sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Espiral

Espiral

Não chamo por ti, mas tenho-te esperado, confesso. Histórias passaram-se desde que tocámos o fim em placidez e o mundo nunca mais teve a mesma voz. Os meus ossos rangem no vácuo, inertes, mais frágeis e descrentes a cada instante em que não me sussurras ao ouvido. Distantes vão aqueles singulares segundos de tirar o fôlego que trocaria por anos de sonhos e ilusões. Em vez disso, conto dias sem cor que duram uma eternidade e uma eternidade de arcos-íris que, em busca da cor certa, para ela deixei fugir... Cometido tal erro, não há no cosmos um deus indulgente que perdoe a um beijo um abrir de olhos. Eu devia ter sido levado pela corrente, cego, deixando que os sentidos remassem por mim.

Agora é impossível viver sem te abraçar uma última vez, após o fazer por uma só vez. É ridículo pensar que uma só última vez seria o suficiente! O tacto que não sofro grita e propaga decepção no meu corpo e é por aí que me presumo morto. Sou um fantasma funambulista, conquanto mais perto de um remoto céu, ainda a um passo em falso de um inferno mais fundo…

Já em suspenso na escuridão, mergulho na parte oculta do icebergue e inclusive lá se revela inútil estar em todas as cabines telefónicas do universo. Amiúde perco sono por uma chamada que nunca recebo, por um toque a que não suplico mais que som. Mas nem aí, nem na liberdade nocturna, contemplo uma estrela disfuncional num milhão. Até de noite és a imagem da saudade que eu mais quero (e de novo) sentir bem longe e até de dia, à superfície, daria a visão por uma nova memória de luz.

A verdade é que necessito de voltar a conjugar o drama e a emoção como de ar nos pulmões, a realidade é que me limito a escrever uma ode aos raros e eternos momentos mortos que para sempre viverão. Sóbrio de tanto vazio, permaneço, em desvanecimento, na expectativa de perder a cabeça ao mesmo tempo que encontro o coração de tudo, quando nem em palavras te posso definir.




E porque gosto de ser anticlimático...

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