa (ou talvez não e isso tornasse a vida um desespero entediante), porém não é assim...

A realidade é que estou "fodido", morto! Já estou na faculdade e até ao dia de hoje, os meus momentos com outros não passaram de fogachos. Grande parte das pessoas já têm uma base de relacionamentos importantes fixa, outros começaram a construi-la no início do ensino superior. É óbvio que esses indivíduos, mesmo estando abertos a novidades, pouco se importam com desconhecidos (e é impossível dedicar tempo a muitos, se queres tratar os mais importantes como merecem). Depois, ainda pior, as pessoas com que, por norma, me enquadro e identifico, mais introvertidas, são invisíveis (tal como eu).

Posso queixar-me da realidade envolvente e é um facto que poucas vezes foi a ideal para mim. Pouco importa, o problema é meu. Uma adolescência inteira de insignificância e a culpa é minha, o fatalismo de ser quem sou, de reagir mal aos contratempos, de não me conseguir expandir.

Que saudade atemporal de estar conectado a um número reduzido de seres humanos em que mais importante do que o predicado em conjunto, é o simples facto de estar com eles... Num plano mais realístico, os momentos de humor que antes caracterizavam o meu quotidiano são agora exíguos.

Há um buraco tão grande entre o que sinto/penso/sou e o que faço. Há tanta paixão (ainda que agora desvanecente pela falta de estímulos exteriores) por detrás desta apatia. Pelo menos gosto de acreditar que sou mais do que a inércia avassaladora, esta aparência de quem se está a cagar para tudo e todos...

Porque é que uma pessoa como eu tem o presente tão gratificante de ter vida (começo a pensar que so é de facto um presente quando bem sucedida), de poder estudar, de ter boas ideias, de até ter pessoas que se vão preocupando consigo se é incapaz de tomar partido disso? Qualquer um no meu lugar faria melhor do que eu.
Gosto de mim, juro que gosto e durante bastante tempo não o pude afirmar. Aprecio as premissas, como referi antes. Sinto-me um acidente de viação ou o resultado de um, porém. Não estar vivo não mudava nada...

E já nem avisto isso num olhar melodramático. Sou sensível, não da mesma maneira que era no secundário. Estou a ficar seco, a perder a melancolia, o contentamento suave de estar triste. Em 2013, aliás, tem-me preocupado a falta de preocupação mais do que a preocupação per se.
Só para terminar, eu bem gostava de me preocupar com as contrariedades dos outros, não conhecer e não ter laços de empatia com esses outros é que não ajuda em nada...








 













3. Amor / Paixão

Este tópico tem menos que se lhe diga à semelhança dos que seguem. É, em particular, estapafúrdio, visto que se a amizade está a uma ponte queimada de distância, o amor está a duas. Só tem algum fundamento porque também vou falar de paixão... Coloco a diferença fundamental entre os dois termos no facto de amor ser eterno (mesmo que um eventual relacionamento dessa natureza tenha um fim) e a paixão ser um fogo a prazo se não se metamorfosear no primeiro conceito...

Tenho tido sonhos recorrentes com uma pessoa, é sobretudo presença regular no subconsciente e vivo com outra, consciente, na cabeça. Ambas do secundário... Ora o que isto demonstra é o estado miserável em que me encontro desde há muito, já que a comunicação com as duas foi quase inexistente. É RIDÍCULO oferecer o trono dos sentimentos a alguém que mal deu pela minha presença. Serei um flash nessas vidas e elas, em oposição, são um mundo na minha. Um mundo que nunca escolhi...

Ainda para mais quando a rainha subconsciente, cuja paixão me leva de volta a Março/Abril de 2011, é o ideal feminino que transponho num pedestal (inconsciente) em termos de escrita. Edifica-se na melancolia, na minha versão feminina pré-faculdade. A verdade é que essa pessoa nem sequer é nada disso pelo que conheço (superficialmente dela). Projectei no escuro a minha avidez, vi num corpo o portador de um sonho. Insisto em associá-lo a uma mentira. Talvez por ser o sentimento mais poderoso que alguma vez senti por alguém, o meu subconsciente catalogou-a como símbolo do meu maior desejo: conexão. Temo que esta ilusão seja tudo aquilo a que posso almejar. E magoa relembrar tantos instantes exactos de paixão fantasma e solitária.

Pior: se estiver a falar de algo consumado a nível amoroso tenho que viajar no tempo até a um período em que era imaturo, cego interior, sem uma gota de auto-estima, a uma altura em que o meu carácter estava em formação embrionária. Só a partir dos 17 anos me passei a sentir em definitivo como "eu". Será neste enquadramento que se explica o facto de pensar nas hipóteses de relacionamento sempre que me sinto atraído por uma rapariga (ocorre mais quando não tenho mais nada com que me preocupar) ou de ficar deprimido quando provocam em mim tal reacção. Carência e julgar que nunca estive mesmo com alguém, já que quando estive nem sequer era eu... Desperdício. Mais uma vez, história da minha vida!

Estando neste ponto, frustrado, poderei sentir algo genuíno? Se, eventualmente, alguém que considerasse atraente nutrisse algo por mim... (realidade irreal, sou invisível...) Imagine-se que eu correspondia. Como poderia saber se sentia mesmo uma verdade ou se estava a reagir com base na falta de atenção que habita o meu ego? É que perdi a capacidade de iniciativa sentimental. Necessito de fortes sinais de zelo do interlocutor. Já não surge aquela paixão ilusória e arrasadora. As semanas, os segundos em que sentimentos dessa espécie se propagaram em mim são tão sublimes e incomparáveis... Já nem o devaneio ocorre!

4. Faculdade

Em alguns dos meus posts transparecerá um certo descontentamento com o ensino em relação à questão da avaliação e de ser tratado como uma fábrica de trabalhadores por alguns. Reconheço que a minha visão do que devia ser é utópica, eu agarro-me muito no sonho. Quer dizer, acho estúpido classificarem-se alunos, ainda para mais quando o que está em causa não é mais do que a capacidade de expressão escrita e oral, de memorização ou realização de trabalhos com pouca liberdade... Óbvio que compreendo os motivos, tem de haver organização, provas de que se adquiriu conhecimento, etc.

Só queria começar por aí para explicitar que, apesar disso, a faculdade é uma bênção. Escolhi o curso que pretendia e tem me agradado, foi a decisão certa. Só aponto dois inconvenientes: um por interesse pessoal que consiste na escassez de literatura e filosofia e outro que penso ser uma falha do curso. Creio que não há nos 3 anos qualquer cadeira musical baseada na música da segunda metade do século XX / princípios do século XXI que não seja a dita erudita. Penso que seria muito conveniente compreender as ondas musicais que mais estão no nosso quotidiano. O fenómeno do psicadelismo dos anos 60, o surgimento do hip hop na década de 70, o new wave / post-punk dos anos 80, etc., etc., etc.

De resto, tenho apreciado muito as cadeiras de cinema e música. A cadeira sobre novos média tem sido excelente (a minha preferida pelas implicações psicológicas/sociológicas no presente)... Até em teatro há temáticas interessantes e eu pouco interesse tenho na área. Uma das maiores qualidades do curso é mesmo a variedade.

Mais para a frente, gostarei ainda mais, acredito, pois agora adquire-se o conhecimento exterior para depois nós mesmos fazermos uso dele. Aguardo com expectativas a cadeira de crítica cinematográfica, por exemplo...

Noutra vertente, as aulas são fundamentais para disciplinar a mente. A organização de conhecimento está feita e a informação contextualizada, só tenho de a captar e interpretá-la para mim.

Indo em contradição com o que disse acima, é o preciso facto de existir avaliação que me faz aguentar o barco. Mesmo que não devesse ser assim, tendo notas razoáveis/boas sinto que estou a fazer algo certo na minha vida. É um placebo para o ego... Espero não fazer asneira neste 2º semestre. Os meus hábitos de estudo são horríveis e doentios. Pouco faço ao longo dos meses e depois mergulho na véspera...

5. Obstáculos Interiores

Para além do que escrevi antes, que aspectos explicam a minha alienação?

-A mistura de um complexo de superioridade com um complexo de inferioridade cria uma dissonância estranha. Sinto-me mais consciente e evoluído a nível mental do que a maior parte do pessoal da minha idade; sinto-me um idiota completo em termos de sociedade, de convenções, de burocracias. Tanto por ansiedade perante a novidade como por desprezo e discordância. Não suporto multidões. Tenho a sensação que a partir de certo número, um ser humano a mais significa um aumento proporcional da estupidez e perda completa de individualidade. De qualquer modo, o que há a retirar é que sou um inepto social.

-Sou obcecado por conferir eternidade a algo. Sei que estamos condenados a morrer, embora não pense que isso signifique por certo o fim de tudo (deambulo entre o deísmo - quando estou maravilhado com a beleza do mundo e o ateísmo agnóstico - quando estou em baixo). Na minha infância tive dificuldades em lidar com isso e de anos em anos tive crises existenciais, mas não passo o quotidiano perturbado com a efemeridade (só no sentido de pensar que tenho de agir agora, porque isto não dura para sempre). Sem dar por isso, na adolescência, redireccionei essa eternidade até aos relacionamentos, porque aí não há irreversibilidade. No ano de 2013, estando vivas, saudáveis e em liberdade só por escolha as pessoas colocam numa relação um ponto final ou reticências duradouras. Daí que essa decisão me entristeça, rejeito-a. Tratam-se os ditos "amigos" como objectos descartáveis, ferramentas para alcançar um fim pessoal e egoísta, seja material ou emocional...

-Tive várias experiências novas desde o 11º/12º, no entanto continuo a ficar enclausurado nas areias movediças do medo. Sou um "pussy", é uma palavra estúpida e adequada. Forço quando é um medo calculado. Quando se trata de um desconhecido integral (e pode tratar-se de algo simples), bloqueio, fico ansioso, autoconsciente até ao fundo e adio o confronto. Custa-me deslocar-me até algum lugar para tratar de burocracia e custa-me iniciar conversações com alguém que não falou comigo primeiro (não é vergonha, é uma espécie de regra mental de não querer perturbar, de não querer que me mandem para um certo sítio, de não querer ganhar um motivo para me massacrar - pois fui eu que iniciei tudo - caso venha a ter uma relação com essa pessoa e ela acabe, tal como todas as outras até hoje). Além disso, qualquer actividade para a qual não pense ter capacidade, conhecimento, qualidade resulta em fuga. Isso é sinónimo de me limitar à escrita e ao futebol. Só aí me sinto competente e só aí tenho alguma auto-estima ligada ao mundo exterior. Rejeito as minhas fraquezas com o uso do zero...

6. Escrita / Leitura

Aqui não há grandes novidades, mas visto que é o meu foco existencial neste momento... Continuo a ser atingido por ideias nas aulas, em casa, na rua. É uma sensação muito boa, das poucas que vai animando os meus dias.
Estou mais organizado do que no passado. Depois cometo o erro de me viciar na organização e procrastinar o uso das ideias... Este Verão será importante. Se mal o aproveitar vou pedir a alguém que me dê um enxerto de porrada.

Tenho lido bastante para os meus padrões habituais. As minhas poupanças vão tendo como destino a compra de livros. Tenho mais ou menos definido o que quero ler nos próximos anos. É excelente voltar o foco para uma outra prática artística para além de cinema, TV e música, visto que a literatura tem tudo que ver comigo, há universos inteiros que podem entrar de mim e isso é fundamental para melhorar o que eu quero criar (perceber tons, mecanismos, truques, erros, opções, etc). Não pretendo ficar-me pela leitura de ficção. Áreas como a psicologia, cinema ou música estão no topo dos gostos também... Pena que em termos de poesia esteja a ser complicado descobrir uma "vibe" ideal, uma estética que me penetre, para lá dos nomes mais célebres.

Do que li este ano tenho de destacar três obras:

-Looking For Alaska (John Green): Um hino à adolescência, às novas experiências, ao crescimento junto de outros, mas não uma abordagem superficial e lamechas como muitas são. Vários momentos de reflexão sobre a incerteza, a morte, a religião...

-Noites Brancas (Fiódor Dostoiévski): Obra de estética romântica sobre um sonhador que exaspera por amor na solidão de São Petersburgo. Adoro o modo como o cenário é tão psicológico, tão conectado aos sentimentos do protagonista. Ler este livro foi ler-me a mim no futuro e nas palavras de um génio, de um mestre. Grande expectativa para ler Crime e Castigo este Verão, consciente que será totalmente diferente de Noites Brancas, claro.

 -A Morte De Ivan Illitch (Lev Tolstoi): Uma morte progressiva na primeira pessoa, uma vida a prazo, a dor de saber que os outros, mesmo tendo compaixão, têm em si o desejo de nos ver partir pelo sofrimento e confronto com o fim que neles causamos. As consequências de uma existência centrada no materialismo e sem grandes paixões. Esta citação de Nabokov é perfeita: "Ivan viveu uma vida má e como uma vida má não é mais do que a morte da alma, Ivan viveu uma morte viva; e como depois da morte está a luz viva de Deus, Ivan morreu numa nova vida - a Vida com V maiúsculo." Negro ao ponto de deixar um nó na garganta...

É uma pena ter saltado a leitura na adolescência. Eu que na infância tive tanto contacto com livros, fui educado para ler... Há uma nostalgia gritante ao rever livros desses tempos, como se as ilustrações tivessem ficado fixas nas traseiras da memória todo este tempo.

7. Futebol / Benfica

A partir de Fevereiro/Março comecei a sentir uma saudade imensa do futebol de competição. Não era de esperar, andava até um pouco exausto. Sendo mais explícito, vontade de poder ter mais 4 bons anos (os restantes, sempre que fui de 1º ano de dada camada, são para esquecer), de sentir que podia contribuir tanto para um bem maior do que eu: uma equipa. Dizer que jogar futebol é das coisas mais importantes que fiz na minha vida é um dado óbvio. Pouco bate a simples sensação de me julgar capaz em campo ou do esforço transcendente em momentos de adversidade colectiva. Tudo perfeito quando as coisas eram assim e em 4 épocas foi assim muitas vezes. Quem me dera que não tivesse de terminar tão cedo... É secundário que tenha sido uma jornada em ioiô...

Estou-me a aperceber da relevância de ter uma actividade que passe pelo corpo, pelo exercício físico. Não jogar só salienta a minha difusão entre mente e corpo, retira valor e motivação face ao mundo exterior. Era algo que todas as semanas me oferecia um lugar para agir e objectivos palpáveis.

Mudei da infância até agora em termos de gosto por seguir o mundo do futebol (um aparte: é interessante que seja a única actividade em que me identifico com a cultura portuguesa). Sou honesto, hoje tenho pouco interesse em acompanhar qualquer equipa que não seja o Benfica (é um caso à parte; talvez o meu único interesse irracional). Fascina-me quase em exclusivo o mundo da arte. No que diz respeito ao acto de jogar, aí nada mudou. Sou uma criança feliz quando precisam de mim e quando acredito em mim. 

Neste encadeamento de nostalgia, espero que no Verão continue a contar com as noites no polidesportivo. É um hábito de há tantos períodos estivais. Não quero mesmo perdê-lo. Enfim, é o valor inefável dos grandes pequenos momentos...

Na senda de exercício físico, tenho corrido com alguma regularidade e nada, mas nada do que faço durante as semanas se compara à satisfação soberba que correr provoca em mim. Sentir vida, esforço, ar puro e o relaxamento posterior. É nesses instantes seguintes que a paz invade e tudo está bem, a beleza é tudo. É ainda um auxílio na regularização do horário de sono que eu tenho por hábito desregular e que, dá-me a entender, está associado a um estado de mau-humor com o mundo. O jejum de futebol também leva à falta de ritmo nas outras tarefas diárias. O preenchimento do horário semanal era um auxílio a uma maior rapidez de trabalho. Produzo mais sob pressão.

Umas palavras acerca da temporada do Benfica. Uma desilusão em última análise, mas penso que Jorge Jesus, por muitos defeitos que tenha, acabou por provar que tem vindo a disfarçar os problemas da estrutura ao longo destes anos. Inventou um onze e soluções para o banco depois da destruição do meio-campo em Agosto de 2012.

A qualificação para a final de uma competição europeia foi a realização de um sonho de criança. Há 10 anos não acreditaria se me dissessem que iria ocorrer tão cedo. Foi o momento mais emocionante da minha vida enquanto benfiquista. Uma pena a final perdida.

Não me vou debater muito quanto ao campeonato, só referir que o Benfica pode muito bem ter caído num estado de stress pós-traumático. Uma eventual saída de Jorge Jesus (não tenho opinião definida; só não continuará se não quiser) tem de ser colmatada com alguém de créditos firmados. É uma fase delicada, não podem haver retrocessos para os tempos de Quique, Fernando Santos ou Koeman. Treinadores portugueses que dão garantias? Mourinho e Villas-Boas. Alvos irrealistas. Terá de ser um nome com palmarés e devidamente acompanhado de adjuntos que o informem do futebol português.

E pronto, vençam a Taça de Portugal. Saberá a pouco, tendo o céu estado tão perto. Este twist ending está ser trágico de mais para não ser ficção. Pudesse eu desligar-me do Benfica. É impossível...


8. Planos / Futuro

Não queria que se resumisse a mais um afastamento do mundo exterior. O meu Verão vai ser isso pela enésima vez. Crescimento mental induzido pelo isolamento e pela experienciação de arte.

Defini uma lista (sou meio obcecado em numerizar, fazer rankings...) de filmes, documentários, séries que preciso de ver no sentido de explorar o subconsciente e a memoria/amnésia, sobretudo. Basta juntar a leitura, a escrita, o futebol e corridas. Nada mais. Tudo o que farei é a repetição do passado. Espero que a solitude sufoque a solidão. Certo é que sairei das férias demasiado como eu e mais estranho face ao mundo, o habitual.

Há 12 meses, o futuro era incerto. Atraía-me essa ideia de não fazer a mínima ideia do que iria suceder e a entrada no ensino superior era mais que um quarto escuro, era um armazém. Entretanto ligaram-se as luzes e percebi que estou confinado a um cubículo.

Engraçado que agora vou tomando consciência que desde criança me direccionei em linha quase recta para o nada. A maior parte das minhas memórias mais saudosas são digitais: envolvem televisão, videojogos filmes, música... Ou então apenas ambiências, tons sem vidas. Nada de mal com isso, não fossem as memórias com outras pessoas tão raras. Com uma ou outra excepção, fui sempre um grão de areia perdido. Não é de estranhar que enquanto criança brincasse sozinho e com a minha imaginação.

Começo a visualizar o futuro em visão de túnel e o que tenho no horizonte não é nada agradável. Consigo ver-me daqui a 10 anos (se estiver a respirar). Um tipo com algum conhecimento teórico, "book smart" e só, como sempre. No outro espectro, as pessoas com quem cresci a viajarem, a casarem-se, a terem filhos, coisas do género (não que eu tenha os dois últimos exemplos como grandes sonhos). Enquadrados no mundo, capazes de coisas como planeamento financeiro ou tratamento de funerais. Eu até em "funcionar" num emprego (caso consiga ter um) terei dificuldades.

Serei uma formiga esmagada. Vou ser os meus sonhos de adolescente, vou ser os meus 18 anos destruídos pelo tempo, por mim, pelas minhas fraquezas, por nunca ter retirado o melhor proveito do meu potencial, por me ter afastado de tudo e todos. Vou ser os lamentos num bar, mas não os vais ver. Estão dentro. Está sempre tudo dentro. Vivo duas dimensões inconciliáveis. Vou ser o casulo a reverter em larva e a refugiar-se no passado: o meu novo futuro. O não-presente repleto de apartamentos numa rua que se estende. Com cada edifício cada vez mais longe, na senda da amplitude crescente entre o nada que sou e os momentos em que pude ser tudo. Sim, vou ser o que quis ser. Sempre. Já pressinto as pernas sentadas no banque do parque,  à espera que morra a vida que resta. Encontraremo-nos por lá, onde a árvore conhece o prédio... Quando o insecto exturque as asas do ser aspirante a humano. Também vais ser comércio.

9. Tópico Número Nove

No tópico número nove vou focar-me no que o título do tópico indica e o que o título do tópico indica não é nada, portanto não me vou focar em nada. 

Só quero dizer que se o meu fatalismo é a solidão e a insignificância, que possa ao menos num futuro próximo envolver-me em alguma actividade estimulante. Isso tornava tudo mais aceitável, desde que seja algo em que o meu contributo faça alguma diferença.

É um alívio expulsar estes monstros de dentro de mim. Repito o que escrevi no Lado Distorcido há dois anos: é como preparar a cama para um longo e descansado período de sono. A internet é uma almofada reconfortante. Agora posso calar as letras modo desabafo durante semanas!

P.S. Para todos os efeitos é relevante apontar que este ano, apesar do odor a vácuo, consegue ser bem melhor do que o meu 10º ano - primeiros tempos de secundário. Lá está, pelo motivo de me compreender, gostar de mim, etc.

11 comentários:

  1. Olá amigo (e é assim que me consideras). Já há algum tempo que não lia os teus textos de qualidade. Acabei por deparar-me com uma evidência, que sabia te iria acontecer: tens saudades da bola. Claro. Tantos anos.... Mas é bom que te lembres que saíste pelo teu próprio pé. Ninguém te empurrou. Por mim, tinhas estado até ao fim. Não aconteceu, paciência. Olhar em frente. E saberes que se precisares, cá estou!

    Mister

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  2. Falta de o poder fazer em certas condições que a partir deste ano não voltam a repetir-se.

    Não sinto saudades de todas as épocas, nem iria sentir desta...

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  3. Compreendo. Apesar de tudo, sabes que sempre te apoiei. É natural que sem tempo para treinares te sentisses menos capaz. Mas nunca pus obstáculos a que estivesses.... Sei que tiveste época óptimas, outras nem tanto. Mas comigo ( e exceptuando esta última), foram sempre boas. Boa sorte!

    Mister

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  4. "Wither", dos Dream Theater é uma das minhas favoritas. Eles fazem boa música.
    A amizade é um conceito relativo, nem toda a gente vê a amizade como tu. Isto é pano para muita manga.
    A tua vida és tu que constróis, não tenhas medo de ser um incomodo, tenta. Nunca sairás dos teus sonhos e fantasias se não tomares iniciativa na vida real. E não sejas tão exigente com as pessoas que te rodeiam. Nem contigo!

    Fico contente por saber que estás a gostar do curso.
    Desejo-te um óptimo Verão.
    Melissa

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  5. Hey! Há quanto tempo! :)

    A canção é "porreira, pá". Dentro da mesma onda, há Porcupine Tree. Provavelmente conheces. Estou longe de ser fã, mas a "Trains" é uma beldade. Venero-a. Tantas viagens com ela nos ouvidos... Pelo sim, pelo não: http://www.youtube.com/watch?v=ERQDxLsfrjw.

    Em relação à minha ideia de amizade, sou ditador face à sua acepção, porque acho que é algo demasiado bom e especial para ser vulgarizado como é... De qualquer modo, aí penso que não sou nada utópico.

    Também não acho que seja muito exigente com os outros e o pouco que sou é só mesmo quando sou próximo a alguém. Comigo é outra história. O problema é que fugir à exigência é aceitar o status quo, viver a vida pelo vento... Não consigo. Não posso aceitar certos defeitos. Preciso de me consertar. Não posso admitir inveja ou ciúmes (em mim), por exemplo. Não basta não exprimir essas criaturas. A ocultá-las eu sou exímio, mas eu pretendo obliterá-las.

    É uma facada no peito estar próximo dos outros quando estes parecem felizes, interligados e eu estou lá alheio ao que se está a passar. Em especial quando conheço esses outros, muito em especial quando gosto de alguém desses outros (nesse caso é insuportável)... É como se um qualquer puto ranhoso colocasse um cartaz à tua frente com as seguintes palavras: "Hahaha! Tudo o que querias ter e não tens!" E sabes que é verdade...

    Quando estou longe de tudo e todos, como no Verão, a solidão é residual. Esses tais outros que referi nem sequer existem... Estou quase sempre num estado razoável.

    Porém, por experiência própria, considero os momentos de conexão com outros seres humanos o clímax existencial. Nada se compara. São me um sonho permanente.

    Sempre que quero esse melhor, seja encontrá-lo, mantê-lo ou amplificá-lo, as coisas acabam por dar para o torto. Deparo-me com o pior e com o mesmo puto ranhoso do cartaz inundado num riso maquiavélico.

    Repetição atrás de repetição. Agora começa a surgir outro inconveniente. Parafraseando entidade x, sempre pensei que com a passagem do tempo teria mais pessoas na minha vida, agora compreendo que é o contrário. À medida que cresces/envelheces, o número de pessoas que te percebem diminui. Até que ficas tão afinado/singularizado pela tua própria experiência de vida e pela passagem do tempo que ninguém te percebe. Eu sinto que estou a entrar nesse ponto...

    Estejas onde estiveres, a fazer o que quer que seja (mesmo que estejas a praticar os teus memoráveis risos XD), tudo de bom. Desculpa lá o festival de egocentrismo (é uma pena não conhecer ninguém que também tenha um, acho-os interessantes... :/)

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    1. Desconhecia tal obra! Gostei e vou explorar o resto das suas criações :) Se estiveres numa onda de Progressive dá uma vista de olhos nos Anathema. http://www.youtube.com/watch?v=RHQagJU16Rw

      Entrando no tópico da amizade, queres um/a amigo/a, que não te falhe, perfeito/a? Arranja um cão! Eu tenho cinco e não me importaria de ter mais. Sempre que vejo um cão abandonado levo-o para casa, e se não lhe arranjar um dono responsável fico com ele. Não é à toa que já são cinco...

      Concordo que a amizade " é algo demasiado bom e especial para ser vulgarizado como é". Algo que sempre me ajudou a ultrapassar desilusões é o facto de conseguir construir paredes à minha volta, sim várias, cada uma com a sua função, que me protegem e impedem de ficar presa ao passado, claro que não esqueço. Mas escolho ignorar a dor. Não é tão simples como parece, no fundo é uma questão de não me deixar abater.

      Tens de ser perfeito? Hm? Hm?! Not gonna happen, hun, sorry to break it for ya.
      Por muito que tentes a inveja e o ciúme nunca irão desaparecer se não começares a viver a tua vida em vez de observares as que te rodeiam. Quando começares a olhar para ti positivamente o tal miúdo (que só me faz lembrar do Nelson a apontar o dedo indicador e a rir-se) irá desaparecer.
      A solidão não é má, mas para quem esteja habituado a companhia é difícil adaptar-se a ela. Sinceramente, para mim, a solidão é algo que preciso de vez em quando, para não me habituar a estar sempre acompanhada. Safety first. Mas cuidado, solidão em demasia é perigoso.
      Dou-te razão, à medida que o tempo passa, o número de pessoas a teu lado vai diminuindo. Mas nunca é tarde para se construir uma relação, continua a tentar. Decerto que alguém te notará.

      Fui aperfeiçoando as minhas gargalhadas, consigo rir-me de tantas formas diferentes que até lhe perco a conta. Pelo menos nalguma coisa evolui xD
      Tenho acompanhado o blog desde muito cedo, consigo compreender o que escreves (ou penso que compreendo, posso até interpretar tudo ao contrário), embora te ache um Drama Queen muitas vezes (não te ofendas que não é essa a intenção).

      Diz qualquer coisa se quiseres um cão, tá? É sempre bom saber que há menos um canito nas ruas a ser ignorado.

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  6. Escapou-me uma coisa, "Preciso de me consertar.", mas tu és algum objecto? Da última vez que te vi, parecias humano, a não ser que te tenhas transformado num RoboCop, e até esse tinha partes humanas.

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  7. "Queres um/a amigo/a, que não te falhe, perfeito/a? Arranja um cão!"

    Que comparação... Eu não estou à espera que um amigo seja um animal de estimação ou um objecto que possa controlar. Muito menos que alguém seja um amigo 24 horas depois de me conhecer. Só digo que é estranho a atitude do "deixar andar" que as pessoas têm. Como se estar vivo (ou ter relações interpessoais de proximidade) fosse algo banal... A ideia de que um amigo é aquele que se lembra do teu aniversário ou está lá quando estás mal (enviando mensagens de apoio por teres uma doença terminal, por exemplo) demonstra a hipocrisia vigente (muito ligada à vontade de receber semelhante atenção face à hipótese de igual infortúnio).

    Um amigo, acima de tudo, vai estando. Está lá numa segunda-feira de trabalho e banal em que nada de novo aconteceu. Está lá, seja por 5 minutos ou por 2 horas. Vai estando. Não digo todos os dias ou dia sim/dia não, mas com uma regularidade natural... Que se fodam os eventos! Não são menos ou mais importantes. Um aniversário é um dia como todos os outros.

    Não tenho de ser perfeito. Aliás, a perfeição é repelente. A maior beleza está nas coisas quebradas, mais se estas se juntam umas às outras. Transcendem-se! Recuso é criancices emocionais dentro de mim. A inveja ou o ciúme não são aceitáveis (se os outros não pensam o mesmo, percebo perfeitamente, aqui só me refiro a mim).

    Estando em contacto com os demais, é complicado não ser voyeur. Há termo de comparação e no meu caso tenho um sonho meu logo ali, nos olhos dos outros. O lado negro de viver numa sociedade de meritocracia e de competição é o pensamento existencialista. Quando falho é por culpa própria em primeiro lugar. Mesmo quando não é, a tendência é sempre a de não me perdoar por completo. Boa analogia com o tipo da série com gente amarela, já agora.

    Gosto de estar sozinho, de permanecer nem por isso… Se bem que em período de férias, resvale para a indiferença. Até Setembro chegar os outros vivem num planeta diferente do meu. Como é que um marciano pode sentir a falta de terráqueos?

    Desde há uns meses para cá, tenho procurado destruir barreiras sempre que escrevo em registo de diário. Não sou um modelo a seguir em melhorias, mas sei que revelar defeitos, traumas e frustrações é o melhor primeiro passo possível. Tento aproximar-me cada vez mais da realidade, da especificidade, expor-me tanto quanto a escrita permita.

    Em última instância, é um jogo de expectativas. Reconforta-me saber que as pessoas (em particular as conhecidas) têm livre acesso ao meu íntimo. Estes são os meus pensamentos, sentimentos e emoções. Não tenho de os despejar em ninguém, mas espero em silêncio que alguém tenha interesse neles. Só isso já me traz alguma satisfação. Quer dizer, é claríssimo que, em parte, respiro à base de atenção… Este blog também é o meu pequeno contragolpe a um mundo que vive de relações profissionais e superficiais. Quero ser um ser humano…

    Preciso de me consertar é apenas uma metáfora para “necessito de melhorar”. O facto de eu ter ficado um pouco ofendido pela expressão “drama queen” (isto não quer dizer que te culpe, que queira que te inibas em eventuais futuras intervenções) é um exemplo de algo a consertar.

    Nunca irei “adoptar” um cão antes de ter independência financeira e apenas o farei se algum dia tiver o espaço apropriado para tal. Não são tão fáceis como os gatos, que podem simplesmente andar por aí (isto quando não se vive no centro de uma cidade ou algo do género). Além disso consigo "obrigar" o meu gato a manter-se bípede durante cerca de 20 segundos só para comer/beber restos de iogurte! :D

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  8. Animais de estimação, neste caso cães, não são objectos :(
    Cada cão tem a sua própria personalidade, embora , claro, muitos comportamentos estejam sempre em todos eles. Mas diferem entre si.
    Estás a generalizar, "vontade de receber semelhante atenção face à hipótese de igual infortúnio", é verdade que a maioria pensa assim, mas prefiro acreditar que existam pessoas que apoiam simplesmente por amor. Yah, um amigo vai estando, mesmo que ande muito ocupado arranja sempre um tempinho para conviver. Nem que seja um telefonema cuja conversa não tenha pés, nem cabeça xD
    Saber que estás um ano mais velho não é caso para tanta comemoração.

    A inveja e o ciúme vêm da infelicidade, de querer algo que não se tem. Muita gente diz mal deste ou daquela, porque na verdade está em sofrimento, porque quer a felicidade que vê nos outros. Por isso, se sentes inveja ou ciúme, é um sintoma de defeito. Talvez também esteja a generalizar...

    Antes de começar a ler o teu blog, achava que detestavas estar com pessoas, a sério, pensei que só quisesses estar sózinho. Quando metiam conversa contigo respondias sempre de forma sarcástica, como se estivesses a avisar que não querias conversa.

    Desculpa a expressão Drama Queen, não devia ter-te julgado antes de me ver ao espelho.
    Há sempre lugar para melhoramentos e ajustes, reconheço o teu esforço.
    E quem não respira à base de atenção? Isto faz-me lembrar das aulas de Filosofia! xD

    Hah! Consigo fazer isso a dois dos meus cães, os outros já é outra história, um só se mexe a comida e tem de estar ao seu alcance, outro já é velho demais para brincadeiras e a outra simplesmente porque não quer.

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  9. Não estavas enganada. Em 2008/2009 eu detestava seres humanos. Demasiados contratempos emocionais, muitos por conflitos com outras pessoas. Reflectiu-se em tudo... E nem a mim me conhecia. Confusão total. Vivia numa revolta quieta. Em retrospectiva, acho que essa fase foi fundamental para crescer.
    A adolescência consegue ser linda mesma quando se assemelha a um excremento...

    Se bem que continuo a ser sarcástico. Sou assim. Estou sempre a gozar com tudo (só não aponto o dedo a ninguém que não seja eu; recorro a estereótipos, piadas impessoais, etc).

    Como realcei não tens de pedir desculpa. O erro é meu que faço equivaler qualquer termo/expressão pejorativa a "não és suficientemente bom". Para todos os efeitos, é fulcral expressar também o que se pensa de negativo sobre alguém. É só uma questão de se ser delicado. Exclusiva comunicação cor-de-rosa faz de qualquer relação uma bomba-relógio (escuta-me com atenção porque sou o professor Chibanga dos conselheiros matrimoniais).

    Gatos > Cães. Facto! ;)

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  10. Não me expliquei bem, claro que não se fala só de coisas triviais.
    Não será perigoso revelar a tua identidade como professor Chibanga?
    Poderão haver casais com sede de vingança. xD

    Só para deixar claro, eu não quis dizer nada como "não és suficientemente bom". Não te menosprezes, tá? Humildade é óptimo, mas não ultrapasses a linha que a separa da desvalorização.

    Não compares alhos com cebolas, sff! Cães e gatos são espécies totalmente diferentes. Mkay?

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